Estamos iniciando mais um ano. A Terra terminou outra órbita elíptica ao redor do Sol e recomeça a próxima. Se dermos um balanço em nossas atividades nesses 365 dias que se passaram, encontraremos de tudo: bons momentos, decepções, alegrias, tristezas, atitudes nobres e também mesquinharias. Porque somos um misto de médico e de monstro, um universo em que gravitam tendências de todas as naturezas.
Mas, não importa o que somos e o que fizemos. Mais importante é o que podemos ser e o que podemos fazer, lembbrando sempre que em qualquer momento podemos dar uma guinada no leme de nosso barco, mudando completamente seu curso. Afinal, não somos estáticos vegetais, ou animais irracionais guiados apenas pelo instinto. Somos humanos, dotados de livre-arbítrio, de intelilgência e de vontade.
Nessa época em que se fala tanto de alquimia, profecias celestinas e anjos cabalísticos, é importante lembrar que existem duas palavras mágicas de uma forca praticamente infinita: posso recomeçar. Presos na cadeia, podemos principiar a ler, a estudar. Primeiro livros simples, duas páginas por dia. Depois, progressivamente, assuntos mais complexos e mais horas de dedicação à busca de novos conhecimentos. Ninguém aprisiona o espírito nem tolhe seu vôo, a não ser nós mesmos, pela indolência. Estiradas em camas de bordéis, levantemo-nos. Lembremo-nos de que Jesus chamou também Maria Madalena e ela o seguiu, deixando de ser pasto de abutres para ser enfermeira de leprosos, saindo das trevas para ser anjo de luz.
Mudar faz parte da evolução. Ninguém cresce se não domar suas más inclinações, a cada dia um pouco, começando pelo próprio lar. Experimentemos tratar nossos familiares como agimos com as visitas. Ouvir o cônjuge, irmãos, filhos e pais com a maior atenção, respondendo com respeito, com brandura, com inteligência. Contar em casa as histórias engraçadas que guardamos para os clientes, sorrir como sorrimos para os conhecidos. Em pouco o ambiente doméstico será completamente diferente. E isso é muito difícil, está fora do nosso alcance? E, na realidade, quem é mais importante para nós que nossos familiares?
Podemos apreender o momento fugidio que tenta passar despercebido, para nele colocar a primeira pedra do alicerce de nossas mudanças. Sair de uma vida fosca para capturar o brilho das estrelas. Existe o impossível?