Eu as chamava assim, melodias interrompidas, porque vinham sem aviso prévio e partiam quando atingiam o objetivo. E não adiantava tentar seguir-lhes os rastros, as pegadas, porque não havia. Era como se viessem do vazio, do éter, do infinito, quando e onde queriam.
Era um dinheiro que chegava na quantia certa e na hora exata, legítimo, mas completamente inesperado. Era também um pequeno acidente com o carro, coisa de pouca monta, mas que me trazia despesas. Algo como um puxão de orelhas, nem sempre por uma causa fácil de encontrar. Mas que sempre existia!
No acidente com o avião que levava o time da Chapecoense, quantos "acasos" aconteceram, pessoas que iam e não foram (até por causa de um claro pressentimento!), outras que à última hora foram convocadas para o time... e chamadas pela morte!
"Deus não joga dados com o Universo", é uma frase célebre de Einstein, referindo-se à Física Quântica (com a qual no início ele não concordava muito), mas que, olhada filosoficamente, faz muito sentido, porque elimina de nosso vocabulário três palavras muito usadas: sorte, azar e coincidência. Teremos, aos olhos do Criador, menos valor que os lírios do campo, ou as aves do céu?
Alguns anos atrás eu gostava muito da frase: ver para crer. Hoje, continuo gostando, só que mudando um pouco a ordem das palavras: crer para ver. Isso porque, assim como olhos míopes não vêem particularidades, olhos cépticos não enxergam transcendências. Nunca tocam almas com a ponta de seus bisturis, conforme já se expressaram alguns médicos materialistas famosos. Dessa forma, se olharmos para a natureza acreditando apenas naquilo que nossos sentidos nos mostram, abstraindo-nos de tudo que é subjetivo, nada fará sentido e caminharemos pela vida usando tapa-olhos, como aqueles colocados em burros, para que só vejam o que está à sua frente.
Acreditar, não por temor da ira de qualquer divindade, ou com a ideia pequena de atrair as benesses de Deus para nossos bens e nossa família, mas, como fruto de uma busca por dezenas de anos, por centenas de livros, por muitas lágrimas é... como o surdo dentro de uma floresta que, recuperando o sentido da audição, começa a ouvir o canto dos pássaros, o murmúrio das águas do regato, o barulho emitido pelas patinhas dos grilos, o chiado das cigarras. Ele escuta!
O apóstolo Paulo, em carta aos Hebreus, fala em "nuvem de testemunhas", referindo-se aos numerosos espíritos que nos rodeiam e nos influenciam. Os executores das melodias interrompidas...