ELE PÓR ELE

Daniel Duarte Naves: correndo por amor ao esporte

Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 12-02-2018 15:02 | 7019
Daniel Naves no campeonato “10 km Tribuna Santos”, em maio de 2017
Daniel Naves no campeonato “10 km Tribuna Santos”, em maio de 2017 Foto: Arquivo pessoal

O atleta Daniel Duarte Naves, de 32 anos, já é bastante conhecido pelos bons resultados que vem obtendo ao longo dos anos nas corridas de rua. Irmão de Danilo e filho caçula do casal Neusa Duarte Naves e Sebastião de Sousa Naves, ele conta que o pai, hoje aos 64 anos, foi um dos pioneiros na corrida de rua em São Sebastião do Paraíso e é um dos melhores em sua categoria no Brasil. Foi do pai que nasceu a paixão pelo esporte e é nele que Daniel se espelha para poder continuar e ser um bom exemplo para as futuras gerações. Casado com Kátia e pai da pequena Mirela, de cinco anos, e do caçula Victor Hugo, de três meses, Daniel sonha em poder passar o legado para os filhos e não esconde o orgulho que sente ao narrar um pouco da sua história.




Jornal do Sudoeste: Como foi sua infância em Paraíso?
Daniel Duarte Naves: Minha infância foi toda no São Judas, depois que me casei, passei a morar no Jardim Europa. A infância foi um pouco limitada, nós somos de uma família humilde, meu pai sempre trabalhou muito para prover a família, passou algumas dificuldades, mas graças a Deus nunca nos faltou nada, mas foi difícil. Éramos moleques, brincávamos muito na rua, mas ao mesmo tempo minha mãe segurava as rédeas, sempre imponente, ante-nada para não deixar a gente solto muito tempo na rua, pegava no nosso pé para que cumpríssemos as obrigações da escola. Foi muito mãe, meu pai, também, sempre muito pai, muito parceiro, quando precisava educar, o fazia. Foi uma infância boa, muito prazerosa.




Jornal do Sudoeste: E a vida acadêmica?
Daniel Duarte Naves: Eu me sinto muito gratificado, porque eu acabei o terceiro colegial à época e fiz um curso técnico em contabilidade, mas parei os estudos por dois anos. Após, estudei, prestei o Enem, consegui pontuação necessária para ingressar no Ensino Superior, mas por causa do meu trabalho não consegui me organizar para conciliar as duas coisas, tendo em vista isto, eu tive que partir para o curso à distância. No ano seguinte prestei a prova novamente e consegui uma bolsa em Administração de Empresas, concluindo em 2007. Foi uma fase muito bacana; estudar a distância requer muita disciplina, dedicação e minha rotina de trabalho sempre foi de 12 horas, mas deu tudo certo.




Jornal do Sudoeste: E quando a corrida de rua começou a fazer parte da sua vida?
Daniel Duarte Naves: Eu corro desde os nove anos de idade, mas somente aos 11 eu comecei a participar de algumas provinhas na cidade e na região, entre elas em Passos, Guaranésia, Guaxupé, que sempre tiveram campeonatos com as categorias de base, que os pais levavam para participar e meu pai sempre foi meu maior incentivador. Até então ele mesmo não participava de campeonatos, sempre correu muito, mas quando a gente começou a crescer e ele começou a nos levar a esses campeonatos, também passou a participar. Virou um vício, não parei mais. Houve fases que eu precisei diminuir o ritmo, mas nunca perdi o vínculo com a corrida.




Jornal do Sudoeste: E quando você começou a participar de forma mais profissional?
Daniel Duarte Naves: Hoje eu estou em um nível que a gente chama de semipro-fissional, profissional é somente quem vive do esporte mesmo. Semiprofissional já faz seis anos, já disputava campeonatos antes disto, no entanto era um briga comigo mesmo. Há seis que eu tenho um parceiro gigantesco, o Rangel, que é meu treinador e me chamou para correr com eles. Antes disso tinha o César, que me ajudou muito e foi ele quem viu que eu tinha um potencial grande para competir, mas devido alguns problemas pessoais ele teve que parar com os treinos e a partir daí o Rangel me chamou para fazermos esse trabalho, à distância porque ele é de Ribeirão Preto e vem uma vez por semana a Paraíso, mas foi interessante, consegui me desenvolver muito bem e adaptar meu ritmo de treinamento ao ritmo de trabalho e desde então venho conseguindo me destacar.




Jornal do Sudoeste: Você também já disputou fora do país, não é mesmo?
Daniel Duarte Naves: Sim. Foi uma experiência que eu nunca pensei que teria. Em 2016 e 2017 disputei campeonatos no Chile, isso graças a alguns apoios e patrocinadores, senão não conseguiria isto porque infelizmente o investimento para participar de um prova desta é muito alto. Então, consegui desenvolver um trabalho bacana que me renderam a primeira colocação entre os brasileiros e quarto na minha categoria; e em 2017 o segundo lugar.




Jornal do Sudoeste: Qual foi a maior dificuldade que você enfrentou lá?
Daniel Duarte Naves: Eu já sabia do clima, que era mais frio, essa foi a minha maior dificuldade em relação ao que eu já estava acostumado aqui no Brasil. Tanto que a prova acontece em abril, e nesta época lá já começa o frio. Em 2017, quando disputamos a prova estava 5 graus, estava muito frio, mas depois que passa do segundo, terceiro quilômetro, a gente já esquenta e segue em frente. Em 2016 eu sofri um pouco mais com o clima, no ano seguinte eu já estava mais preparado com o que eu iria encontrar.




Jornal do Sudoeste: Hoje a corrida de rua vem ganhando mais espaço em Paraíso?
Daniel Duarte Naves: Eu sou muito ligado à corrida de rua, inclusive temos uma associação, a Acorp, a qual sou presidente, então temos ligação com diversos grupos de corrida, como o Corra Comigo e o Speed. Há um crescimento dessas assessorias esportivas e quantidade de pessoas que vêm se preocupando com a qualidade de vida e as doenças que acometem normalmente pessoas mais sedentárias. Em relação há quatro ou cinco anos o crescimento foi de 300% para mais, antes dava para contar nos dedos quem praticava corrida; havia apenas um pequeno grupo da Acorp e um ou outro que também praticava o esporte por conta. Hoje não dá nem para contar direito, mas se estima que há no mínimo cerca de 200 pessoas praticando corrida de rua em Paraíso. 




Jornal do Sudoeste: E faz bem para a saúde...
Daniel Duarte Naves: Sim. Eu trabalho na área da saúde, em farmácia, e vejo que as pessoas estão bem mais atentas à saúde, não somente com a corrida, mas o pedal também. Aumentou muito a quantidade de pessoas que praticam o ciclismo, as academias têm ficado lotadas e eu tenho acompanhado muito isto porque tenho parcerias com algumas delas. A corrida de rua é muito fácil, e as pessoas começam a procurar mais por ser mais barato para quem quer apenas qualidade de vida.




Jornal do Sudoeste: Você já enfrentou algum tipo de problema por conta de trânsito?
Daniel Duarte Naves: Infelizmente ainda enfrentamos vários problemas, não somente em Paraíso, mas é generalizado. São várias mortes de ciclistas e tivemos inclusive amigos próximos como o Carlinhos da Radical, que faleceu após ser atropelado. Eu já fui quase atropelado algumas vezes, mas de alguns anos para cá, 90% dos meus treinos têm sido feitos da pista de corrida no Campão. Melhorou nesse sentido, mas para quem corre na rua ainda é muito perigoso. A gente já sofre por não ter um espaço específico para corrida. Hoje, a avenida do novo Fórum é uma ajuda muito grande para quem pratica o esporte, o trânsito lá é bem menor e ajuda para quem corre na rua. Porém, mesmo assim, ainda falta um local específico para quem pratica esse esporte. Cheguei a solicitar na Câmara, junto do vereador Luíz de Paula, para que se fizesse uma pista de corrida, na parte de cima do canteiro do Fórum, justamente pensando no futuro, porque aquele bairro ainda vai crescer muito e certamente o movimento de carros. Não sei a quantas anda o projeto, mas a semente foi plantada e será bem bacana se tornar realidade.




Jornal do Sudoeste: Paraíso tem sido bom para quem pratica esse esporte?
Daniel Duarte Naves: Sim. Nos últimos três anos, Paraíso tem tido a melhor temporada de eventos da categoria. Acontecem três grandes eventos no ano, que é a Corrida de São João, em junho, que no último ano foi sensacional; a corrida da Energy Academia, que já está em sua nona edição, que também é fantástica e foi uma idealização do Agnaldo à época, depois o Márcio e o Vinícius abraçaram e continuaram o projeto; e ainda tem a corrida da Estoril, o Estoril Solidário, que é prol de alguma entidade beneficente da cidade e reúne pelo menos 200 atletas todos os anos. Todas são provas muito bacanas, muito bem organizadas. Para quem gosta de competir, vale muito a pena.




Jornal do Sudoeste: Qual foi o percurso mais difícil que você já competiu?
Daniel Duarte Naves: O percurso mais difícil, sem dúvida, é uma corrida em Poços de Caldas, chamada “Volta ao Cristo”. São quatro quilômetros de subida para chegar ao Cristo, depois são mais ou menos seis ou sete de descida, no barro, o que é bem complicado. Geralmente a prova é realiza em janeiro, e chove muito. É a prova mais difícil que eu já participei. Já vi muita gente cair e se machucar, inclusive atletas de Paraíso. Porém é uma prova de superação fantástica. 




Jornal do Sudoeste: Você já participou da São Silvestre?
Daniel Duarte Naves: Já participei três vezes. A São Silvestre é uma festa, sempre foi meio bagunçada; em 2017 eu não participei, optamos por ir na Pampulha, porém devemos participar este ano. Nos anos que eu participei, como a gente sai muito atrás, no meio do povão, o rendimento acaba sendo mais difícil, mas mesmo assim consegui ficar entre os 50 primeiros em 2015, e pretendo este ano superar a minha marca.




Jornal do Sudoeste: Você já chegou a realizar algum trabalho social voltado para a corrida?
Daniel Duarte Naves: Nós já chegamos tentar a desenvolver um projeto nesse sentido, mas infelizmente, por falta de tempo, e por não conseguir um educador físico para trabalhar no projeto e mantê-lo funcionando não deu certo. Até conseguiríamos sem um professor, mas não ficaria legalmente correto e paralisamos o projeto. Hoje o António César Leandro, que foi membro da Acorp e meu técnico, desenvolve com algumas crianças um trabalho social, dele mesmo, que é muito bacana. Ele treina hoje, se não me engano, quatro crianças, uma delas do Lar Pedacinho do Céu. Entre elas tem a Maria Antônia, que já treina há dois anos e é um talento muito grande e esse nome podem guardar que será um destaque nacional se conseguir continuar se dedicando. É um projeto muito bacana, mas não dá para abranger muita gente. 




Jornal do Sudoeste: O esporte tem tido muito atenção por parte das políticas públicas?
Daniel Duarte Naves: Em minha opinião, quando se fala em esporte a atenção especial é para o futebol. Falando da corrida de rua, hoje, vergonhosamente, temos uma equipe sem respaldo nenhum. A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAT) tem um presidente que está sendo investigado por corrupção. Todos os atletas federados querem o seu afastamento. O Governo tem um projeto que coloca alguns atletas de elite, da marinha e aeronáutica, e dá uma bolsa para isso, mas o atleta para se manter como atleta de elite e viver disso, tem que participar de todas as corridas, nos sábado e domingos, porque somente o patrocínio não dá, não é fácil e não tem como sobreviver do esporte. Se eu conseguisse, tenho certeza que estaria muito melhor, mas não tem como.




Jornal do Sudoeste: O que a corrida significa para você hoje?
Daniel Duarte Naves: Tenho muito orgulho em dizer que meu ídolo é meu pai. Eu me espelho muito no que ele fez e no que ela faz para chegar na idade que está correndo. Sinto-me lisonjeado. Eu defendo a camisa de Paraíso com unhas e dentes, já tive a proposta de correr por outras cidades e não fui, porque eu não me vejo fazendo isso por outro lugar, a minha casa é aqui. Eu não corro por dinheiro, eu quero me manter durante mais alguns anos neste nível, tenho alguns sonhos como fazer uma prova na Europa e estou me organizando para isto. É gigantesca a emoção que eu tenho de poder e ser espelho para algumas crianças e adolescentes que estão vindo aí. Graças a Deus não tenho vício nenhum, meu vício é a corrida. Temos que nos espelhar em pessoas boas, e eu me espelho muito no meu pai, que é meu herói e sempre me deu educação para continuar. Minha família também me dá muito apoio, minha mãe, minha esposa e minha filha que também adora corrida, se Deus quiser, quero que ela e meu caçula também siga este caminho. 




Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz desses 32 anos?
Daniel Duarte Naves: É de uma vida muito boa, humilde na infância, mas eu cresci e amadureci muito até meus 18 anos, quando eu soube o que eu queria da vida, principalmente andar com as minhas próprias pernas, com a o apoio da família, sabendo que eu queria algo na vida. Hoje eu vejo que a corrida me completa. Tenho alguns objetivos gigantescos, que eu vou conseguir. O principal é uma maratona na Europa e este ano farei minha estreia em um maratona em Florianópolis, dia 3 de junho, 42 Km, estou treinando para isso. Foram 32 anos de muita correria, muita felicidade, formei minha família e graças a Deus não tenho nenhum passado que me condene. Eu gosto do que eu faço, do meu trabalho, amo a minha família, que é meu porto seguro, e se Deus me permitir serão mais 100 anos vivendo desta maneira, correndo e sempre com o apoio da família.