GRANDE CONQUISTA

Atleta de Paraíso conquista espaço nacional nadando pelo Esporte Clube Pinheiros, e sonha alto

Aos 21 anos, Flávio Fagundes brilha em campeonatos estaduais e nacionais, representando o histórico Esporte Clube Pinheiros
Por: Ralph Diniz | Categoria: Esporte | 13-01-2025 11:00 | 238
Atleta de alto rendimento é fruto do trabalho da professora Silmara Queiroz
Atleta de alto rendimento é fruto do trabalho da professora Silmara Queiroz Foto: Arquivo Pessoal do Atleta

Nascido em Ribeirão Preto (SP) e criado em São Sebastião do Paraíso, o nadador Flávio Henrique Fagundes de Oliveira, de apenas 21 anos, vem despontando como uma das grandes promessas da natação brasileira. Atualmente atleta do Esporte Clube Pinheiros, de São Paulo, o jovem começou a nadar por recomendação médica, enfrentou desafios e hoje se orgulha dos resultados que conquistou.

A família de Flávio é toda de Paraíso. Ele gosta de enfatizar que, apesar de ser paulista de nascimento, considera-se paraisense “de coração”, pois todas as suas raízes continuam ali. “Meu pai, minha mãe, meus avós, todos ainda moram em Paraíso. Meu pai é o Luciano Alves de Oliveira Júnior e minha mãe é a Helena Maria Fagundes”, conta. A proximidade com a cidade marcou também seus primeiros anos de estudos, quando cursou o ensino fundamental I no Colégio NESFA e o fundamental II no Galileu, do sétimo ao nono ano. Em seguida, Flávio se mudou para São Paulo, onde concluiu o ensino médio e passou a integrar equipes de treinamento mais avançadas, que abririam caminho para competições de alto nível.

A iniciação na natação surgiu por uma necessidade de corrigir problemas posturais. “Comecei a nadar aos 11 anos, por causa de um diagnóstico de escoliose. Na época, eu não tinha muita afinidade com a água; preferia futebol, como toda criança. Mas ou eu fazia pilates ou natação. Escolhi natação”, relembra Flávio. A ideia era apenas praticar três vezes por semana nas piscinas do Ouro Verde Tênis Clube, onde seus pais eram sócios, até que um primo, Gabriel Araújo, indicou as aulas no antigo SESI. Lá, ele passou a ter contato com Silmara Queiroz, técnica que seria fundamental no desenvolvimento do jovem atleta. “Ela me ensinou tudo no começo, fiquei com ela dos 11 aos 14 anos e tenho muito a agradecê-la Passei de três treinos semanais para integrar a equipe de treinamento, de segunda a sexta, e começamos a competir na Copa SESI, indo a várias cidades”.

Essas primeiras competições regionais abriram as portas para torneios maiores, como os Jogos da Juventude. Flávio recorda resultados importantes e a empolgação de se ver evoluindo na modalidade. Segundo ele, a conquista mais marcante nesse início veio em 2017, quando tinha 14 anos e disputou, representando o Colégio Galileu, uma edição dos Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG) em Uberlândia. “Bati meus primeiros recordes lá. Antes, o recorde dos 100m costas era de 1 minuto e 10 segundos. Eu fiz 1 minuto e 4, e também bati o recorde dos 50m costas, fazendo 30 segundos cravados. Acredito que esses tempos ainda estejam registrados até hoje”, comemora. Aquele desempenho o credenciou a participar dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBS), representando novamente o Galileu e, por consequência, colocando São Sebastião do Paraíso em evidência no cenário esportivo estudantil.

O nadador conta que a técnica Silmara Queiroz tinha o costume de levar a equipe para competir no estado de São Paulo, onde o nível da natação era mais alto, aproveitando a estrutura de Paraíso. “Representávamos a equipe de Ribeirão Preto, a Universidade de Ribeirão, mas toda minha preparação acontecia em Paraíso”, diz Flávio. Em 2017, mais um grande resultado: campeão paulista infantil 2 e campeão brasileiro nos 200m costas na mesma categoria, além de medalha de prata nos 100m costas. Ele lembra que “o Paulista foi em Santos e o Brasileiro em Porto Alegre. Minha especialidade sempre foi o nado de costas, especialmente 100m e 200m, mas eu também nado os 50m, prova que não consta nas Olimpíadas, mas está presente em campeonatos mundiais e absolutos no Brasil”.

Foi por meio de resultados expressivos como esses que Flávio chamou a atenção do Esporte Clube Pinheiros, (o que mais revela atletas olímpicos no País) e por onde passaram nomes consagrados da natação brasileira, como Gustavo Borges e César Cielo. “Eles me convidaram e estou lá até hoje. Meus resultados mais importantes foram agora, em 2024. Conquistei a prata nos 200m costas no Troféu José Finkel, em Florianópolis, com 1 minuto, 55 segundos e 40 centésimos. Era uma seletiva importante. Também tive bons resultados em 2022 e fiquei em quarto lugar no Brasil, no campeonato absoluto, nos 50m e 100m costas. Ainda não participei de nenhuma competição internacional, mas esse é um passo que eu pretendo dar em breve”.

Em dezembro de 2024, Flávio voltou a se destacar no Campeonato Brasileiro Interclubes, realizado no Fluminense, no Rio de Janeiro, conquistando o ouro nos 100m costas com a marca de 55 segundos e 67 centésimos. Ele credita a ascensão meteórica a três pessoas fundamentais: o pai, a mãe e a treinadora Silmara. “Eles conseguiram desenvolver em mim uma paixão real pelo esporte, pela natação em si, não apenas pelos resultados. A Silmara ficava ao meu lado todos os dias na piscina, despertando um gosto verdadeiro por treinar e melhorar. Eu não tinha vontade de faltar a treino. Se surgisse qualquer feriado na escola, eu já queria treinar em dobro”.

Para evoluir tecnicamente, além da orientação dos pais e da treinadora, Flávio conta que pesquisava muito na internet, assistindo a vídeos de grandes nadadores no YouTube. “Analisava a técnica dos melhores do mundo e tentava copiar. Mas, mais do que isso, o que me atrai era a paixão pela melhora contínua, a cada braçada, cada virada. Você tem de gostar dos detalhes, porque a água é um ambiente em que qualquer falha de técnica pode custar centésimos preciosos”.

Defendendo o Pinheiros, Flávio conviveu de perto com algumas de suas maiores referências. Entre elas, o ídolo do nado costas Guilherme Guido. “Ele sempre foi uma inspiração para mim, tanto pela técnica como pela postura. Depois que comecei a treinar ao lado dele, passei a observar como se comporta na competição, no dia a dia de treino, e isso me ensinou muito. Ele se aposentou em 2024, depois de ir a três Olimpíadas. Deixou um legado incrível e sinto orgulho de dizer que competi junto a ele”.

Apesar de morar em São Paulo, Flávio não deixa de acompanhar as equipes de Paraíso, seja a do Ouro Verde, seja a do antigo SESI, sede do “Projeto Nadar. “Foi muito legal ver a Letícia [Neto, uma das maiores promessas da nova geração da natação], outra paraisense, competindo em alto nível num Campeonato Paulista em 2024. Ela ganhou a prova de 50m livre. Ver outro talento da nossa cidade brilhar só comprova o potencial de Paraíso para formar grandes nadadores e atletas em geral.” Ele menciona que muitos jovens já conseguiram ingressar em universidades usando a natação como porta de entrada. Segundo Flávio, esse é um caminho muito válido: “Dependendo do objetivo da pessoa, pode ser competir em alto nível, ou buscar uma vaga na faculdade. O esporte abre muitas portas.”

Como conselho para aqueles que sonham em trilhar um percurso similar, Flávio enfatiza a paixão pelo detalhe, mais do que pelos resultados. “A natação é um esporte que acontece em outro ambiente. Estamos na água, então qualquer mínima eficiência faz a diferença. É muito sobre errar menos e ser mais preciso em cada movimento”, explica. Ele reforça que se deve manter foco na constante melhora técnica, na recuperação, na alimentação e, caso haja condições, na suplementação sob orientação profissional. “Esses pequenos detalhes fazem você se destacar. Você tem de gostar do dia a dia, não apenas ter sede de vitória. Se ficar só olhando para o placar ou para o pódio, talvez perca o encanto de aprimorar a técnica.”

 

 PAIXÃO POR PARAÍSO E GRATIDÃO AO PINHEIROS

A ligação com Paraíso se mantém viva no coração de Flávio. Quando não está em São Paulo, ele ainda treina no Ouro Verde e faz questão de visitar familiares e amigos. “Acho que sempre serei um atleta parai-sense que treina em São Paulo. É assim que me sinto. Tenho muito orgulho de representar a cidade de onde vim, levando o nome de Paraíso para campeonatos nacionais ao lado de uma grande agremiação, o Pinheiros. É uma satisfação enorme ter a oportunidade de nadar pelo clube mais olímpico do Brasil, onde nadaram Gustavo Borges, César Cielo e outros grandes nomes da natação brasileira.”

Para ele, essa troca entre a cidade natal e o grande centro esportivo é benéfica não apenas em termos de visibilidade, mas também de aprendizado constante. “Estar num clube como o Pinheiros me coloca em contato direto com muita gente talentosa, métodos de treino de ponta e uma estrutura impecável. Mas manter os laços com Paraíso, rever a Silmara, conversar com atletas mais jovens que estão começando, isso me lembra de onde tudo começou. É um combustível para não esquecer o porquê de eu ter persistido nesse esporte”.

 

CONSELHO AOS MAIS JOVENS

O nadador destaca que, seja para crianças que querem se aventurar nas piscinas, seja para jovens aspirantes a atletas de alto rendimento, o mais importante é se entregar ao processo. Flávio reforça que a idade não precisa ser um empecilho: quem inicia mais tarde também pode ter sucesso, contanto que haja disciplina, boa orientação e amor pela modalidade. “A gente não pode perder a diversão. Isso vale para todos os esportes, mas na natação, que é repetição constante, sem essa chama interior fica difícil ter motivação diária para treinar. No fim, eu diria que para quem tem algum objetivo na natação, o principal é amar o processo, o treino, o dia a dia. A consequência vai aparecer depois, com os resultados e conquistas. A paixão genuína pelo esporte é o que faz a diferença”.

 

DE OLHO NO FUTURO

Quanto ao futuro, Flávio sonha em disputar competições internacionais e carregar o nome de São Sebastião do Paraíso para além das fronteiras do Brasil. Ele sabe que é um desafio ambicioso, mas acredita que o trabalho duro e a determinação o levarão longe. “O Brasil tem tradição no nado costas, com atletas que chegaram a finais olímpicas, e quero fazer parte dessa história. Ainda tenho muito a evoluir, mas o mais importante é que continuo com aquela mesma vontade de acordar cedo para treinar, pesquisar na internet os detalhes da minha técnica, analisar vídeos e trocar experiências com colegas. Esse é o caminho”, finaliza Flávio, esperançoso de que muito ainda está por vir. E, se depender de sua garra e dedicação, novos recordes e medalhas continuarão surgindo, carregando consigo o orgulho de ser um paraisense voando nas águas brasileiras.

Flávio é especialista no nado costas e suas marcas têm melhorado a cada competição
No Pinheiros Esporte Clube, jovem espera seguir os passos de grandes nadadores  olímpicos
Paraisense subiu no lugar mais alto do pódio no  último Campeonato Brasileiro Interclubes, em 2024