A escravidão no Brasil, uma das grandes manchas da nossa história, durou quase trezentos anos, indo do século XVI até 13 de maio de 1888, data em que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea. Os escravos eram trazidos da África pelos navios negreiros e comprados principalmente pelos senhores de engenho da Bahia e Pernambucco, na época os estados que mais produziam açúcar.
Em fins do século XVI, escravos de um grande engenho do extremo sul de Pernambuco rebelaram-se, conseguindo dominar seus feitores e proprietários. Como fugir para perto de nada adiantaria, tomaram uma decisão que daria origem a um dos mais belos capítulos da história do Brasil: ir para Palmares, uma região evitada até pelos índios, entre os estados de Pernambuco e Alagoas, assim chamada por ter muitas palmeiras.
Umas quarenta pessoas ao todo começaram uma caminhada que duraria mais de um mês, em meio aos maiores perigos: floresta quase impenetrável, animais selvagens, insetos e tempo inclemente. Muitos morreram antes de chegar ao destino.
Em um lugar bem alto chamado Serra da Barriga (hoje pertencente ao município de União dos Palmares, estado de Alagoas), eles abriram clareiras e construíram seus mocambos, que eram choças de madeira cobertas de folhas de palmeira. No início, alimentavam-se apenas da caça e da pesca. Depois, fundiram arados e conseguiram sementes, formando grandes lavouras que lhes propiciavam alimentação abundante.
Como quase todos eram homens, uma das primeiras providências foi a organização de grupos para voltar aos engenhos e roubar mulheres.
A selva densa e perigosa os protegia. E foram chegando outros, até formar-se uma comunidade de aproximadamente 25.000 pessoas, distribuídas em onze povoações próximas umas das outras. A maior delas chamava-se Macaco e era a sede do governo, constituído nos moldes dos das terras africanas.
Essa comunidade, muito bem organizada, constante convite à fuga de escravos e perene desafio à autoridade portuguesa, conseguiu resistir aos ataques de inúmeras expedições por quase cem anos.
Seu último chefe e o mais famoso de todos, símbolo nacional da luta negra contra todo tipo de opressão, foi Zumbi (nome que em um dos dialetos africanos quer dizer espírito imortal), que tomou o poder de seu tio Ganga Zumba, quando este - talvez devido à idade avançada - fez um acordo de paz com os brancos que equivalia à rendição.
Inconformado, Zumbi rebelou-se, assumiu o governo do quilombo e tomou novas medidas defensivas, conseguindo manter a comunidade viva e independente por mais quinze anos. Foi necessário um exército de 9.000 homens, com pesado armamento, para vencê-lo.
Verdadeiro rio de sangue foi então derramado, com grande número de guerreiros sendo degolados e muitas mulheres preferindo matar os próprios filhos e suicidar-se em seguida, tanto horror tinham à escravidão.
Zumbi e seus homens de confiança conseguiram fugir e por mais um ano fustigaram os invasores com a tática de guerrilhas, até que um de seus homens foi preso e não conseguiu resistir às torturas, revelando seu esconderijo. A 20 de novembro de 1695, Zumbi e mais seis de seus companheiros foram cercados e mortos.
Desaparecia, assim, um dos grandes heróis do Brasil, um administrador extraordinário e um guerreiro terrível, um dos grandes símbolos da luta pela independência, não só da raça negra, mas de todos os oprimidos, de todos os que têm fome e sede de justiça.