Mal terminou a aula, o aluno dirigiu-se ao mestre e disse:
— Gosto muito das pequenas histórias que o mestre conta... É pena que o senhor não explique o real significado de cada uma delas!
— Você tem razão – disse o mestre – e para compensar minha falha vou dar-lhe esse bonito pêssego. Aliás, como já estou com a faca na mão vou até descascá-lo.
Em poucos minutos a tarefa estava pronta. Antes de entregá-lo ao moço, o idoso senhor perguntou-lhe se não gostaria que ele o cortasse em pedaços.
— Se não for incômodo...
— Não, nem um pouquinho. Aliás, como está um pouco duro, se quiser posso mastigá-lo para você...
Essa pequena fábula oriental tem muito a ver com o modo de viver dos nossos dias: tudo é computador, tudo é máquina de calcular, tudo é televisão... A gente tem a impressão de que as pessoas não pensam mais, aliás, para que pensar se o Google em dois minutos tem a resposta prontinha?!
Queremos tudo mastigado, tudo bem resumido para não cansar os neurônios. Pesquisa, aquela pesquisa de verdade, debruçar-se em cima de pesados livros, grossos dicionários, nem pensar!
O que é uma pena, porque o conhecimento, o conhecimento de verdade, é como uma mulher difícil: não vem no primeiro aceno, nem no segundo, ou terceiro. É preciso mourejar muito, procurar com afinco, suar a camisa.
Os dicionários de Rui Barbosa eram cheios de anotações, sinal inequívoco de que eram muito consultados, e seu conteúdo esmiuçado, pensado, discutido. Os originais de Olavo Bilac, chamado o príncipe dos poetas brasileiros, são cheios de rabiscos, mostrando que ele não aceitava a primeira ideia, a primeira construção de frase, as primeiras rimas, e sim que buscava, trocava, consertava... em busca da perfeição!