A técnica em contabilidade e em agronegócio e produtora do programa De Mulher para Mulher, que vai ao ar todos os dias pela TV Sudoeste, Paula Aparecida Santos, aprendeu desde cedo que a vida, apesar de todas as dificuldades e obstáculos que nos proporciona, pode ser levada de forma leve desde que haja alegria e união da família. Ainda muito jovem, aos 15 anos, perdeu o pai, o senhor José Ademir Santos, vítima de um acidente. Sua mãe, Silvana Vicentina Santos, de tudo fez um pouco para sustentar as quatro filhas. “Batalhadora”, assim a define Paula, que ao lado das irmãs, a Patrícia e a Priscila (sua irmã gêmea), também lutaram para ajudar a criar a irmã mais nova, a Paloma. Muito enérgica, essa virginiana, aos 34 anos, também já fez de tudo um pouco: de trabalhar em salão à repórter de rua, de dançarina à cantora, nunca deixou de lado o que aprendeu com os pais: valorizar a educação e o respeito às diversidade. Hoje, Paula recebe, com o carinho de sempre, a reportagem do JS para contar um pouco da sua vida e recordar esses momentos marcantes em sua história
Jornal do Sudoeste: Irmã gêmea, como foi essa infância?
P.A.S.: Somos gêmeas univitelinas. Mesmo hoje as pessoas confundem muito a gente, mas mesmo sendo muito diferentes, ao mesmo tempo somos muito iguais. Gêmeo é uma ligação que ninguém sabe explicar e, apesar de amar todas as minhas irmãs e fazer tudo por elas, há uma ligação especial com a Priscila, é algo muito forte, estranho explicar para quem não é gêmeo. Já a infância foi maravilhosa, morei na roça até meus 11 anos. O mais marcante, para mim foi dos quatro aos 11 porque morávamos em uma fazenda linda, que fica próximo daqui, chamada Santa Maria, na região da Queimada Velha. Foi uma fase que lembro com muita alegria, que foi aquela de brincar na grama, andar a cavalo, subir em árvore e éramos muito “arteiras”, e as artes eram essas: subir na cerca, subir em árvores, coisas que as crianças já não fazem mais. Jogávamos bete... Éramos nós três até minha irmã mais nova nascer. Mas, por conta de um acidente de trabalho que meu pai teve, tivemos que vir embora para Paraíso. Se eu fosse resumir tudo, seria felicidade. Adorava pescar com meu pai, eu e a Pri éramos muito molecas (risos).
Jornal do Sudoeste: E na escola, como foi?
P.A.S.: Na escola foi uma fase muito engraçada, teve coisas ruins e coisas boas. Eu e minha irmã sempre estudávamos juntas e nunca ninguém reprovou na minha casa, meu pai sempre fez questão que estudássemos muito e competíamos entre nós para ver quem tirava as melhores notas e quem tinha a melhor letra. Era uma competição muito saudável e sempre ganhávamos um presente por isso. Na infância, estudamos no São João do Escócia, meu pai nos trazia de manhã, depois saímos e íamos para a casa da tia Aparecia, e ele nos pegava lá. Na escola, éramos sempre as que apareciam mais, porque sempre gostamos de fazer apresentações. Hoje eu trabalho com o que eu sempre gostei de fazer. Sempre gostei de apresentações escolares; se havia um trabalho, estávamos na liderança.
Jornal do Sudoeste: Como foi essa educação dentro de casa?
P.A.S.: Sempre tivemos muita cultura na minha casa, éramos de ler muito, de ouvir música. Meu pai e minha mãe só fizeram até a quarta série (hoje quinto ano), eram de duas famílias muito humildes, mas de uma cultura muito rica, principalmente musical. Minha avó, mesmo não sabendo ler, ensinou-me muita coisa. Meu avô, meu pai e meus tios eram autodidatas em viola, violão, acordeom e esta questão da música sempre esteve muito presente na minha casa. Meu pai era muito rígido com notas, com disciplina, com respeito às pessoas, aos mais velhos principalmente, à diferença. Eu e minha irmã sempre fomos muito magrinhas e sofríamos bullying na escola por isto, então meu pai conversava muito com a gente sobre a questão das diferenças e até mesmo sobre levar essas situações com bom humor e saber lidar com elas, que até hoje existe e se você não tiver um bom alicerce, isso acaba com a sua infância e com a adolescência.
Jornal do Sudoeste: E após essa fase?
P.A.S.: Fizemos o fundamental e o médio no Clóvis Salgado, lá também fiz meu curso de técnico em contabilidade. À época não havia Enem, quando começou era apenas um teste para avaliar o aluno e a escola e, quando me formei, o exame não tinha o valor de um vestibular e não fizemos faculdade à época. Quando eu tinha 15 anos, meu pai veio a falecer em um acidente de caminhão, à época trabalhava na Casa do Fazendeiro. Aquilo nos destruiu completamente, porque ele era nosso herói, nosso alicerce, era tudo. Minha mãe teve que se desdobrar em duas, foi trabalhar na colheita de café, fez faxina, trabalhou muito.
Jornal do Sudoeste: E você e suas irmãs, como lideram com esta situação?
P.A.S.: Não foi nada fácil. Eu e minhas irmãs começamos a trabalhar no Salão da Anésia, que é um salão muito conhecido, de renome. Até hoje somos muito apaixonadas por ela, inclusive Anésia é madrinha de casamento das minhas duas irmãs. Foi uma fase muito boa, mas ao mesmo tempo foi uma fase muito ruim porque tínhamos perdido nosso pai. Tivemos que trabalhar muito para ajudar a criar a minha irmã mais nova, que tinha quatro anos à época, foi muito difícil, mas superamos. Fases difíceis todos nós passamos, mas foi muito doloroso, dói ainda todos os dias e somente quem passou por isso sabe como é difícil.
Jornal do Sudoeste: Apesar da dificuldade, nunca interromperam os estudos?
P.A.S.: Não. Estudamos muito depois disso. Hoje eu tenho uma irmã que é administradora, uma que é advogada e uma fisioterapeuta. Já eu segui por outro caminho, fiz técnico em contabilidade, mas nunca foi minha praia, depois fiz um técnico em agronegócio pelo qual eu sou apaixonada, muito mesmo, e se eu pudesse fazer uma faculdade de agronegócio, eu faria. Mesmo hoje, sempre que eu posso, faço matérias na área, ainda tenho contato com a maioria daqueles que foram meus professores, entre eles a Terezinha Pessoni, que faleceu há algum tempo e sempre foi muito parceira porque sabia que amávamos o que estávamos estudando. E eu, por ter vivido em fazenda onde havia um haras, queria trabalhar com isso. Meu pai era inseminador também e não havia muitas pessoas que faziam isto naquela época e ele era muito solicitado. Acho que minha paixão veio disso tudo. Sempre seguimos estudando, fazendo o que meu pai e minha mãe quiseram, que era que a gente estudasse, já que eles não tiveram essa oportunidade.
Jornal do Sudoeste: E esse seu lado artístico, de onde veio?
P.A.S.: Sempre fomos muito comunicativas. Aos 14 anos, antes do meu pai falecer, recordo-me que havia o programa do Valdeir Lima, que era no Matrinchã, a gente dançava no balé, iam muitos cantores no programa. A Pati foi muito pouco, não quis seguir, mas eu e a Pri dançamos muito. Depois disso, fomos para algumas bandas, comecei a fazer backvocal e segui cantando, fazendo alguns bares e região, cantei em banda de bailes. Lembro-me da gente estar em casa, meu pai pegar o violão e a gente ficar cantando. Sempre tivemos isso da música e, inclusive, minhas tatuagens representam isso. Era uma casa musical. Comecei a cantar mesmo no coral da Igreja. Nossos pais sempre fizeram questão que seguíssemos uma religiosidade. Começamos na Legião de Maria, cantávamos no coral, íamos à missa e peguei mais gosto por isso, que foi crescendo e um dia recebi um convite de um amigo para cantar na banda dele. Na minha casa tínhamos uma raiz de samba e sertanejo. Passei pelo samba, depois pelo pagode (que não é a mesma coisa que samba), depois fui para rock n’ roll e após para o sertanejo e não saí mais. O último grupo que eu participei era uma banda que chamava Ponto Final, e eu cantava com um pessoal de Jacuí e Itamogi e para ensaiar era uma luta. Mas decidi dar uma parada porque não estava conseguindo conciliar, tinha que trabalhar para manter a casa.
Jornal do Sudoeste: Como foi sua chegada à TV Sudoeste?
P.A.S.: Até chegar aqui, em 2014, foi uma boa caminhada. Em 2009 fui embora, à época eu trabalhava na usina de álcool e fui para Naviraí, no Mato Grosso do Sul. Aprendi muito nesse período, mas era muito longe da família e a minha sobrinha, filha da minha irmã gêmea, a Maria Eduarda, estava muito pequena – é um pedaço de mim também. Mas eu voltei, continuei na usina até que ela fechou. Fiz de tudo um pouco, trabalhei muito tempo com vendas e durante dois anos e meio percorri todo o estado de Minas e algumas cidades do estado de São Paulo. Mas queria estudar mais, tinha que ser presencial, então decidi parar com isso e fui trabalhar na campanha do deputado Carlos Melles, em 2014, onde fui convidada pela Maria Pia para vir trabalhar na TV Sudoeste para vender propaganda, fiquei um mês e, depois disso, ela me chamou para trabalhar no programa. Na época o Adriano Borges era o produtor, disse para fazemos alguns testes de vídeo porque às vezes a pessoa até fala bem, mas trava diante das câmeras, fiz dois testes, gravamos alguma coisinha sobre novelas que ele queria colocar no programa; no terceiro dia ele colocou ao ar e no quarto dia eu já estava ao vivo.
Jornal do Sudoeste: E você tinha algum conhecimento na área?
P.A.S.: Não. Foi tudo muito de supetão e as pessoas me dizem que eu estou fazendo algo para o qual eu nasci. Eu sempre tive muita facilidade de falar em público, de aparecer, chegar e fazer amizade. Assim, comecei a participar mais. Um dia a Maria teve um imprevisto e eu apresentei o programa, ao vivo, e não parei mais. Hoje, férias ou qualquer imprevisto sou eu quem cubro essa falta, sou produtora do programa, então, há essa confiança em mim. Eu fiquei muito feliz por essa jornada minha aqui na TV. Também sou cinegrafista e fui aprendendo tudo no susto. Tive pessoas que me ensinaram muito, entre elas a Angélica Dizaró, com os meus cunhados, o Denis Meneses e o Luiz Fernando (por quem tenho um respeito muito grande, não por ser meu cunhado, mas porque ele sempre batalhou desde muito cedo nessa área e me ensinou muito).
Jornal do Sudoeste: Você aprende tudo com facilidade?
P.A.S.: Sim. Eu não sou muito de ficar pedindo, se peço e não sou atendida, eu ponho a mão na massa e faço. Isso é bom e é ruim, porque eu sou muito direta, se eu tiver que elogiar eu elogio, se eu tiver que xingar, xingo, não fico dando voltas. Isso para muitas pessoas é ruim, porque você é tachada de grossa, estourada e etc. Mas eu não sei mentir, se o fizer isso ficará estampado, eu sou muito olho no olho, gosto de abraçar. Tem muitas pessoas que abraçam esse meu jeito e tem muitas pessoa que não, ou é oito ou 80. Acho que eu sempre fui desse jeito e empurrei minha irmã para nascer (risos).
Jornal do Sudoeste: Essa gravidez foi uma surpresa para seus pais?
P.A.S.: Sim. Minha mãe só descobriu que estava grávida de gêmeas no parto, quando ouviram os dois corações. Meu pai ficou louco porque tinha comprado apenas um enxoval, foi comprar mais um e comprou dois. Minha mãe também, foi uma surpresa muito grande, estava já com uma criança de um ano e dois meses e ganhando mais duas. Ninguém esperava. Porém, eu tenho tias gêmeas pelo lado da família do meu pai, e da minha mãe também (mas que faleceram no parto). Enfim, é uma ligação muito forte, não consigo imaginar como seria a vida sem ela. E gosto de família grande, e uma família com quatro irmãs é uma loucura, ainda mais mulheres, que costumam falar muito (risos). Acho que o resumo da minha vida é esse, família muito grande e muita felicidade. Temos problemas, claro, todo mundo tem, mas ninguém tem uma vida completamente feliz, principalmente porque passamos por momentos difíceis após a morte do meu pai, mas se me perguntar quais são as minhas lembranças, a resposta será “somente coisas boas”.
Jornal do Sudoeste: Qual o seu maior sonho?
P.A.S.: Apresentar o Globo Rural, ou algo voltado para isso, e viver de música, é um sonho que eu sempre tive, mas fazer uma faculdade de música é muito difícil. Eu queria ter tido esse tempo, para estudar mais violão, apesar de ter estudado um pouco, mas não foi uma dedicação muito grande, eu precisava me dedicar à escola. Apesar disso, ainda prefiro cantar que tocar; sei tocar violão, surdo, pandeiro, mas por curiosidade, não sou musicista, sou muito boa de ouvido, tanto que quando comecei a cantar, conseguia chegar à nota, no tom, ouvindo, sem conhecimento teórico. Sou muito observadora.
Jornal do Sudoeste: E qual o balanço que você faz desses 34 anos?
P.A.S.: É muita história para contar, muita história boa. Acredito que vivi bem nesses 34 anos, mas claro que tenho muita coisa para aprender ainda. Recentemente, separei um livro para ler, porque considero isso importante, valorizar a leitura. As pessoas têm que aprender mais. Eu queria que hoje o ser humano fosse mais valorizado... hoje em dia você mostrar amor, mostrar trabalho, mas não é o suficiente, sempre terá alguém para tentar passar por cima de você. Então, o balanço que eu tenho é de uma vida que eu tive, estou tendo e vou ter de muita felicidade. Quero aprender muito mais a aproveitar cada momento da minha vida, seja trabalhando, seja com a família, com os amigos, fazendo o que eu gosto. Não podemos simplesmente passar pela vida trabalhando muito se você não fez o que gosta, desta forma não valeu a pena. Eu amo estar onde estou hoje, senão não estaria aqui na TV. Acho que minha vida, até agora, foi um turbilhão de emoções e tem tanta coisa que eu ainda quero fazer, que não sei por onde começar...