MULHERES AGRONEGÓCIO

Cafeicultoras da região participam do 9º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio

Evento realizado em São Paulo discutiu sustentabilidade, papel da mulher e desafios globais do agronegócio brasileiro
Por: Ralph Diniz | Categoria: Agricultura | 16-10-2024 02:00 | 158
Parceria com o SEBRAE possibilitou que cafeicultoras da região estivessem presentes no evento realizado na capital paulista
Parceria com o SEBRAE possibilitou que cafeicultoras da região estivessem presentes no evento realizado na capital paulista Foto: Divulgação

Nesta semana, São Paulo foi palco do 9º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio (CNMA), evento que reuniu mais de três mil pessoas e cerca de 80 palestrantes no Transamérica Expo Center. Sob o tema “Mulher Agro Brasileira: Voz para o Mundo”, o congresso buscou posicionar a mulher como peça-chave na expansão da visão global sobre o agronegócio brasileiro e na construção de uma percepção justa e sustentável do setor.

Entre as participantes estava um grupo de cafeicultoras da região, incluindo Sirlei Sanfelice, engenheira agrônoma, extensionista da Emater-MG e produtora de café de São Sebastião do Paraíso. Para Sirlei, o evento foi uma oportunidade única de compartilhar experiências e entender que os desafios enfrentados pelas mulheres no agronegócio são comuns a outras regiões e culturas. “A gente troca contatos. A gente vê que as dificuldades no meio agrário não são só para nós. A gente tem problemas climáticos, problemas de preço dos nossos produtos. A gente vê que isso acontece em todos os setores, mas agricultoras são sempre persistentes, e as cafeicultoras também não são diferentes”, afirmou, destacando a força e a resiliência feminina no setor.

Juliana Paulino, da Fazenda Nova Aliança, município de Monte Santo de Minas, que participou pela terceira vez, refletiu sobre sua experiência: “Levo para os meus negócios uma série de coisas: o principal é a força que a gente acaba pegando das outras mulheres que são capazes de transformar as suas vidas e as vidas das pessoas próximas. Pra cafeicultura, a gente está levando desta vez sobre susten-tabilidade e sobre sucessão fa-miliar, principalmente quando a gente tem filhas sucessoras. Então eu acho que é uma soma de tudo isso”, comentou Juliana, que já participou como advogada e agora como cafeicultora.

Cláudia Leite, especialista em Estratégia, Comunicação e Sustentabilidade, também esteve presente como ouvinte, destacando a importância de eventos como este para o desenvolvimento das mulheres no agronegócio. “É através de uma parceria com o Sebrae que conseguimos trazer várias mulheres da região do Sudoeste de Minas para conhecerem um pouco desse universo, se conectarem e se atualizarem com o que há de mais recente também no mundo do agronegócio”, comentou Cláudia, evidenciando o papel do evento em conectar e inspirar mulheres. Ela acrescentou: “Eu realmente espero que todas elas possam levar e inspirar e, quem sabe, mobilizar também mais mulheres para participar e receber esse tipo de conteúdo em uma próxima ocasião”.

Com mais de 50 empresas participando, o evento foi também uma plataforma para debater temas centrais como a sustentabilidade, a igualdade de gênero e a importância de ampliar a participação feminina no comércio internacional.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, um dos palestrantes, ressaltou o papel do Brasil como líder na produção sustentável de alimentos. “Produzir muito, mas com respeito ao meio ambiente, está fazendo um diferencial gigante. Muitos desses 265 novos mercados que nós abrimos nesses 20 e poucos meses é pela capacidade de produzir com sustentabilidade e rastreabilidade”, afirmou Fávaro, destacando o potencial brasileiro em conquistar mercados exigentes graças ao compromisso com a responsabilidade ambiental.

Na abertura do congresso, a mesa-redonda “Mulher Agro Brasileira: Voz para o Mundo” contou com a participação de líderes como Roberto Rodrigues, embaixador Especial da FAO para as Cooperativas, Ana Repezza, diretora de Negócios da ApexBrasil, e Silvia Massru-há, presidente da Embrapa. O debate trouxe à tona os principais desafios globais que impactam o agronegócio, como mudanças climáticas, transição energética e desigualdade social, mas também ressaltou a força do Brasil em liderar o desenvolvimento sustentável, especialmente em regiões tropicais.

Roberto Rodrigues chamou atenção para a necessidade de soluções urgentes frente ao que chamou de “quatro cavaleiros do apocalipse”: insegurança ambiental, transição energética, mudanças climáticas e desigualdade social. Segundo ele, o Brasil pode liderar uma nova era de progresso sustentável, aproveitando sua expertise em agricultura tropical para criar modelos replicáveis em outras regiões do mundo.

Além disso, Silvia Massruhá compartilhou sua experiência de 35 anos de trabalho na Embrapa e o avanço da participação feminina na empresa, que hoje atinge 40% das posições de gestão e pesquisa. “Nosso atual desafio é avançar para uma ‘agricultura multifuncional’, onde as lições aprendidas possam ser aplicadas para melhorar e inovar ainda mais”, afirmou Massruhá, que também destacou os esforços da Embrapa para desenvolver tecnologias de baixo carbono, como a soja de baixo carbono, e a importância de promover o empreendedorismo feminino no campo.

Outro ponto alto do evento foi a discussão sobre a participação das mulheres no comércio internacional. Ana Repezza, da Apex Brasil, destacou o programa “Mulheres e Negócios Internacionais”, uma iniciativa premiada internacionalmente que visa capacitar e apoiar mulheres no setor exportador. Repezza ressaltou que, embora apenas 16% das empresas exportadoras do agronegócio brasileiro sejam lideradas por mulheres, o número vem crescendo graças a políticas de incentivo e a projetos como o “Elas Exportam”, que oferece mentoria e suporte para mulheres que desejam expandir seus negócios para o mercado externo.

O evento também trouxe reflexões sobre o papel da indústria de alimentos no agronegócio, com a participação de Maria Claudia Souza, diretora Sênior de Assuntos Corporativos e Governamentais da Mondelçz Brasil, e Paulo Sousa, presidente da Cargill no Brasil. Ambos destacaram a importância de combater a desinformação e as fake news sobre o setor, que podem prejudicar a percepção do público sobre as práticas sustentáveis adotadas pelo agronegócio brasileiro.

Sirlei Sanfelice, em suas reflexões sobre o congresso, ressaltou a importância de levar as conquistas das mulheres do agronegócio para além das fronteiras do Brasil. “Nós temos que levar o que a gente faz para o mundo inteiro, e a gente entende que a mulher tem esse tom. O evento mostra que nós, mulheres, temos uma voz importante e que essa voz precisa ser ouvida globalmente”, concluiu a cafeicultora paraisense.

O CNMA reafirmou a importância da diversidade de perspectivas e da colaboração para o progresso sustentável do setor agropecuário, destacando o papel central das mulheres como líderes e agentes de mudança.