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Érika Moreira Coelho: Ensinando que sonhos sempre podem se tornar realidade

Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 23-04-2018 09:04 | 8500
 Érica Coelho durante muitos anos atuou como professora de inglês e, atualmente, dedica-se à arquitetura e urbanismo
Érica Coelho durante muitos anos atuou como professora de inglês e, atualmente, dedica-se à arquitetura e urbanismo Foto: Reprodução

A publicitária, arquiteta, urbanista e paisagista Érika Moreira Coelho é uma mulher que podemos definir como multitalentosa. Com formação em Língua Inglesa e diversas especializações, durante muitos anos lecionou inglês em São Sebastião do Paraíso após se mudar para cá de sua terra natal, Belo Horizonte, aos 24 anos. Desde muito pequena sempre buscou aprender de tudo um pouco, reflexo dos pais, o artista plástico e jornalista aposentado do Jornal Estado de Minas, Cristiano Ribeiro Coelho, e da contadora e marchand Marilene Heloísa Moreira de Lima. Érika tem outros dois irmãos mais novos, o Gustavo, pai do Natan, de 4 anos, que vive em BH e é promotor de eventos, e do Bernardo, que é engenheiro mecânico e mora na Austrália com a esposa. Érika é casada com o gerente da Regional Sudoeste de Minas da Copasa, o engenheiro Flávio Bócoli, e juntos tiveram uma filha, a médica Mayra. É sem perder o sorriso e a alegria contagiante, e também comovida, que ela conta um pouco da sua história ao Jornal do Sudoeste. 




Jornal do Sudoeste: Filha de um artista e jornalista, e de uma mar-chand. Como foi sua infância?
E.M.C.: Fui muito amada pelos meus pais e tive uma infância muito rica culturalmente. Como meu pai um artista plástico – pintor, estava sempre pintando e desenhando –  e minha mãe comercializava obras de arte, eu frequentava exposições e convivia com muitos outros artistas. Quando eu era criança meu pai era responsável pelo Suplemento Infantil do Jornal Estado de Minas e criou uma personagem com meu nome, e todo domingo a Érika estava envolvida em alguma travessura divertida ilustrando a capa do Gurilândia. E como sempre gostei muito de aprender coisas novas, fiz todos os cursos que tive oportunidade de fazer: piano, balé, desenho arquite-tônico e vários outros. Também estudei línguas, tanto que quando me mudei para Paraíso a primeira atividade que eu exerci foi lecionar Inglês. 




Jornal do Sudoeste: Sendo filha de jornalista, você se formou em publicidade. Por quê?
E.M.C.: Eu tinha experiência com o desenho arquite-tônico e gostava muito de arquitetura, então prestei vestibular para o curso de Arquitetura e Urbanismo, mas também para o curso de Comunicação Social. Creio que era muito jovem para escolher uma profissão, tinha apenas 17 anos, e, como não passei em arquitetura e não queria ficar fazendo cursinho, então, por influência do meu pai, comecei a fazer Comunicação Social e no terceiro ano, quando eu poderia optar por Jornalismo, Publicidade e Propaganda ou Relação Pública, escolhi Publicidade. Entrei com a intenção de fazer jornalismo, mas quando cheguei nessa fase de escolher, na primeira aula de jornalismo, quando me deparei com uma sala cheia de máquinas de datilografar achei que não sobreviveria àquilo e mudei para Publicidade. Enquanto fazia essa graduação, trabalhei na produção de anúncios para rádio e TV em agências de publicidade e produtoras de vídeo, atividade com que mais me identifiquei. Gosto muito da comunicação, tanto que acho que tirei partido deste meu lado de publicitária no ensino da língua inglesa. 




Jornal do Sudoeste: E o sonho de fazer arquitetura?
E.M.C.: Quando me formei em publicidade vi que era a arquitetura que eu realmente queria. Na época eu tinha 21 anos, já era casada, mas ainda não tinha a minha filha, então resolvi trabalhar na área para conhecer melhor a profissão antes de me ingressar na nova faculdade. Como tinha feito o curso técnico de desenho arquitetônico, trabalhei por dois anos com arquitetos em algumas empresas, mas nesse meio tempo eu engravidei, e quando a Mayra tinha um ano, nos mudamos para Paraíso. Então, o sonho de fazer arquitetura ficou para mais tarde.  Optei pela minha família, o que foi uma ótima decisão, pois todos se encaminharam com sucesso. Hoje a minha filha é médica formada pela UFTM e está no 3º ano de residência em otorrinolarin-gologia no Hospital de Base de São José do Rio Preto. O Flávio chegou ao cargo de gerente, fazendo carreira dentro da Copasa, e eu também consegui me realizar profissionalmente sendo muito feliz nas atividades que desempenhei.




Jornal do Sudoeste: Como se deu essa mudança para Paraíso? Você estranhou quando chegou aqui?
E.M.C.: A nossa ideia era realmente nos mudar para uma cidade menor, pois, já naquela época quando viemos de BH, era difícil viver em uma cidade grande. Por um ano me dediquei exclusivamente a criação de minha filha, e precisava voltar à atividade profissional, mas não queria deixá-la o dia todo em um escolinha para poder trabalhar; queria estar presente na vida dela, curtir a sua infância. Para o Flávio, natural de Muzam-binho, era ainda mais difícil enfrentar os congestionamentos e todo o estresse de uma capital. Então optamos por nos mudar para uma cidade do interior e foi muito boa, nossa vida ficou muito mais calma. Mas eu senti muita falta da vida cultural de BH, pois lá eu frequentava galerias de arte, cinemas, teatros; além da saudade da família e dos amigos.




Jornal do Sudoeste: Quando chegou aqui, o que você fez?
E.M.C.: Eu sou uma pessoa muito inquieta, não conseguia ser apenas a “esposa do Flávio”, mesmo naquela época, então, primeiramente, tentei trabalhar com arte, mas o mercado de Paraíso não era muito aberto para esta área, e nem para a Publicidade e Propaganda. Foi então que comecei a dar aulas de inglês, atividade que exerci por 23 anos, tanto que muitas pessoas me conhecem como professora de Inglês. Foi um período muito feliz na minha vida e ser professora veio como uma solução para aquele momento em que eu não queria ficar parada. Comecei a High School of English sem nenhuma pretensão, mas a escola, que inicialmente só oferecia a língua inglesa, logo cresceu e se transformou na High School - Cursos de Idiomas, oferecendo também Francês, Espanhol, Italiano e Alemão. Havia em média 120 alunos matriculados e, assim como os colegas de Paraíso e de Ribeirão Preto que lecionavam os outros idiomas, muitos deles se tornaram meus amigos. Nessa mesma época, fiz pós-graduação em Língua Inglesa e Letras à distância para complementar a minha formação. 




Jornal do Sudoeste: Onze anos administrando uma escola de idiomas, por que decidiu parar?
E.M.C.:  Fui muito bem recebida aqui, as pessoas confiavam em meu trabalho e a era bem sucedida, mas eu administrava a escola sozinha e ainda dava aulas. E quando a ETFG abriu e fui convidada a lecionar inglês lá, onde fiquei por dois anos e meio, passei a trabalhar de segunda a sexta-feira, das 7h às 22h e ainda preparava aulas e corrigia provas nos finais de semana.  Fiquei muito sobrecarregada, e depois de fazer um curso do Sebrae, o Empretec, compreendi que a melhor opção era vendê-la, uma vez que não teria condições de ampliá-la. Essa foi uma ótima decisão: obtive um bom retorno pelos 11 anos de investimentos, os alunos permaneceram na escola e ainda continuei dando aulas particulares e em empresas.




Jornal do Sudoeste: Como você gosta muito de línguas, fala outros idiomas?
E.M.C.: Sim, sempre gostei muito de estudar idiomas. Sou fluente no Inglês e também me viro no Italiano, Francês e no Espanhol. Adorava viajar, desde criança, e se você conhece a língua do país que você visita, tem condições de conhecer melhor seu povo e seus costumes. Mesmo depois de casada viajei muito em família e levando jovens para estudar Inglês nos Estados Unidos e na Inglaterra. Essas experiências ampliam nossos horizontes, e temos oportunidade de quebrar paradigmas e vencer preconceitos, comparando realidades e descobrindo o quanto o nosso país é maravilhoso e o quanto ainda pode melhorar. Como professora de inglês eu estimulava as pessoas a conhecer outras culturas, através de viagens ou pela busca de informações na internet. Preparava-as também para utilizar esse idioma profissionalmente e me sinto realizada em ver como o conhecimento do inglês e de outros idiomas tem ajudado os ex-alunos da escola. Trabalhar com educação, seja qual for a área,  é muito gratificante, pois você edifica um ser humano. Nosso país precisa investir mais em educação porque pessoas bem educadas e bem informadas fazem melhores escolhas, contribuindo para o desenvolvimento do país.




Jornal do Sudoeste: Como foi o retorno aos bancos da faculdade?
E.M.C.: Eu ainda estava lecionando Inglês quando surgiu essa oportunidade. Com a minha família toda encaminhada percebi que tinha tempo para me dedicar a uma nova faculdade. Em 2012, quando completei 25 anos de formada em Publicidade e Propaganda, comecei a cursar Arquitetura e Urbanismo.  E ao final do segundo ano do curso, resolvi encerrar definitivamente a minha carreira de professora e me dedicar exclusivamente a nova profissão de arquiteta e urbanista. Dessa maneira tive tempo para me dedicar aos estudos e aos trabalhos acadêmicos com todo meu empenho e ainda fazer uma especialização em Paisagismo na cidade de Holambra.




Jornal do Sudoeste: Você estranhou muito esse retorno?
E.M.C.: Eu estava muito empolgada, retomando um sonho antigo que nunca tinha sido abandonado e aguardava o momento certo para ser realizado. Nem mesmo levantar às 5h30 e chegar em casa por volta das 13h me cansava ou desgastava. Estava muito feliz. No início a minha preocupação foi sofrer algum tipo de preconceito por causa da idade, mas não aconteceu. Fui super bem recebida pelos jovens, fiz muitos amigos e acredito que a juventude hoje tem realmente uma cabeça mais aberta. Além disso, o recomeçar, em uma fase mais madura da vida, é algo que está ficando mais comum e as pessoas estão percebendo que, para quem gosta de estudar, não tem idade.




Jornal do Sudoeste: Qual foi a sua maior dificuldade durante essa fase?
E.M.C.: A informática. Nunca gostei muito de computação, e quando entrei na faculdade novamente me vi obrigada a dominar essa nova linguagem, ao passo que para meus colegas, já acostumados aos jogos eletrônicos, tudo era muito fácil e intuitivo. Mas pude contar com a ajuda dos meus amigos e descobri um novo universo, onde o virtual se confunde com o real. Contar com a tecnologia virtual em 3D facilita muito a visuali-zação de projetos, tanto para os profissionais como para os clientes, e hoje vemos nos anúncios de lançamento imagens de imóveis que parecem já construídos, mas que nem sequer saíram da fundação.




Jornal do Sudoeste: O que você mais gostou da faculdade?
E.M.C.: Seria impossível escolher. Gostei de todas as disciplinas, pois acho que me encontrei profissionalmente: dos estudos  sobre a História da Arte, da Arquitetura e do Urbanismo; do estudo sobre como os novos materiais que vem sendo criados e as novas maneiras de construir podem contribuir para o reaproveita-mento de recursos naturais e promover a sustentabilidade do planeta; da experiência de desenvolver projetos arquite-tônicos para diferentes usos: residências, comércios, escolas, hospitais, e muitos outros; e também projetos urbanísticos: loteamentos, propostas para melhorias urbanas, etc. Dentro do curso, a criatividade é desenvolvida com método, e poderia dizer que aprendi uma nova linguagem, que traduz o sonho de nossos clientes em espaços e formas eficientes e aconchegantes. O bom arquiteto deve interpretar o desejo daquele que pretende construir e indicar as maneiras mais práticas e econômicas de fazê-lo. Dessa forma o investimento num projeto arquitetô-nico gera economia para o cliente, pois evita os desperdícios e o retrabalho, tão comuns em obras que não contam com a assessoria de um profissional da área. E o bom urbanista, que atua no macro universo das cidades, deve interpretar as necessidades de seus habitantes e organizar seu deslocamento e convívio através do planejamento urbano. É um trabalho bem complexo, pois afeta a rotina de grandes grupos de pessoas, e tem que ser realizado com sensibilidade, mas de forma muito técnica e profissional para que tenha sucesso. Sabemos que é impossível agradar a todos, e que muitas vezes o “remédio” indicado é o mais “amargo”, então a tarefa de um urbanista, embora não muito conhecida, é de muita responsabilidade.




Jornal do Sudoeste: Você também se envolveu em alguns trabalhos sociais, como foi isso?
E.M.C.: Sempre gostei de trabalhos sociais, e quanto eu tinha a escola fiz campanhas no Dia de Ação de Graças e fiquei encantada com a solidariedade do povo de Paraíso. Na primeira campanha promovida, conseguimos encher uma Kombi com as doações que recebemos dos alunos e da comunidade em geral. Ajudamos instituições como o Lar Pedacinho do Céu e a Casa São Francisco, não só com doações, mas com trabalhos voluntários, como aulas de inglês, contação de estórias e formação de coral. Quando lecionava na ETFG, como eu estava começando a me sentir muito esgotada, passei a praticar uma ginástica chinesa terapêutica que se chama Lian Gong. Esta prática me ajudou tanto a combater o estresse que resolvi estudá-la e me tornei instrutora. Passei a dar aulas voluntárias desta ginástica no prédio do antigo Seminário, onde funcionava a ETFG, e atuei ali por nove anos. O grupo de adeptos do Lian Gong, que se formou em 1999, se reúne até hoje, ainda de forma voluntária, todas as terças e quintas-feiras às 7h para a sua prática. Só quem experimenta o voluntariado entende que não há nenhuma outra atividade que remunere melhor, pois a alegria e a realização daquele que presta um serviço voluntário é muito maior do que a daquele que o recebe. Nenhuma matemática é capaz de explicar que quando você doa é você que recebe, e muito mais do que doou.




Jornal do Sudoeste: Você acredita que o urbanismo também pode contribuir para continuar com esse lado social?
E.M.C.: O urbanismo é uma oportunidade perfeita para se trabalhar ainda mais esse lado social, e creio que as experiências narradas acima podem contribuir para a compreensão das necessidades dos diversos grupos.  Foi assim que surgiu a ideia de desenvolver um anteprojeto da Malha Cicloviária para a nossa cidade. Como eu sempre usei a bicicleta desde que me mudei para cá, para me transportar e, especialmente, para a prática de exercícios físicos dentro do perímetro urbano, convivi com as muitas das dificuldades enfrentadas pelos ciclistas. E, quando chegou o tão esperado momento de elaborar o Trabalho de Conclusão de Curso, vi nele a oportunidade de dar a minha contribuição social de forma técnica e profissional. Achei que era um sonho, mas minha orientadora disse que aquela era a minha oportunidade de sonhar. No desenrolar dos estudos teóricos e empíricos que compõem o TCC, ficou claro que a implantação de ciclovias e ciclofaixas não contribui apenas para a organização do trânsito e convívio a harmônico de veículos motorizados, pedestres e ciclistas nas vias. Essa iniciativa pode trazer também melhorias para a saúde e gerar economia para a população e para o município, sendo assim uma grande contribuição social.




Jornal do Sudoeste: Essa é uma ideia viável?
E.M.C.: As experiências das cidades estudadas no TCC, entre elas Amsterdam, Bogotá e Sorocaba, que já possuem malha cicloviária implantada, mostram que sim. Especialmente a da cidade de  Sorocaba, no interior paulista, localizada a aproximadamente 330 quilômetros de Paraíso e que possui a segunda maior malha cicloviária do país, atrás apenas da cidade do Rio de Janeiro. A cidade possui relevo predominantemente ondulado, como o de Paraíso, e a implantação de ciclovias e ciclofaixas partiu da vontade política do então prefeito, que é médico por formação e queria fazer a diferença melhorando a saúde e a qualidade de vida dos sorocabanos. Essa iniciativa pioneira, iniciada em 2005, serve hoje como referência para os projetos urbanísticos e de engenharia de trânsito do Brasil e do mundo.




Jornal do Sudoeste: Qual o balanço que você faz desses seus 51 anos de vida?
E.M.C.: Muito positivo. Acredito que sou uma pessoa de sorte: por ter nascido numa família onde fui amada e que me proporcionou uma excelente educação; por ter me casado com um homem que admiro e amo muito e ter recebido o maior dos presentes que Deus poderia me dar, que é a minha filha. Amar e ser amada por essas pessoas de bem é um privilégio muito grande. Sinto-me privilegiada também por ter escolhido Paraíso para ser o meu lar, pois aqui fui bem acolhida e formei uma nova família, que são os amigos que criei. Além disso, me orgulho de ser brasileira e acredito que, embora estejamos passando por um momento político e econômico muito crítico, somos privilegiados por ter nascido num país tão rico culturalmente, de uma natureza exuberante e de um povo acolhedor, tolerante, criativo e trabalhador. Acredito que investindo mais em educação podemos preparar melhor esse nosso povo, cheio de qualidades reconhecidas internacionalmente, para fazer deste país a grande nação que merecemos.