203 ANOS PARAÍSO

UM PASSEIO PELA NOSSA HISTÓRIA

Por: Reynaldo Formaggio | Categoria: Cidades | 27-10-2024 21:12 | 212
Foto: reprodução ssparaiso.mg.gov.br

Quando, em 25 de outubro de 1821, foram doadas as terras para a construção da primeira capela em louvor a São Sebastião, o Brasil ainda era um reino, então pertencente ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. No ano seguinte, com a independência ocorrida em 7 de setembro, seria instituído o Império do Brasil e a população do país contava aproximadamente quatro milhões de habitantes (estimativa de 1820).

À esta altura, na região Sudoeste de Minas Gerais, dávamos os primeiros passos na construção do que seria a cidade de São Sebastião do Paraíso. Com duração até 15 de novembro de 1889, quando enfim foi a estabelecida a república, o Império do Brasil em seu último ano viu a tão aguardada abolição da escravatura, com a assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888. Segundo o historiador Manoel Teixeira de Souza, o Barão de Camargos, em 1876 havia 3.598 escravos em São Sebastião do Paraíso.

A capital do país em 1889, o Rio de Janeiro, era a casa do primeiro presidente da República, Marechal Deodoro da Fonseca. Após alguns interinos ocuparem o cargo de presidente de Estado em Minas Gerais, cargo equivalente ao de governador, Cesário Alvim é nomeado por Deodoro da Fonseca em 16 de junho de 1891. A cidade histórica de Ouro Preto, como capital do Estado, abrigava o governador. O prefeito ou agente executivo de São Sebastião do Paraíso era Francisco Soares Neto, da União Conservadora Republicana.

Segundo o Almanak Sul Mineiro para 1874, com dados do ano anterior, “em recenseamento realizado em 1º de agosto de 1873, a população de 72 freguesias do Sul de Minas era de 383.393 almas”. São Sebastião do Paraíso abrigava 7.616 dessas almas. O município nesta data tinha a quarta maior arrecadação fiscal de todo Sul de Minas (atrás somente de Campanha, Lavras e Pouso Alegre). O referido almanaque, já em sua nova edição para 1884, apontava que “a freguesia da cidade de São Sebastião do Paraíso, pertencente ao 12º distrito com sede em Pouso Alegre contabilizava 222 eleitores”. Em uma época que poucos podiam votar - as mulheres só garantiriam o direito em 1934 - constavam nomes conhecidos da história do município como Ananias Alves Ferreira, Antonio Francisco Soares Neto, Antonio Pimenta de Pádua, Padre Antonio Salvastano, Claudio Herculano Duarte, Clemente José de Santana, Custodio Pereira do Nascimento, Herculano Cândido de Mello e Souza, João Alves de Figueiredo Junior, João Baptista Teixeira, Joaquim Fidelis Marques, Joaquim Garcia de Figueiredo Junior, José Aureliano de Paiva Coutinho, José Cândido Pinto Ribeiro, José Custódio do Nascimento, Pedro Dutra da Silva, Pedro Pantaleão Bueno e Thomé Pimenta de Padua.

Para situar o leitor de como se encontrava o município à época da publicação do referido almanaque, nos cercamos das palavras de Bernardo Saturnino da Veiga, que visitou pessoalmente a cidade para editar a obra, guardando de São Sebastião do Paraíso, excelentes impressões:

“A ligeira notícia que damos das povoações sul-mineiras que visitamos, traz-nos constantemente ao espírito gratas lembranças do acolhimento franco e generoso com que tantos cidadãos distintos pelo merecimento próprio e raras qualidades d’alma nos receberam, penhorando e cativando nosso reconhecimento. Cada lugar nos desperta uma afeição novamente adquirida ou um amigo melhor conhecido e mais vivamente prezado, e, lembrando-o com mais especialidade na descrição da localidade em que reside, buscamos gravar na consciência a lembrança da benevolência com que nos acolheu, como um preito íntimo de gratidão e de estima. Este sentimento, que felizmente vemos renascer em nós na descrição particular de cada uma das localidades de que se ocupa este livro, aparece vivas ao ocuparmo-nos da cidade de São Sebastião do Paraíso, donde são tão agradáveis as recordações que nos dominam como animadoras as impressões que no espírito nos deixou o grande progresso em que vimos essa freguesia. A cidade de São Sebastião do Paraíso está colocada no alto de arenosa montanha, que de longe se avista formosa, formando a floresta como que uma moldura para a importante cidade que é assim envolvida de sombras, que realçam as naturais belezas que a recomendam.

(...)

São Sebastião do Paraíso já formou com Cabo Verde a comarca do Rio Jacuhy, criada pela lei n. 2773 de 8 de julho de 1876, mas pela lei n. 2378 de 25 de setembro de 1877 ficou pertencendo à comarca de Passos.

Possuía uma boa matriz esta cidade, mas, há três anos, sem que se saiba como, viu-se em uma madrugada sinais de violento incêndio no templo, que debalde foi socorrido pelo povo do lugar, que somente conseguiu salvar algumas imagens.

Na construção de uma nova e bonita igreja trabalha dedicadamente um dos melhores cidadãos da paróquia, o capitão Antonio Alves de Figueiredo, auxiliado poderosamente por seus distintos conterrâneos Joaquim José Cardoso, Joaquim Garcia de Figueiredo Junior e por todo povo da freguesia, que concorre eficaz e devotadamente para a construção das obras.  

A igreja de N. S. do Rosário serve atualmente de matriz, e à meia légua de distância, no cimo do morro do Baú, em localidade lindíssima, onde a vista alcança horizontes afastados e cheios de encanto, está se construindo uma capela à Santa Cruz, havendo no dia 3 de maio grande romaria para esse lugar.

A cidade possui mais de 300 casas, das quais cerca de 50 foram construídas nestes últimos anos; uma cadeia regular, com acomodações para 20 presos, estando o edifício situado no centro de uma bonita praça, uma banda de música e três pianos, uma aula pública para meninos com 30 alunos, uma para meninas com 20, e duas particulares para o sexo feminino frequentadas por 40 alunas.

(...)

Há falta d’agua nesta localidade, sendo, entretanto, fácil, com despesa que, quando muito, atingiria a 3:000$ abastecê-la desse líquido indispensável às necessidades da vida. A que existe, de má qualidade, e trazida de fontes ou nascentes encontradas em fundas cavas existentes nas vizinhanças da cidade e vendida a 200 rs. o pipote.

(...)

Nos limites da povoação, em meio de formosa campina, existia uma lagoa de 200 braças de extensão mais ou menos, e que era rica de peixes: - ultimamente, sem que se saiba o motivo, estão as águas dessa lagoa em progressiva diminuição.

Apesar da índole ordeira do povo do lugar, nem sempre houve ali paz e tranquilidade, perturbando o sossego público crimes de natureza diferente: - felizmente não se têm reproduzido ultimamente estes tristes sucessos, que tanta prejudicavam a boa fama desta localidade.

A freguesia que pertence à comarca eclesiástica de S. Sebastião do Paraíso, e que tem sua população consideravelmente aumentada, nenhum auxilio tem recebido dos cofres públicos nos dez anos últimos: - a assembleia provincial votou o auxílio de 2.000$ para as obras da matriz e mais nada se recebeu.

É de 100:000$ a importação anual, pagando-se 12$ por besta para transporte de cargas de Casa Branca até aqui (18 léguas).

De E. a O. tem a freguesia, cujo patrimônio é de 50 alqueires ainda não ocupado totalmente, seis léguas de extensão, começando o Sant’Anna a uma légua a E. e de N. a S. sete ½ leguas, começando a 2 ½ ao N.

O terreno da freguesia tem tanto de mato como de campo, sujeito à pouca geada e é montanhoso, passando por ele de O. para E. as serras de S. Sebastião e de Monte Santo, muito extensa.

O alqueire de cultura custa 40$ e 50$, de campo 10$ e 20$. Não são abundantes as madeiras de construção, encontrando-se, todavia, bálsamo, jacarandá, peroba, cedro, etc., não havendo pinho. A dúzia de tábuas de peroba custa 10$, de cedro e óleo 24$ 000.

A cultura mais usada é a do café, havendo na freguesia cerca de um milhão de pés, em geral novos, mas que já dão para exportar por ano 40.000 arrobas. Planta-se também cana, algodão e pouco fumo, havendo alguns criadores que exportam gado e porcos em pequena quantidade.

Mata-se uma rez por semana, vendendo-se a arroba de carne sem osso por 5$, e sendo, como na quase totalidade de nossas povoações, mais usada a carne de porco. Um frango custa 200 réis, ovos a 160 a dúzia, leite a 80 réis a garrafa; sal de 6$ a 8$ a saca grande, açúcar a 6$ a arroba, carro de lenha ou de pedra a 4$; cal, de Passos (do Córrego do Ferro, hoje Itaú) a cinco léguas daqui, a 2$ o alqueire; aluguel de casas a 5$, 10$ e 15$ mensais, pedreiros e carpinteiros a 3$ e 4$ por dia, trabalhador de roça 800 e 1$000.

Há uma linha de correio daqui para Mococa, passando por Monte Santo de 5 em 5 dias, e outra para Santa Rita de Cássia de 10 em 10. As notícias da corte chegam com 5 dias de demora.

(...)

A cidade dista dos Três Corações do Rio Verde 40 léguas, da Campanha 42, de Ouro Preto 87 e da corte 100.

A freguesia pertence ao 12º distrito eleitoral”.

Em 1890, compreendendo os distritos de São Tomás de Aquino, São João Batista das Posses (hoje Itamogi), Pratinha, Garimpo das Canoas (Ibiraci) e Peixotos (hoje pertencente à Capetinga), o município de São Sebastião do Paraíso perfazia uma população total de 15.194 habitantes. Apenas no distrito sede, Paraíso contabilizava 9.353, sendo 4.746 homens e 4.607 mulheres.

Em 1911 ocorre a inauguração da primeira estação ferroviária, a Estrada de Ferro São Paulo e Minas (hoje sede do Corpo de Bombeiros). Já em 1914 chega a Paraíso a Estação Ferroviária da Companhia Mogiana (atualmente Casa da Cultura “Antônio Carlos Pinheiro de Alcântara”).

Em 1921, um ano antes do centenário da Independência do Brasil, o agente executivo nas comemorações do primeiro centenário de São Sebastião do Paraíso era José de Oliveira Rezende, do Partido Republicano Mineiro. No ano seguinte, com Rezende ainda prefeito, São Sebastião do Paraíso foi representada na Exposição do Centenário da Independência, realizada no Rio de Janeiro, pela Fábrica Mineira de Bebidas, de Dante Giubilei, que conquista com a “Guaraína” a medalha de prata.

Em 1971, ano do sesquicentenário, o prefeito da cidade era Luiz Ferreira Calafiori, primeira pessoa a comandar os três poderes no município – prefeito, presidente da câmara de vereadores e juiz de paz na função de juiz de direito substituto.

Em 1988 ocorre o pleito mais disputado da história do município. Waldir Marcolini, que já havia comandado o Executivo entre 1977 e 1983, é eleito com 10.444 votos, apenas 28 votos a mais do que o segundo colocado, Rêmolo Aloise.

As três primeiras vereadoras do município são eleitas em 1996: Luzia Aparecida de Souza Alves, Maria Aparecida Pimenta Pedroso e Maria Inês Gomes Cristina foram as pioneiras. Cida Pimenta ainda exerceria a vereança por três mandatos consecutivos.

Apenas em 2001 toma posse a primeira prefeita de São Sebastião do Paraíso. Coube à primazia à ex-miss Paraíso e bacharel em Comunicação, Marilda Petrus Melles.

Outras mulheres a exercerem a vereança na cidade: Dilma Aparecida de Oliveira, que também foi a segunda vice-prefeita (gestão Walker Américo de Oliveira 2017/2020), após Maria Ines Fossatti Amaral (na gestão do prefeito Pedro Luiz Cerize Filho – 1997/2000); Maria Aparecida Cerize Ramos e na última eleição, além da reeleição de Cidinha Cerize, mais duas novas mulheres foram escolhidas para representarem a população a partir de 1º de janeiro de 2025: Daiane Andrade e Laís Carvalho.

O primeiro prefeito a conseguir a reeleição foi o economista e professor Mauro Lúcio da Cunha Zanin (2005/2012). Nas últimas eleições ocorridas no dia 6 de outubro, o atual prefeito, Marcelo de Morais também conseguiu se reeleger com 29.431 votos ou 91,63% dos votos válidos.

De acordo com o último censo do IBGE (2022), somos 71.796 paraisenses ou cidadãos que aqui vivem e a projeção para 2024 é de 74.742 habitantes em São Sebastião do Paraíso.