“O coração feminino jamais envelhece; quando cessa de amar é porque cessou de bater” Pierre Gassendi
Relendo “Versos, ainda que seja outono” de Fúlvia Carvalhaes de Freitas, é que entendemos melhor o pensamento de Gassendi: o coração feminino, em matéria de amor, jamais envelhece. Mesmo quando passa por todas as estações do ano, mesmo quando a neve do tempo, impiedosamente vai branqueando os cabelos, criando rugas na face, por onde escorrem lágrimas furtivas, lembrando de um amor que se foi ... não envelhece!
Fúlvia, com ternura amorável, em um soneto sentimento da separação, com cores de frustração e de saudades, compondo obra prima, com moldura de cristal, onde rosas trescalam perfume de reminiscências, mas com espinhos ferindo levemente ... vale a pena transcrevê-lo:
A MENTIRA DA VIDA
E passaram-se dias, meses, anos
sem a felicidade perceber - nos
Quanta coisa se disse, quanto engano
existiu entre nós, por tolos sermos...
Primavera, verão, outono, inverno,
vencemos a caminho do futuro,
agarradinhos, num arrulho eterno,
alimentados pelo amor mais puro ...
Se acaso separássemos - que dias!
Que solidão! Que horror! Que triste alarme!
“Jamais te deixarei” - tu me dizias.
Mas num domingo frio, olhos nos meus,
tu, que juraste nunca mais deixar - me,
tu me deixaste sem dizer - me adeus ...”