A aquinense Renata Denis Moreira, de 41 anos, é um ser humano iluminado e que tem muito a nos ensinar. Renata sofre de uma doença rara que devido à medicação com efeito colateral afetou todos os seus tecidos ósseos, causando uma osteoporose que, por sua vez, a deixou acamada. Durante um ano viveu em um quarto, depois foi para outro cômodo da casa de onde passou a ver além da janela através de um espelho, até conseguir uma vista privilegiada com modificação feita em sua residência. Onde havia uma parede passou a ser amplo vitrô, graças a um primo. Já se vão dez anos, e Renata nunca perdeu o sorriso e a alegria que transmite com tanta facilidade. De um sonho que era poder sentar, hoje sua luta é pela vida. É difícil chegar a São Tomás de Aquino e não a encontrar sempre rodeada da família e de amigos que a visitam constantemente, fruto de todo o seu carisma e sua energia inspiradora que nos prova por A mais B que a felicidade está em um olhar, em um sorriso ou, como ela mesma gosta de frisar, na imagem através de um espelho de um canário tratando do seu filhote. Filha de Maria Luiza Moreira e Lázaro Moreira (já falecido), Renata tem outros dois irmãos mais velhos, o José Paulo e a Maria Aparecida, e vive seus dias assim: rodeada da família e dos incontáveis amigos. Não diferente, ao Jornal do Sudoeste narra um pouco da sua história, sem perder em momento algum seu sorriso que é tão lindo e característico.
Jornal do Sudoeste: Como foi a infância em São Tomás de Aquino?
Renata Moreira: Até os seis anos eu morei na roça e foi muito legal quando nos mudamos para São Tomás. Era moleca, brincava de bete, bola; na roça andava muito a cavalo, sempre gostei. Eram brincadeiras que hoje parece não existir mais.
Jornal do Sudoeste: E a fase de escola?
Renata Moreira: Estudei aqui em São Tomás todo esse período e fiz magistério, quando terminei fiquei um tempo parada até decidir fazer contabilidade na Escola Técnica de Comércio São Sebastião, em Paraíso, a minha turma foi a última, foi no ano que ela completou 50 anos e fechou. Quando terminei o curso fui para Ribeirão Preto, onde fiz um curso de cabeleireira. Trabalhei 10 anos como cabeleireira e durante esse tempo conquistei muitos amigos, que sempre vêm me visitar.
Jornal do Sudoeste: Dizem que você tem algumas habilidades artísticas...
Renata Moreira: Eu sempre gostei de pintar. Pintava paisagens em tela, azulejo, e hoje eu faço somente pintura em tecido, por conta da posição que fico e do espaço que eu tenho para trabalhar, porque não consigo sentar e não consigo me virar; eu tenho os movimentos, graças a Deus, mas não consigo fazer essas duas coisas.
Jornal do Sudoeste: Você comercializa esse trabalho?
Renata Moreira: Sim. Eu comercializo para ajudar a custear gastos que tenho com remédios, leite (que eu preciso tomar muito por causa dos ossos), entre outras necessidades. Também pego muitas encomendas e cativei muitos clientes com este trabalho. Ganho também muito material para trabalhar, de amigos e pessoas que vêm me visitar.
Jornal do Sudoeste: São muitos bonitos seus trabalhos, como você descobriu essa habilidade?
Renata Moreira: Eu tive uma professora, a dona Lilian Moreira, que apesar do sobrenome, não é parente (risos). Ela era professora de educação artística no magistério, e foi durante esse curso, que tinha muitas aulas onde precisávamos trabalhar esse lado mais artístico, que eu descobri que tinha esse dom.
Jornal do Sudoeste: Hoje você não pode se mobilizar por consequência de uma doença...
Renata Moreira: Sim. É uma doença rara, é uma insuficiência na suprarrenal. No Hospital de Clínicas de Ribeirão apenas eu e uma prima fazemos tratamento dessa doença. Apesar de já saber disto só consegui confirmar no ano passado. No Brasil são 16 pessoas portadoras dessa mesma doença que causa uma deficiência na suprarrenal. O que os médicos conseguiram pesquisar para me dar vida foi o uso de cortisona, que eu tomo desde os 16 anos e foi quando eu descobri que provocou a minha osteoporose; descobri que tinha isto quando me machuquei. A minha idade óssea é de uma pessoa de 80 anos e está generalizada; eu usava aparelho ortodôntico e tive que tirar porque poderia causar mais danos. Não tem o que ser feito, porque quando você perde a massa óssea, não é possível repor.
Jornal do Sudoeste: Desde então você tem que ficar acamada?
Renata Moreira: Sim. O meu sonho era poder sentar, hoje o meu sonho é viver. O ano passado eu descobri que a doença afetou a medula, então não tem muito o quê ser feito; eu não posso fazer cirurgia, à época também não podia porque meu osso está igual um isopor. O nervo que passa dentro da medula atrofiou, então, somente o medicamento para tirar a dor. Para Deus nada é impossível, mas os médicos não me dão nenhuma chance e nenhuma expectativa para conseguir sentar novamente.
Jornal do Sudoeste: Você está sempre sorrindo. De onde você tira essa força?
Renata Moreira: É Deus, a família, os amigos, é muito carinho que eu recebo. Tem horas que eu me pergunto se mereço tudo isso, porque é muito carinho mesmo. São todos os dias. Já são praticamente 10 anos, e em nenhum desses dias alguém ficou sem vir me visitar. Eu sou muito feliz, sinto isto dentro de mim, não tem como explicar. Eu não costumava falar muito sobre o que eu sentia, mas hoje me expresso mais, é algo que vem de dentro, é difícil descrever, é felicidade.
Jornal do Sudoeste: Sua mãe é sua grande companheira, o que ela representa?
Renata Moreira: Minha mãe representa tudo, é minha companheira, minha amiga, guerreira e está comigo 24 horas. A minha irmã também é meu braço direito e cuida muito de mim. O meu irmão está comigo nos momentos difíceis e sempre me ajudando. A família toda é muito importante. Todo mundo, graças a Deus, quer me ver, quer me conhecer, e aqui é meu mundo. Tive vontade de dar umas voltinhas de cama na rua, mas o fisioterapeuta não deixou (risos). Mas eu já fui duas vezes a um posto aqui perto fazer tratamento dentário e foi o máximo, mas é só por aqui mesmo, não tem como sair porque é muita dor e quando eu tenho que ir para Ribeirão, é uma semana muito dolorosa.
Jornal do Sudoeste: Você também recebe visitas de muitos cantores, quem já veio aqui?
Renata Moreira: São muitas pessoas queridas, posso até ser injusta e me esquecer de citar alguém, mas entre essas pessoas já veio o Solimões, da dupla Rionegro e Solimões, inclusive ele veio aqui após uma matéria publicada no Jornal do Sudoeste. Hoje eu o chamo de Luizinho, tornou-se um amigo, não o trato como Solimões; todos os cantores que vêm aqui, além do profissional, tornam-se grandes amigos. Entre eles também vieram Juliano César, Zé Henrique e Gabriel, Conrado e Alexander, que fizeram um vídeo para mim; Lucas Reis e Thácio que também me colocaram em um clipe deles; Matheus Minas e Leandro; Giovane Reis e Fabrício; o Mário Murilo, Carreiro e Capataz e o Cassiano e Diquim, que fizeram uma música para mim, além de pessoas dos grupos de motociclista e ciclistas. Os cantores de Paraíso também costumam vir muito. É muita gente. Aqui também já veio o Paraíso em Seresta, o Montana Country, já veio grupo de teatro, crianças de escolas, o pessoal da Crisma e do encontro de casais. É tanta coisa boa para contar... tantos momentos felizes.
Jornal do Sudoeste: E qual o seu gosto musical?
Renata Moreira: Meu gosto musical é bem eclético, gosto muito do sertanejo, do raiz ao universitário; gosto da seresta, MPB como Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso.
Jornal do Sudoeste: Você também tem um espaço na rádio comunitária da cidade, como é isto?
Renata Moreira: Sim, já faz um ano e meio. Na Rádio Comunitária tem um jornal apresentado pelo tenente Luiz Corsi. Ele me deu o espaço para que eu pudesse transmitir uma mensagem e para isso ele me deixa um gravador onde registro a mensagem e ele coloca no ar de segunda a sexta no final do programa. O pessoal gosta, comenta as mensagens e o que eu posso oferecer é o meu sorriso, sempre. Eu queria poder ajudar mais, poder fazer mais, mas há a limitação.
Jornal do Sudoeste: E o como é essa história da vida através de um espelho?
Renata Moreira: A janela era pequena, depois eu ganhei uma janela maior de um primo, a ideia dele era de eu poder tomar sol, mas isso foi além, agora eu posso ver muito mais que isto. Antes eu via a vida lá fora através de um espelhinho, que era a fórmula da felicidade para mim, foi assim durante seis anos. Hoje eu vejo os pássaros, aqui eu vejo o sol nascer, a lua nascer, vejo a chuva, o céu, o verde, o arco íris. Então aqui é o meu mundo mágico.
Jornal do Sudoeste: E qual mensagem você deixa para nossos leitores?
Renata Moreira: Buscar o horizonte e nunca desistir de viver, a vida é muito preciosa; tudo na vida passa, passam os momentos bons, mas passam os momentos ruins também. Vamos ser felizes! Eu me recordo de um momento muito especial quando eu via lá fora através de um espelhinho que foi quando eu vi um canarinho tratando do seu filhotinho, porque até então eu não via nada, somente o céu e os urubus voando bem alto, e achava o máximo, achava lindo! (risos). Quando eu consegui ver através do espelho esse momento dos canarinhos foi muito especial. È nas pequenas coisas que nós encontramos a felicidade, na família e nos amigos. Às vezes a gente fica buscando soluções que não existem, e no meu caso fui buscar até nos Estados Unidos, e não tem o que ser feito, mas tem como viver, e viver feliz.