Lembra de como era o futebol antes do VAR - um mal necessário, diga-se -, quando o bandeirinha não marcava o impedimento, ou o juiz apitava o pênalti que não existiu? O recurso eletrônico veio para corrigir muitas falhas da arbitragem, assim como o desafio no vôlei. Mas na F1 há uma regra boba que só causa polêmicas e está longe de um consenso sobre os famigerados limites de pista. E nem é por falta de câmeras que registram tudo, além de inúmeros dados de telemetria dos carros, mas a interpretação dos comissários da FIA.
Claro que se um piloto cortar o caminho e levar vantagem, ou ultrapassar escandalosamente por fora do traçado, tem que ser punido. Afinal, existem regras. Mas basear em mínimos detalhes, na maioria das vezes controversos, como na disputa entre Max Verstappen e Lando Norris nas voltas finais do GP dos Estados Unidos em que o piloto da McLaren foi penalizado com 5 segundos de acréscimos em seu tempo de corrida, perdendo a 3ª posição para Verstappen, é um balde de água fria na disputa eletrizante que travaram por mais de dez voltas.
A regra, que na verdade nem é tanto uma regra e sim, um código de conduta firmado entre equipes, pilotos e comissários, diz que o carro que estiver na frente na tangente da curva, tem a preferência sobre o outro carro. Na 52ª volta da corrida de domingo, Norris, por fora, emparelhou com Verstappen que tinha alguns centímetros à frente da McLaren, mas também espalhou para fora da pista levando os dois pilotos além da linha que limita o traçado, e Norris, com mais ação, fez a ultrapassagem. Aí eu pergunto: Onde foi que Norris levou vantagem, se na verdade ele não tinha por onde ir já que o próprio Verstappen veio junto para fora do traçado?
Na minha visão, de quem acompanha a F1 desde 1978, não vejo sentido aplicar punição em uma manobra como aquela. É algo que deveria ser tratado como nos “incidentes de corrida”, quando há um acidente em que não houve culpado e, portanto, não há punição. É assim que deveria ser conduzido esse tipo de manobra e não como “vantagem duradoura”, como os comissários classificaram a ultrapassagem de Norris. O problema é que muitas vezes outras manobras até mais duvidosas e escancaradas, passam impunes. O próprio Verstappen (não desta vez em que teve uma atuação impecável na defensiva, sempre jogando dentro dos limites da regra) já fez coisas do arco da velha e nunca foi punido.
Do jeito que está, parece o exemplo lá do começo do texto, quando não havia o árbitro de vídeo e o juiz seguia o jogo quando era pênalti, ou impedimento. Só há uma saída para a F1 acabar com essas polêmicas: colocar grama, brita, pregos ou tachinhas para furar os pneus de quem sair do traçado. Os 5s aplicados em Norris foi o anticlímax de um bom GP dos Estados Unidos que teve a vitória da Ferrari com Charles Leclerc que aproveitou uma manobra semelhante à da volta 52 na largada, em que Verstappen espalhou para cima do pole position, Norris, e assumiu a ponta para caminhar para a vitória com Carlos Sainz fazendo a dobradinha da equipe italiana.
A F1 está no México para o GP da Cidade do México, no Autódromo Hermanos Rodriguez. Haviam rumores de que Sergio Pérez poderia anunciar em casa a sua aposentadoria da F1, mas o próprio Pérez disse em Austin “estarei aqui no ano que vem”, sinalizando que seu contrato com a Red Bull até 2026 será cumprido. O problema é que Liam Lawson ‘chegou chegando’ na equipe satélite da Red Bull como substituto de Daniel Ricciardo, e fez uma grande corrida nos Estados Unidos terminando em 9º depois de ter que largar de último por conta de uma punição por troca de motor. A atuação do neozelandês mereceu rasgados elogios de Christian Horner e Helmut Marko. A batata que já estava assando nas mão de Pérez pode agora resultar em um rebaixamento para a RB e a promoção de Lawson para o seu lugar na Red Bull no ano que vem. Se isso acontecer, Pérez pode agradecer que ainda estará no lucro.
Com o GP Estados Unidos que teve também a quarta corrida Sprint da temporada, vencida por Verstappen, a diferença do holandês para Norris subiu de 52 para 57 pontos. Em contrapartida, a dobradinha da Ferrari embolou o Mundial de Construtores que tem a McLaren em primeiro com 544 pontos contra 504 da Red Bull, com a Ferrari logo atrás com 496. Restam cinco corridas e esse final de temporada promete. A largada para o GP da Cidade do México será às 17h, e a próxima parada será em Interlagos na semana que vem com o GP de São Paulo.