Não há nada de novo debaixo do sol, ensina o livro Eclesiastes, 1,9. Contradizendo a lição bíblica, o axioma diz: Mudam-se os tempos, mudam-se os costumes. Onde a verdade? Impressiona-me, todavia, é o paradoxo constante: os seres humanos, pretensa-mente racionais, tornam-se cada vez mais cruéis, abjetos, capazes das piores baixezas. Que todos têm dentro de si, o bem e o mal, muito misturados, já preconizava Pascal, no século XVII. Mas por que é sempre a Besta que vence e não o Anjo?
Contrariamente, a Natureza é bela e excelsa, dando lições de grandeza, com suas leis harmoniosas. As catástrofes surgem só quando o homem, animal cheio de ambição, desastrado, violenta o Meio Ambiente, a Natureza. Sábia, ela não contesta, não se defende. Apenas se vinga.
Ultimamente têm acontecido episódios bizarros, insólitos, mas fortemente expressivos da "humanização" dos animais. A Internet tem explorado muito isto.
Enquanto isto, o que acontece no mundo dos chamados racionais? São mães que abandonam recém-nascidos em lixeiras, monstros que praticam tiro ao alvo em uma cadelinha, pessoas ditas normais, que matam cães a pauladas. E mais, neste circo de horrores: o crime da pedofilia, que grassa como erva maldita, pessoas que assassinam outras por qualquer tolice, roubos, sequestros, crimes dolosos e hediondos. Quem são os irracionais? Como punir tais bestas?
Há algo de errado no sistema. A Natureza, os animais são cada vez mais puros, mais coerentes, como se fizessem parte ainda do plano superior do Fiat. O homem abastardou-se. Ou sua receita sempre foi equivocada?
É bem verdade que julgar os atos humanos é algo complexo. A famosa teoria de Hipólito de Taine, do determinismo social, reza que o homem é fruto da raça, do meio ambiente e do momento histórico. Como explicar, no entanto, indivíduos que, contrariando as más influências, situações precárias, vencem, crescem, são bem sucedidos em todos os aspectos? E o contrário, os saudáveis monstros ricos, ou os alimentados na classe média? Tudo é muito complexo.
Diante de crimes bárbaros somos tomados pela tendência de evocar a Lei de Talião. Humanistas e religiosos contestam tal barbárie. Como, então, se fazer justiça? Aliás, o que é justiça?
Sinto que estou me embrenhando em um cipoal cerrado. É melhor voltar à tese inicial e tentar saber quem são realmente os racionais. Parece-me pertinente examinar as causas do paradoxo, por que os seres humanos estão se bestializando.
Ainda sob este enfoque, eu me abismo diante da brutalidade nas escolas. Na realidade, é só na escola que a violência é exacerbada ou é apenas uma faceta do controverso progresso, que tem um ônus alto demais? Resta ao homem apenas uma saída: usufruir das benesses da modernidade, sem ser inoculado por seus venenos letais.
(*) Ely Vieitez Lisboa é escritora.
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