O Gênio curvou-se diante de mim, em graciosa reverência e disse: "Fostes a escolhida entre os mortais. Tendes direito a três pedidos, não mais. Acautelai-vos pois!¨. Olhei para ele, consultei a doce brisa, o azul do céu. Era a época propícia ao aparecimento dos Gênios. Eles vêm nos visitar, despejados do sótão das cismas, criados nas grotas da esperança. Não lhe disse logo a trilogia, mais por ignorância que sagacidade, pois escolher tão pouco entre tanta coisa é tarefa árdua e de dificuldade muita.
Fulminada pelo raio do egoísmo, rascunhei na imaginação três necessidades íntimas. Velhos sonhos frustrados coriscaram no azul das possibilidades. Senti na face, no entanto, um estalado tapa do Altruísmo, que condenou, ranzinzando. Onde já se viu! Como pode fazer pedido singular, quando a necessidade é tão plural?
O Gênio, paciente como as criaturas eternas, esperava. Demora muita, ele deu um empurrãozinho: - E então, que quereis?
Despejei, então, com alma, meus três pedidos, não curtos, diretos ou lacônicos, mas reunindo-os em três temas, cada um esmiuçando várias temáticas interligadas, interdependentes: Quero um 2018 brasileiro, auriverde e democrático, com Presidente de pulso firme e confiável, que mantenha a economia estável e consiga a erradicação da violência e da impunidade, pragas malditas. Ano que Deus se lembre, de novo, que já foi brasileiro (se é que foi) e o povo volte a sorrir, tenha alimento farto e lazer abundante, escola pública de boa qualidade para os filhos e casa própria.
O Gênio, preocupado, desembolsou um velho papiro e pôs-se a tomar notas dos itens do meu primeiro pedido. Antes que ele protestasse, voei para o segundo: Quero o povo brasileiro responsável, amadurecido, que ame seu País e a Natureza como a um templo, ecológico, respeitador, preocupado com o futuro, cuidando das suas raízes para o bom proveito dos frutos. Dócil, amante da paz, mas dinâmico, labutador, quebrando pedras para construir sua catedral de sonhos, cheio de crença no presente, aproveitando-se só o que de bom houve no passado e investindo no futuro. Desejo uma Nação que prepare suas crianças, que saiba arejar-lhes as mentes e espanejar a poeira da ignorância e as teias de aranha do preconceito.
O Gênio tomava nota, olhava-me de viés. Que viesse o terceiro pedido. Que reine neste País gigante, a Paz, serena e ondulada como doces searas de trigo. Que os habitantes desta terra sagrada se respeitem uns aos outros, nas suas crenças, posicionamentos políticos, cultura e opções pessoais.
Cansou-se o Gênio. Achou que era abuso tanto detalhe em cada pedido. Desculpou-se que só no outro escalão dos Gênios é que se poderia realizar tal tarefa. Ia consultar a Chefia. Esfumou-se diante de mim, deixando, no entanto, cair, de seu turbante, um papelinho esverdinhado de uso, amarrotado pelo número de mãos pelas quais já passara. No papelucho, uma só palavra, descorada e pálida: ESPERANÇA.
(*) Ely Vieitez Lisboa é escritora.
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