O gerente de Gestão da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, Marcelo São Julião, é um servidor que há anos se dedica a administração da Ação Social (posteriormente desmembrada da Secretária Municipal de Saúde). Há anos Marcelo também se dedica ao trabalho que busca dar às famílias que necessitam o essencial para viverem suas vidas de forma digna. Sempre comprometido com o seu trabalho, ele conta que é impossível descrever uma única história que o tenha marcado, já que a cada vez que toca o telefone, é uma emoção diferente. Aos 41 anos, casado com a Rosana, e filho da costureira Marisa Alves São Julião e de José São Julião (já falecido), tem outras quatro irmãs, três mais velhas e uma mais nova, Silvana, Adriana, Juliana e Viviana. É com acolhida carinhosa que ele recebeu a reportagem do Jornal do Sudoeste para falar um pouquinho da sua vida e da sua carreira, que junto de toda equipe do Desenvolvimento Social, realiza um importante trabalho no município.
Jornal do Sudoeste: O único homem e meios a essa mulherada, como fui isso?
Marcelo São Julião: Foi muito tranquilo. Eu e minhas irmãs fomos criados de forma muito correta, tivemos um bom exemplo dos nossos pais e a família sempre foi muito unida, nunca tivemos problema de relacionamento entre e a gente e, apesar de tudo o que passamos, somos muito unidos e carregamos isso com a gente até hoje. Já a infância, também foi muito tranquila, na época nós tínhamos muitos amigos e eu sempre vivi no Centro, próximo ao Largo São José, onde morei até os meus 32 anos, quando me casei. O grupo de amigos ainda é o mesmo, que nasceu e viveu no mesmo lugar a vida toda e ainda temos nossos pais que moram lá e sempre que passamos por aquele pedacinho, no reencontramos, apesar de cada um estar morando em um lugar diferente.
Jornal do Sudoeste: Como foi sua formação acadêmica?
Marcelo São Julião: Eu comecei no Coronel José Cândido, depois no Paraisense, fiz o técnico em Contabilidade na Escola Técnica de Comércio São Sebastião, depois estudei Ciências Contábeis na, até então, Faceac, e fiz pós-graduação em Sistema de Informação pela Unifran e, mais recente, técnico em Cafeicultura pelo Instituto Federal de Muzambinho; este último foi assim que surgiu a possibilidade do ensino à distância oferecido no município em parceria da Prefeitura com o IF de Muzambinho. Foi a primeira turma e nove se formaram neste curso, poucos souberam aproveitar o que foi oferecido, tudo gratuito. Pelo o que eu tomei conhecimento sobre ensino à distância à época, nada se compara ao que é ofertado pelo IF de Muzambinho devido à qualidade e a cobrança.
Jornal do Sudoeste: Por que você decidiu estudar contabilidade?
Marcelo São Julião: À época eu tive a oportunidade de fazer o curso Técnico de Contabilidade, e já trabalhava no comércio, na parte administrativa, no Carmo Paschoini, onde fiquei por cinco anos, foi quando eu encerrei meus estudos e o caminho mais simples para o ingresso à faculdade, e uma das melhores oportunidades no momento para quem tinha condição de viver aqui, era fazer Ciências Contábeis. Sempre encarei da seguinte maneira: toda empresa por obrigação, e respeitando a legislação, necessita de um contador que assine os balanços e cuide dessas questões técnicas, mas não há necessidade da empresa ter um administrador, principalmente em uma cidade como Paraíso, onde a maioria das empresas são familiares. Porém, as Ciências Contábeis, toda empresa, independente do tamanho, necessita do aporte de um contador. Foi através dessa visão que eu decidi fazer o curso.
Jornal do Sudoeste: Depois de formado você chegou a atuar na área?
Marcelo São Julião: Eu não cheguei a atuar na área diretamente, como assinando balanços, por exemplo. Não optei por essa área. Como eu era empregado em empresas que já tinha seus contadores, eu fazia parte da contabilidade, mas quem fazia o fechamento contábil era outro setor responsável. Mas a formação em Contabilidade me ajuda até hoje, até mesmo sobre a questão social do município, não ajuda somente a mim, mas ao meu setor, já que sou o único com essa formação. Quando temos contato com outros municípios, as pessoas veem que estamos um passinho à frente por ter um contador ajudando na parte administrativa, no funcionamento do Desenvolvimento Social, ao passo que os outros dependem de outros setores por não ter essa noção de execução orçamentária, por exemplo.
Jornal do Sudoeste: Como foi seu ingresso à prefeitura?
Marcelo São Julião: Depois que sai da empresa Carmo Paschoini, recebi o convite para trabalhar na empresa Luiz Tonin, onde atuei como estagiário e depois como contratado por quatro anos. Após esse período, em meados da primeira gestão da então prefeita Marilda Melles, recebi o convite para vir para a Prefeitura para fazer o trabalho de montagem e reestruturação, junto de outros três funcionários, da Gerência de Arrecadação e Fiscalização de Tributos, que foi quando ela foi de fato montada no município. Eu permaneci como fiscal por cerca de dois anos, após prestei concurso, como agente administrativo, e permaneci por aproximadamente mais seis meses na fiscalização. Em seguida fui direcionado para a tesouraria e posteriormente convidado a ir para a Secretaria de Saúde e Ação Social. Trabalhei cinco anos na Saúde, diretamente, mas após, por intermédio do ex-prefeito Mauro Zanin, eu fui direcionado para a gerência da Ação Social, onde eu venho cuidado da parte administrativa há oito anos.
Jornal do Sudoeste: Como foi esse início?
Marcelo São Julião: Quando eu cheguei aqui, ainda era em conjunto com a Secretária Municipal de Saúde. No projeto do ex-prefeito Mauro ele queria fazer esse desmembramento entre a Saúde e Assistência Social, já havia à época recomendação do SUS para isto. Assim, eu fui enviado para cá para ficar como responsável de toda a parte administrativa da então futura Secretaria de Desenvolvimento Social. Aqui, comecei a ter conhecimento sobre a área, à época um setor muito acanhado, com poucos funcionários, tínhamos apenas um Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), estávamos iniciando a implantação e no início do Sistema Único de Assistência Social (Suas) a nível Nacional. A partir de então passei a ter mais conhecimento sobre o SUS, estudei muito como essa situação vinha se desenhando, atendendo as legislações e administrando, buscando fazer isso da melhor forma possível. Estamos lutando até hoje desta forma.
Jornal do Sudoeste: Houve uma evolução da Assistência Social no município?
Marcelo São Julião: Sim. Podemos dizer que evoluiu muito e um marco para todos nós foi 2017, quando definitivamente, pela gestão atual, eles desmembram a Gerência de Ação Social a tornando uma Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. Então, para todos os servidores da área foi muito importante, porque a gente passa a ter maior autonomia e a facilidade de estar fazendo a própria administração dos recursos e ações, dando assim acesso muito rápido à população e tendo a mesma prioridade que as demais políticas que o município desenvolve.
Jornal do Sudoeste: Qual o papel do Desenvolvimento Social no município?
Marcelo São Julião: O nosso principal objetivo é promover a inclusão social das pessoas dentro da comunidade, ajudando aquele indivíduo que está à margem da pobreza, em situação de vulnerabilidade social, a restabelecer a vida para que ele possa ter condição digna de sobrevivência. Assim, trabalhamos com o desenvolvimento social da pessoa, não é assistencialismo. Há muito tempo a assistência social era tratada como “entrega de leite”, “entrega de cesta-básica”, enfim, assistencialismo, que é você dar algo sem esperar um retorno. Por isso trabalhamos com o “desenvolvimento social”, o trabalho que realizamos aqui nós ensinamos as pessoas a usarem as ferramentas disponíveis a elas, fazendo uma alusão, nós damos a vara e ensinamos ao cidadão a pescar, para que ele possa sair da condição que ele se encontra.
Jornal do Sudoeste: A questão da vulnerabilidade é preocupante em Paraíso?
Marcelo São Julião: É uma questão preocupante, não só no município, mas a nível nacional. Podemos dizer que vivemos em uma região muito rica se compararmos a outras, como Norte do estado e Nordeste. Se você conhece esses lugares, e transfere essa visão para cá, nós vivemos praticamente no paraíso. Apesar de todos os problemas que nós temos, estamos muito mais próximos de recursos, tanto de saúde e educação, quando a questão social que é muito mais evoluída em relação a essas regiões. A vulnerabilidade muitas das vezes tende a ser uma questão transitória na vida da pessoa. Nesse contexto, entra a Secretaria com toda sua equipe para ajudar a pessoa a transpor essas barreiras de vulnerabilidade. Além disso, há políticas públicas, como o Bolsa Família, que é um benefício que vem do Governo Federal, para auxiliar as pessoas, e não para manter famílias. Para nós, aqui na nossa região, Sul e Sudoeste, esse valor é muito pequeno e não dá para manter as mínimas condições do que uma família necessita. O custo de vida nosso é um pouco alto, então essa ferramenta e outras vêm para amenizar a situação, porém as situações de vulnerabilidade social que nós encontramos aqui são condições passageiras. Nós vivemos em uma situação de crise, falta emprego e se tivéssemos condições de ofertar empregos à população essas situações tenderiam a se encerrar, não somente social, mas de saúde e educação.
Jornal do Sudoeste: Tudo deságua na Defesa Social, não é mesmo?
Marcelo São Julião: Sim, tudo deságua no social. Às vezes uma família tem uma renda suficiente para sobreviver, mas acontece de alguém ficar doente e aquele recurso passa a ser canalizado para aquele membro que precisa. Então, aquela família passa a viver uma situação de vulnerabilidade momentânea. É um contexto muito complexo de entendermos e pontuar, porque cada situação é única, são situações diferentes e cada família passa por um momento diferente.
Jornal do Sudoeste: Há alguma história que tenha te marcado ao longo desses anos na Assistência Social?
Marcelo São Julião: É muito difícil apontar uma história, porque a cada vez que toca o telefone é uma emoção diferente que a gente sente. Não existe uma rotina de trabalho aqui dentro, cada hora é uma situação e são sempre diferentes e que demandam o empenho de todos para que consigamos solucionar. São muitas casos marcantes que envolvem crianças, pessoas idosas, então é difícil mensurar.
Jornal do Sudoeste: E como seu coração aguenta a isso tudo?
Marcelo São Julião: Não sei dizer ao certo, mas é uma dádiva de Deus. Nós somos colocados em um lugar para exercer uma função, sem explicação do porquê e fazemos nosso trabalho, sempre motivados, com ânimo e vontade de estar aqui. Nós não trabalhamos por dinheiro, é pela causa, se você não vir aqui com essa vontade de trabalho, infelizmente não irá conseguir fazer nada, não irá conseguir andar, porque o estado emocional que exige da pessoa é muito grande.
Jornal do Sudoeste: Há muitas dificuldades nesse setor?
Marcelo São Julião: O nosso maior desafio é tentar fazer o muito com pouco. Desde que eu estou aqui, a verba que é passada para a Assistência Social é praticamente a mesma, não houve reajustes, mas havia a promessa de reajuste em agosto do ano passado em um programa, que tínhamos uma expectativa boa, mas que não ocorreu. Atendemos a inúmeras famílias, que fazem uso das ferramentas da Secretária, como o CRAS E CREA, fora os atendimento espontâneos como a questão dos trabalhos com os moradores de rua.
Jornal do Sudoeste: E a quantas anda esta situação em Paraíso?
Marcelo São Julião: A gente desenvolve um trabalho junto a esses moradores, por meio da equipe do CREAS. São pessoas que costumamos chamar de migrantes, que ficam um tempo, depois vão embora. Em contato com eles, eles costumam dizer que a população é muito receptível, que o que eles pedem a população oferece, como alimento e dinheiro. Não que a população não tenha que ajudar, mas isso acaba criando um vínculo e eles permanecem no município. Por isso a gente pede que ao invés de dar dinheiro, que o cidadão ofereça a informação, oriente a esses moradores a buscar a Secretaria. Muitos dos casos são de pessoas desaparecidas, que a família está procurando, há toda essa situação. Alguns casos, quando a gente faz intervenção, a pessoa não sabe nem dizer de onde é ou está sem documento e, apesar de conseguirmos a segunda via com essa facilidade, às vezes ele não sabe nem dizer de onde é e para a gente conseguir entrar em contato com o cartório. É uma situação muito delicada, às todos os tipos de pessoas dentro desse grupo.
Jornal do Sudoeste: Qual a importância do CRAS e do CREAS para o município?
Marcelo São Julião: O CRAS faz parte da proteção social básica, ele é a porta de entrada para os serviços da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. É como se fosse uma USF, aquele órgão que está presente lá no bairro, cuidando para que não haja rompimento dos vínculos familiares. Já o CREAS é quando esse rompimento ocorre, ou seja, quando há situação violência, abusos entre outras questões. Essas pessoas envolvidas são encaminhadas para o CREAS onde há atendimento especializado somente em cima daquela situação, daquele contexto e, assim que reestabelece o vinculo, ela é reencaminha para o CRAS que irá fazer todo o acompanhamento.
Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz desses 41 anos?
Marcelo São Julião: São 41 anos muito bem vividos, com uma família excelente, uma esposa e companheira excepcional, a família dela também é muito companheira, muito exemplar; posso dizer que eu só tenho a agradecer, aprendi demais, fora a questão educacional, a vida também ensina muito. É difícil planejar a vida, porque fazemos planos de um jeito e Deus prepara de outro, mas eu ainda vejo que sonhar é o melhor caminho, uma pessoa sem sonhos, sem objetivos é entregue ao dia a dia, viver se torna chato. A gente tem que sonhar, tem que ter vontade de realizar os sonhos e se alcançou, por que não buscar novos sonhos?