POLEPOSITION

Não há mágica na F1

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 28-09-2024 10:00 | 324
Daniel Ricciardo, um dos pilotos mais  queridos da F1 se despede elancolicamente  sem entregar os resultados que se esperava
Daniel Ricciardo, um dos pilotos mais queridos da F1 se despede elancolicamente sem entregar os resultados que se esperava Foto: Divulgação

Max Verstappen começou forte o campeonato com cinco vitórias em 7 corridas, mas não vence desde o GP da Espanha em junho, há 8 corridas. A Red Bull começou a perder rendimento a partir do GP de Miami, simultaneamente ao avanço da McLaren que começou a crescer a partir de uma atualização que deu certo no modelo MCL38 e trouxe junto a Ferrari e a Mercedes. Os problemas de estabilidade que tiraram a Red Bull dos trilhos refletem no desempenho de Verstappen que tem tirado leite de pedras para não permitir a aproximação perigosa de Lando Norris na luta pelo Mundial de Pilotos, embora a vantagem do holandês ainda seja confortável de 52 pontos, graças à gordura acumulada no começo devastador da temporada quando as outras equipes ainda desenvolviam os seus carros. Domingo passado em Cingapura foi uma dessas apresentações de tirar o chapéu para Verstappen que terminou em 2º em uma pista que nem ele e a Red Bull acreditavam que poderiam andar bem. Mesmo assim, a diferença imposta por Lando Norris foi grande, 20s945. Na Holanda, Norris impôs 22s946 sobre o mesmo Verstappen! 

A ótima temporada de 2024 me faz lembrar da de 1991 quando Ayrton Senna venceu as quatro primeiras corridas daquele ano com a McLaren e depois perdeu terreno diante do avanço da Williams de Nigel Mansell, resultando em um tricampeonato apertado de Senna. Me faz lembrar também da temporada de 2009 escrita como um conto de fadas em que depois de anunciar uma saída repentina da F1, a Honda vendeu a estrutura da equipe simbolicamente por US$1,00 a Ross Brawn que montou a BranwGP e entregou um excelente carro para Jenson Button que venceu seis das 7 primeiras corridas, mas perdeu força no final da temporada e só venceu o campeonato pela vantagem acumulada na primeira metade do ano antes da arrancada da Red Bull de Sebastian Vettel.

Embora Norris esteja na luta e ainda restam seis corridas e três sprints - 180 pontos estão em jogo -, a seca de Verstappen merece uma reflexão: “Não existe mágica na F1”. Os melhores pilotos vão sempre vencer com os melhores carros. Quando Lewis Hamilton acumulou várias dezenas de vitórias com a Mercedes entre 2014 e 2021, algumas épicas como o GP da Inglaterra de 2020 e o de São Paulo de 2021, alguns críticos do piloto insistiam em não reconhecer o inegável talento do heptacampeão reduzindo sua capacidade ao desempenho dos bons carros da Mercedes. Pelas redes sociais eu notei que vários desses críticos se calaram quando Verstappen passou a ganhar tudo a partir de 2022 sem mencionar que suas vitórias também eram frutos da maior eficiência dos carros da Red Bull. Mas continuam tentando diminuir a capacidade de Hamilton, agora com os carros ruins da Mercedes.

Não é por aí, e Verstappen é mais um dos muitos exemplos de que não basta só o talento se não tiver um carro vencedor nas mãos. Michael Schumacher também cansou de ganhar corridas enquanto desfrutou dos melhores carros que a Ferrari lhe deu. Sebastian Vettel idem com a Red Bull de 2009 a 2013 até perceber que a equipe havia chegado ao limite e se sentir ameaçado por Daniel Ricciardo (quem diria - falo sobre Ricciardo mais abaixo) e se mandar para a Ferrari.

Essa é a realidade. Todos, como Senna, Prost, Schumacher, Vettel, Hamilton, Verstappen foram/são pilotos excepcionais, mas só é possível vencer com carros competitivos. Lando Norris e Oscar Piastri são a bola da vez porque a McLaren deu enorme salto de qualidade a partir do GP de Miami. E será sempre assim. O melhor piloto sempre vencerá, mas se tiver também o melhor carro.

DANIEL RICCIARDO
Um dos pilotos mais simpáticos e sorridentes que a F1 já teve não estará mais no grid. Daniel Ricciardo será substituído por Liam Lawson na RB, equipe satélite que pertence à Red Bull. O motivo é a falta de desempenho. Ricciardo fez sucesso na Red Bull até sentir que estava perdendo espaço para Max Verstappen e foi arriscar a sorte na Renault em 2019, depois na McLaren onde acabou sendo demitido em 2022 antes do término de seu contrato. Ganhou uma nova chance na RB na metade do ano passado, mas não entregou os resultados que eram esperados. A F1 é bela, mas também é cruel. Só simpatia e sorriso não garantem emprego. E a carreira de 257 GPs do australiano de 35 anos, dono de 3 pole positions e 8 vitórias na F1 chegou ao fim melancolicamente no GP de Cingapura no domingo passado com a volta mais rápida no giro final da corrida, tirando o ponto extra que seria de Lando Norris.