ELY VIEITEZ LISBOA

O que esperar de 2018?

Por: Ely VIeitez Lisboa | Categoria: Cultura | 29-12-2017 19:12 | 8903
Foto: Reprodução

Não dá para esquecer a metáfora: pela porta que traz no topo a data do ano 2017, sai um velho alquebrado, curvado pelo ano e os acontecimentos, braços flácidos, cabelos ralos. Do outro lado, a passagem rutilante, ostentando no alto, com letras douradas: 2018. Por ela vem entrando um bebê rechonchudo e róseo, símbolo da esperança.
Ninguém é diferente: No final do ano esquecem-se as dores, as frustrações, os sonhos falidos. A alma se renova e marchamos para o novo ano, repletos de otimismo. 
Na realidade, é bom que assim o seja, um autoengano. Uma das mais belas qualidades do ser humano é ter na alma uma espécie de Fênix, que renasce das cinzas. Quando alguma tragédia se abate sobre nós e pensamos que não dá para sobreviver, continuar, o tempo, magicamente, vai curando as cicatrizes e um dia, ousamos de novo sorrir, ser felizes. É o renascimento.
Se assim não fora, como no Brasil, conseguiríamos continuar vivendo e até sonhando? Crise, políticos corruptos, justiça falha, promessas jamais cumpridas, violência, Educação e Saúde falidas. E o pior: quase o mundo todo sofrendo dessa mesma síndrome, tudo globalizado.
Com otimismo continuaremos acreditando que o ano seguinte será sempre melhor. Assim, em 2018 haverá eleições presidenciais, surgirá um candidato honesto e dinâmico, todos os grandes problemas sociais serão, aos poucos, solucionados. Não custa sonhar: em 2018, o amor florescerá, todos os namorados, noivos, casados, serão fiéis, não haverá separações, surgirão remédios para a cura de doenças graves, haverá vagas nos hospitais para todos, não faltarão médicos.
Ora, no entanto, relendo o final amargo do meu artigo O Depósito dos Sonhos Falidos, eu afirmo que tal Depósito existe, diante das dificuldades da vida. Que é, ao poder de muitas lágrimas (que podem ser batizadas de experiência) que se descobre tal local. Enfatizo ainda que ao analisar o passado, o resultado é quase sempre o mesmo: cinco por cento de felicidade, noventa e cinco de tristeza, algumas realizações, dezenas de frustrações. O amor eterno virou quimera, a Morte sempre nos visitando no inesperado, cedo demais, traições, hipocrisias, golpes baixos. 
O final do artigo, meio desanimador, felizmente, é positivo. Relembro-o, pois, nesses votos para 2018. O ser humano é de uma essência bizarra. Diante desse processo insano, encanta-se ainda com a beleza das flores coloridas, consegue sorrir diante de momentos de ternura, pequenas conquistas que sublimam dores, pensam feridas, amenizam cicatrizes. Amizades cálidas adoçam sofrimentos.
Enfim, se possível for visitar o Depósito dos Sonhos Falidos, poder-se-á vê-lo, talvez, com outros olhos, entendê-lo. À sua frente, bela, plácida, diáfana, doce, ELA sorri, ELA, que tudo explica: A ESPERANÇA.
(*) Ely Vieitez Lisboa é escritora.
E-mail: elyvieitez@uol.com.br