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Academia Paraisense de Cultura

POEMAS PARA O DIA DA MULHER
Por: Nelson Duarte | Categoria: Cultura | 10-03-2018 13:03 | 915
Foto: Reprodução

Luiz Carlos Pais




Escolhi alguns poemas para homenagear as mulheres nessa data especial e nessa oportunidade que tenho de rever meus amigos. Mais do que isso, sempre que posso, retorno ao lugar onde sempre estive, a nossa querida Paraíso. Posso estar morando distante, onde fui levado pelos desafios da vida, onde constitui com a Maria Sakate, minha família japonesa, mas continuo paraisense. Quero aproveitar essa oportunidade para confessar a saudade que tenho da querida terra, das pessoas que estão sempre em minha memória, que ainda frequentam a sapataria da minha infância, as escolas onde estudei e os escritórios onde trabalhei. Para externar esse sentimento, lembro aqui de um poeta sul-mato-grossense, chamado Ulisses Serra, que há 50 anos escreveu: “Se eu morrer alhures, onde quer que seja, morrerei um exilado e um proscrito de mim mesmo. Como sucedia aos antigos egípcios, minha alma, aflita e errante, esvoaçaria pelo infinito sem nunca encontrar abrigo. Aqui não morreria de todo. Ouviria os passos e a voz dos meus amigos, o gorjeio dos pássaros que amo, o farfalhar das frondes que conheço e o bater do coração da minha casa.”
É com esse sentimento do eterno retorno, que escolhi alguns poemas que li e que falam de mulheres poetisas, mães, mestras, esposas e religiosas. Prestam homenagem àquelas que cultivam seus dons, muitas vezes, no silêncio do lar, dedicam anos de trabalho para que outras pessoas possam florescer.
A Academia Paraisense de Cultura, presidida pelo acadêmico Reynaldo Formaggio Filho, em reunião realizada na noite de quarta (7/3) em sua sede recebeu a psicóloga Andrea Tubaldini que apresentou palestra com o tema “Felicidade”.
O acadêmico honorário Professor Luiz Carlos Pais proferiu a mensagem exordial, poesias em homenagem ao Dia Internacional da Mulher.Acompanhada pela acadêmica Mirian Lauria Mantovani, a acadêmica Roselisa Dramis Tubaldini interpretou as melodias “Felicidade” composta por Lupicínio Rodrigues, e Paz do Meu Amor, composição de Luiz Vieira.
Homenagens às Mulheres de igual maneira foram feitas pela Professora Martha Dib e pelo acadêmico Sebastião Pimenta Filho.




MOTIVO
Cecília Meireles 
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.




Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.




Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.




SONETO DA FIDELIDADE
Vinícius de Moraes
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento




Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento




E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama




Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure




ÀS MÃES
José Paes
Olhai bem cedo as flores tão divinas
Dos viçosos jardins de nossos lares;
Tomai das águas puras, cristalinas,
Que eternamente rolam para os mares.




Fitai as flamas quase alabastrinas
Das velas entre lírios nos altares;
Com as nobres faculdades femininas
Sondai em suma todos os lugares!




E se o fizerdes vós atentamente,
Haveis de ver que não existe nada
que tanta perfeição vos apresente,




Quanto o amor vindo do materno seio:
Ele é a virtude excelsa, mais sagrada,
Que tende vós, ó mães que homenageio!




FREIRA
Noraldino Lima
Com a mão pousada sobre o níveo seio
e orfando o seio sob a mão nevada
flôr de cera, estrangula-se no meio
de círios e cilícios ajoelhada.




Há no seu todo o aspecto de quem veio
dessa que fulge além doce morada,
onde ela, entre a esperança, entre o receio,
tem a alma sofredora mergulhada.




Reza, e a oração se vai, longe do mundo;
soluça, e no gemido cavo e rouco
palpita um drama que não tem segundo.




Súbito treme, e se confunde, e cora...
É que lhe bate ainda no peito um pouco
do coração que ela deixou lá fora.




QUERIDA MESTRA
Luiz Carlos Pais
Querida mestra das primeiras letras
Com quem aprendi a escrever o nome
A soletrar sílabas para compor a vida
Na memória ainda guardo sua beleza.




A harmonia dos seus gestos e histórias
E a leveza como ensinava a tabuada
Os números, o ditado e a composição
Ainda retorno para reler suas lições.




Banhadas em versos encantadores
Repletas de virtudes, zelo e amores
E de palavras grafadas no caderno.




Milhares de sonhos foram semeados
E estão vivos em minha consciência
Foi por tudo isso que me fiz professor!