A arquiteta Maria Julia Campos Pedroso Gomes é uma empresária dedicada ao trabalho e ao amor pela profissão. Sempre antenada, e com uma visão voltada para o futuro e desenvolvimento, ao lado do marido, o médico Arlei Preto Gomes (já falecido), que fundou a Ampara e o Bom Trabalho no município, aprendeu como se tornar uma mulher empresária e, mesmo diante da perda dele, nunca deixou de buscar por conhecimentos e por se arriscar do mundo do empreendimento. Aos 58 anos, a mãe do músico Daniel Piquê não pretende parar tão cedo com as atividades e destaca que enquanto viver estará sempre em busca de novos conhecimentos e também de compartilhar o que aprendeu, aliás, para ela, é a educação, principalmente infantil, o que poderá garantirá um futuro mais próspero ao nosso país.
Jornal do Sudoeste: Você é natural de Santos. Como chegou a Paraíso?
Maria Julia: Sim, eu nasci e morei durante oito anos em Santos (SP), mas a família da minha mãe e toda daqui de Paraíso. A minha mãe, Maria de Lourdes Campos Pedroso, é filha do Antônio de Campos, que foi gerente em um banco aqui em Paraíso. Já meu pai, Ruy de Mello Pedroso, era natural de São Paulo e quando meu avô materno foi para Santos, ser gerente de uma agência bancária lá, então meus pais se conheceram, casaram-se e eu nasci. O meu marido era daqui de Paraíso, e quando nos casamos decidimos ficar morando aqui, e aqui estou há mais de 30 anos.
Jornal do Sudoeste: Você morou em muitos lugares ao longo da infância e juventude, como foi isso?
Maria Julia: Sim, meu pai trabalhava para a Varig, e por conta do trabalho nós nos mudávamos de tempo em tempo. Em Santos mesmo eu vivi por oito anos e minha infância não foi somente em um lugar. Porém, tive vários amigos e mesmo indo embora de onde eu estava, mantínhamos contato por cartas, não havia aquela facilidade que tem hoje com o Facebook. Nós moramos em Curitiba, São Paulo, na minha adolescência meu pai foi morar no Chile e nós até chegamos a viver lá por um tempo, eu e minha irmã, a Maria Tereza Pedroso Mafía, que vive atualmente em Curitiba. Mas isso foi em 73 o Chile enfrentava uma crise política séria à época e tivemos que voltar. Depois disse também chegamos a morar em Belém do Pará. Quando eu comecei a faculdade em Curitiba, meu pai foi transferido novamente, desta vez para Brasília, para onde transferi meu curso e me formei.
Jornal do Sudoeste: Você já conhecia Paraíso antes de vir morar aqui?
Maria Julia: Sim. A família da minha mãe veio de Itamogi pra cá e sempre morou aqui desde então. Nós costumávamos ter aquelas férias mais longas e sempre passávamos aqui, porém vir para morar foi somente quando me casei, em 1988. O meu marido também era daqui, Arlei Preto Gomes, ele que era médico. Eu o conheci aqui em Paraíso, aos 18 anos, e tivemos um filho, o Daniel Pedroso Gomes, mais conhecido como Daniel Piquê, que atualmente mora em Ribeirão, ele é músico.
Jornal do Sudoeste: Por que Arquitetura?
Maria Julia: Era uma faculdade que eu sempre quis fazer, desde muito pequena. Porém, um pouco antes de me formar eu prestei um concurso para o Banco do Brasil e passei. Depois que me formei não tinha emprego e eu precisava trabalhar. Antigamente, como era regional, podíamos escolher para onde queríamos ir e escolhi ir para Itajubá, onde o Arlei estudava medicina. Fiquei quatro anos por ali, depois nos casamos e viemos para Paraíso, em 1988. Eu atuava como arquiteta paralelamente ao serviço bancário, apesar de não investir muito do meu tempo nisto, tanto que quando vim para Paraíso montei um escritório e trabalhava de tardezinha e à noite.
Jornal do Sudoeste: E você chegou a deixar o serviço bancário depois que veio para Paraíso?
Maria Julia: Sim. Nesta época meu filho tinha feito um ano, então eu decidi sair do Banco porque já não conseguia mais conciliar as duas coisas. À época, o Arlei começou a se envolver mais com administração e fundou a Ampara, sempre o ajudei nessa parte. Como eu estava apenas com o escritório de arquitetura, decidi usar meu tempo para ajudá-lo. Trabalhamos para fundar a Ampara e, nesse meio tempo, ele comprou o serviço de Medicina do Trabalho e Engenharia de Segurança que a Ampara tinha e não queria mais mexer com isso, então ele fundou o Bom Trabalho, mas após o falecimento dele eu vendi a minha parte e fundei a Besser.
Jornal do Sudoeste: Vocês sempre tiveram essa visão empreendedora?
Maria Julia: Sempre. E tudo o que eu sou hoje eu aprendi com ele, até então eu era mais da parte artística, de criação e, de um dia para o outro, vi-me administrando uma empresa inteira, porém, graças a Deus, durante quinze anos trabalhando com ele, aprendi como fazer isto, então não houve muito choque nesse sentido. Mesmo assim, após o falecimento dele, eu fui cursar Gestão Empresarial para entender melhor como funcionava uma empresa e passei a pensar em investir mais o meu tempo em Arquitetura e fiz algumas pós-graduações voltadas nesta área e também tive oportunidade de fazer um curso de Design de Interiores, na Politécnica em Milão, em 2015. Atualmente montei um escritório em Ribeirão Preto, que é um mercado mais acessível.
Jornal do Sudoeste: E como está a situação deste mercado hoje? A arquitetura tem sido muito visada?
Maria Julia: Isso depende muito da cultura do lugar. Até hoje, e já estou há 31 anos em Paraíso, as pessoas ainda confundem o que é arquiteto e o que é engenheiro civil. O arquiteto acaba sendo encarado como alguém de elite, mas felizmente isto está mudando. Todas as pessoas precisam e merecem um arquiteto na vida. A arquitetura é muito voltada para as ciências humanas e nós aprendemos no curso, entre as muitas disciplinas, Sociologia e Psicologia, porque nós precisamos conhecer e entender quem vai morar na casa, tanto que a parte mais importante é a entrevista que nós fazemos com a família e, a partir desta entrevista, nós passamos a montar o sonho da pessoa e, paralelo a essa psicologia, eu busco sempre agregar o conforto ambiental, muito praticado atualmente, como a questão da ecologia e sustentabilidade.
Jornal do Sudoeste: E como estão estas questões atualmente, tem ganhado público?
Maria Julia: Até que as pessoas têm consciência de que precisamos reutilizar água e fazer uso de energia sustentável como a solar, mas esses produtos ainda são muito caros no mercado para adquirir. Deve levar um tempo ainda até as pessoas entenderem que este custo ao longo do tempo vai se pagar, que é um investimento a longo prazo. Mas está caminhando muito bem, acredito que o Brasil está começando a despertar para isto, para essa nova modalidade de arquitetura que é mais social, que pensa no ser humano e não é nada pomposo. A moda hoje é viver num lugar pequeno e com economia. Tive a oportunidade de ir para a Dinamarca e lá eu fui a um bairro novo planejado em Copenhague e eu fiquei impressionada porque as casas, apesar de não serem muito pequenas, são confortáveis e nenhuma tem garagem, o que há é um suporte para bicicleta. Lá todo mundo usa transporte coletivo, metrô e bicicleta. Parece algo de outro mundo. É uma realidade que está funcionando.
Jornal do Sudoeste: Você acredita que é possível um modelo assim para Paraíso?
Maria Julia: Sim, é possível, mas eu acredito que isso deva começar nas grandes cidades, que estão no “fundo do poço”, já não têm mais onde caber tanto carro e, a partir daí, chegar ao interior. Apesar de que, em Ribeirão Preto, por exemplo, os novos bairros já estão sendo criados com ruas mais largas, com ciclovias e pensando mais no ser humano que no carro. Em Paraíso, por exemplo, acredito que poderia melhorar o transporte público porque o cidadão espera muito no ponto e há poucas unidades circulando. Para ciclovia é complicado, por conta da topografia da cidade, que não favorece muito, mas acredito que é possível, sim, se pensar num modelo nesse sentido para nossa cidade, até mesmo para ser um modelo para as outras cidades da região. Há tantos estudantes, pessoas vindas de fora, então Paraíso tem tudo para crescer e se desenvolver e evoluir nesse novo século.
Jornal do Sudoeste: E você está sempre atrás de desafios, não é mesmo?
Maria Julia: Eu sempre busco desafios, coisas novas. Estou começando a integrar uma equipe em Ribeirão Preto de Arquitetura Sustentável, onde há um americano, o Mike Reynolds, que tem um projeto de construção da primeira escola sustentável do Brasil e ele escolheu Ribeirão para isso. É uma fonte de conhecimento que eu não posso desperdiçar, então estou atrás disto e querendo aprender muito. Tudo o que eu buscar de conhecimento, trarei para Paraíso, e quanto eu estiver aí vou sempre estar trabalhando, não vou parar porque eu gosto muito do que eu faço.
Jornal do Sudoeste: Você tem algum projeto que pretender realizar a curto prazo, pode adiantar algo?
Maria Julia: Eu tenho muitas ideias e até o final do segundo semestre deste ano pretendo abrir uma segunda empresa aqui em Paraíso. É um “Coworking”, uma empresa que disponibiliza espaço compartilhado, são vários espaços onde as pessoas trabalham juntas ou em salas separadas. Será um ambiente bem legal e que não existe aqui na região. Acredito que isto é uma coisa do futuro, porque as pessoas estão com muitas dificuldades de pagar suas contas no ambiente de trabalho, então, se isso for compartilhado, fica muito mais barato.
Jornal do Sudoeste: Ainda continua sendo difícil empreender?
Maria Julia: Em 2016 e 2017 foi bem complicado. Infelizmente eu tive que “enxugar” minha empresa, dispensar alguns funcionários, até mesmo para balancear as contas, porque tudo subia muito além do que eu podia colocar nos meus contratos como reajuste, então ficou muito complicado. O Brasil inteiro sofreu com tudo isso e as grandes empresas sofreram muito mais. Porém, graças a Deus, conseguimos contornar a situação e hoje estamos em situação bem melhor, em uma ascendência e isso me deixa muito feliz porque, realmente, passamos por maus bocados. Eu acredito que tudo é questão de criatividade e é na hora do aperto que você mostra que você sabe lidar com a situação e levar o seu negócio para frente.
Jornal do Sudoeste: Alguma perspectiva para o futuro?
Maria Julia: Além da empresa nova que eu vou abrir, a cada ano eu gosto mais do que eu faço e quando a gente coloca amor naquilo que faz e que está dando certo, é estimulante. Para essa nova empresa eu também quero trabalhar bastante. Acredito que as perspectivas são essas, trabalhar muito.
Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz desses 58 anos?
Maria Julia: Que valeu muito a pena tudo, cada cidade que por onde passei, cada pessoa que conheci nessa caminhada. Eu sempre busco agregar conhecimento, aprender com os outros e passar esse conhecimento adiante, porque nós estamos neste mundo para ajudar uns aos outros e quero ainda ver meu filho bem, e acredito que é isto o que toda mãe quer, ele já é uma pessoa de bem e é o meu maior orgulho e reconhecimento de que fiz a coisa certa. Acredito que seja isto, paz para todo mundo e que eu tenha uma velhice tranquila e ainda muito trabalho pela frente, não vou para.