Desde o início do mandato 2021/2024, a Prefeitura de São Sebastião do Paraíso tem enfrentado o desafio de garantir à população um ambiente limpo e saudável nos locais ocupados pelas garças. De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Renan Jorge Preto, o problema não é exclusivo do município e afeta outras regiões do Brasil, como o arquipélago de Fernando de Noronha, onde a mesma espécie de ave, a garça-vaqueira (Bubulcus ibis), tem causado transtornos, riscos à aviação e danos ambientais graves.
Originária do continente africano, a garça-vaqueira chegou ao Brasil e se adaptou rapidamente, ocupando áreas urbanas e rurais. Segundo o secretário, a ave representa um grande desafio por conta do impacto ambiental e da dificuldade de manejo. "Pesquisamos bastante e constatamos que diversos municípios enfrentam o mesmo problema, e infelizmente nenhum encontrou uma solução definitiva", afirmou.
A Prefeitura analisou diversas formas de controle, como a captura das aves, instalação de redes de neblina e o uso de serviços de falcoaria, em que aves treinadas, como gaviões e falcões, perseguem e afugentam as garças. Contudo, essas opções foram descartadas devido ao alto custo e ao risco de mortes acidentais de outras aves. "Em 2022, cotamos esses serviços com uma empresa especializada, e o valor seria de mais de 115 mil reais. Além de onerosos, esses métodos certamente provocariam a morte não só de garças, mas também de outras aves que compartilham os mesmos espaços", explicou Renan Jorge Preto.
MANEJO COM PODAS DE ÁRVORES
Até o momento, a medida mais eficaz tem sido a poda de galhos e a retirada de ninhos das árvores, uma prática que torna os locais inseguros para a reprodução das garças e as afugenta para outros espaços. Segundo o secretário, essa técnica mostrou resultados positivos, especialmente na praça da Lagoinha, onde a presença das aves diminuiu nos últimos anos.
A ação precisa ser contínua e estratégica, especialmente antes do período reprodutivo, que ocorre entre setembro e outubro e se estende por 4 a 5 meses. "Sabemos o tamanho do nosso desafio, inclusive porque não conseguimos prever qual será o próximo espaço que as aves tentarão se alojar", destacou.
MIGRAÇÃO CONSTANTE
As garças têm migrado entre diferentes pontos da cidade, como a esquina da Rua Alfredo Fidelis Marques com a Rua Paulo Osias de Sillos, a área verde entre as ruas Geraldo Pelúcio e Dom Pedro II e novamente o parquinho da praça da Lagoinha. "Estamos empenhados em continuar com o trabalho e seguimos buscando novas soluções para minimizar os impactos e melhorar a qualidade de vida da população", concluiu o secretário. A Prefeitura reafirma seu compromisso em enfrentar o problema de forma responsável, equilibrando o cuidado com o meio ambiente e as demandas urbanas. (por João Gustavo de Oliveira)
Sobre infestação de áreas urbanas por garças vaqueiras, o Jornal do Sudoeste ouviu o engenheiro agrônomo, analista ambiental e mestre em ecologia, Raul Cândido da Trindade Paixão Coelho, que desde 2009 faz a gestão ambiental na Unidade de Conservação Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã, no bioma pampa, com sede em Santana do Livramento (RS).
Ele ressalta a importância das garças no ecossistema principalmente ao se alimentarem de diversos insetos e de carrapatos em gado. Pondera, entretanto, que na área urbana podem trazer risco à saúde, não ficando descartada a transmissão de gripe aviária. Alerta que o gás tóxico (amônia) que se desprende das fezes das garças poderá gerar contaminação por bactérias.
Depois de instaladas, com filhotes, como atualmente ocorre na Praça Santa Paula Frassinetti (Lagoinha), a situação fica mais complicada e poderá ser “remediada”, colocando-se serragem ou palha de arroz para fazer uma “cama aviária”, com espessura de 30 centímetros para receber os excrementos que se tornam compostagem, que deve ser rastelada com frequência. Raul Cândido sugere também seja feita contenção com tábuas.
Passado este período quando as aves deixarem o local, devem ser retirados os ninhos e todos os vestígios deixados para que não retornem. Nesse caso são usados jatos d’água, fumaça, som e falcoaria.