Após o término da II Guerra Mundial, houve um exponencial crescimento populacional no mundo com a explosão de nascimentos de bebes, principalmente nos Estados Unidos e Europa, fenômeno batizado como ‘BABY BOOM’, literalmente ‘explosão de bebes’.
A geração ‘babyboomers’ vivia com a constante ameaça de uma eclosão de nova guerra envolvendo Estados Unidos e Russia, impérios emergentes no final da guerra, que passaram a consolidar suas conquistas e disputar, palmo a palmo, novos territórios, mesmo que, para isto, tivessem que avançar sobre a zona de influência do inimigo.
As pendências entre as nações eram tradicionalmente resolvidas por meio das armas. Antes mesmo do final da grande guerra, avaliava-se que, mais cedo ou mais tarde, os dois impérios entrariam em conflito. Após 1945, acumularam um arsenal de bombas atômicas capaz de destruir o planeta várias vezes. Os jovens viviam com esse temor presente e sabiam das consequências: suas vidas estariam em jogo, como aconteceu com os milhões mortos nas duas grandes guerras.
Entre os babyboomers, grassava uma inquietude que os levava a contestar os pais, conservadores. Buscaram na diversão uma forma de se descolarem da geração antiga: criaram o ‘rock’, que os mais velhos repudiaram, considerando uma música do diabo. Por outro lado, foram, aos poucos, pondo as manguinhas de fora, opondo-se ao espírito bélico, promovendo manifestações contrárias à escalada da Guerra do Vietnã, principal bandeira de oposição aos falcões do governo. Os protestos contra a guerra e o conservadorismo tornaram-se mundiais e o espírito contestador explodiu na segunda metade da década de 1960, tendo como ponto dramático ‘As Barricadas de Paris’, quando os estudantes das universidades do Quartier Latin, em Paris, enfrentaram a polícia e o exército francês, comandados pelo ultraconservador Charles de Gaulle, herói francês da II Guerra, evento que celebramos, agora em maio, seu cinquentenário.
Naturalmente, o antagonismo entre Estados Unidos e União Soviética refletiu na política aqui no Brasil. Como não poderia deixar de ser, a inquietude juvenil e a nascente mobilização estudantil influenciaram os jovens brasileiros.
Durante os anos 1950 e 1960, foram criadas e desenvolvidas as universidades brasileiras, que refletiam os padrões conservadores de seus criadores e da sociedade. Aos poucos, os universitários começaram a reivindicar uma modernização do ensino e dos costumes.
Na política, manifestava-se o confronto entre esquerda e direita, reflexo do que ocorria no concerto mundial, com os dois impérios procurando dominar o Brasil, importante para suas estratégias de domínio do Atlântico Sul.
O meio estudantil era permeável às ideias de esquerda, influenciado pelo corpo docente, idealistas contaminados pela possibilidade de um mundo novo, no qual a participação na sociedade seria igualitária, eliminando as enormes diferenças entre as classes.
Deposto Jango, em 1964, os militares, apoiados pelos americanos, implantaram uma ditadura e, já no primeiro momento, trataram de controlar o meio estudantil, acabando com as suas entidades representativas.
Como as promessas de redemocratização não vingavam e sem um órgão que os representassem, os estudantes militantes se reuniam onde podiam. No Rio de Janeiro, o ponto de encontro e de discussões era o restaurante estudantil do Calabouço, perto do aeroporto Santos Dumont. Planejavam um protesto político contra a ditadura e aproveitaram a péssima qualidade da comida disponibilizada pelos órgãos públicos para erguer a bandeira de protesto. Tomando ciência das articulações, em 28 de março de 1968, o governo mandou a polícia invadir o prédio e, na confusão, foi morto um jovem estudante: Edson Luiz. Os estudantes promoveram o enterro do rapaz fazendo uma passeata com cinquen-ta mil pessoas até o cemitério.
Explodiu, então, o caldeirão estudantil que fervia havia meses. Vários protestos foram reprimidos violentamente pela polícia. Em um deles, em 21 de junho, foram mortas 28 pessoas.
Em 26 de junho, as lideranças estudantis organizaram uma enorme manifestação de contestação, que ficou conhecida como a ‘Passeata dos Cem Mil’, no Rio de Janeiro, com participação de artistas, intelectuais, líderes sindicais, religiosos e vários outros segmentos. Foi pacífica, embora tensa. Milhares de policiais e militares estavam de plantão, prontos para entrar em ação. Temia-se um banho de sangue. Sem saída, o governo militar teve que permitir a passeata, contudo não mais toleraria atos desta natureza.
A tensão aumentava a cada dia. A ‘Batalha da Maria Antonia’, em outubro, a prisão de cerca de mil estudantes em Ibiúna, reunidos para o Congresso da Une, a pressão política e de setores que inicialmente apoiaram os militares, levaram a linha dura do governo a decretar o AI5 no final de 1968, assumindo de vez a ditadura, que acabou com a oposição estudantil e de esquerda.
Sufocados, os estudantes e a sociedade silenciaram durante vários anos. Voltaram com a campanha das ‘Diretas Já’, em 1983-1984. Participaram das manifestações contra o Presidente Collor em 1992, os ‘Caras Pintadas’, que resultou em seu impeachment.
Em 13 de março de 2016, milhões de pessoas foram às ruas em todo o país, para exigir o impeachment da presidente Dilma e o fim da corrupção. Só na Avenida Paulista, em São Paulo, foram mais de um milhão. No meio de jovens e adultos, destacavam-se milhares de idosos, representantes dos ‘BABY BOOMERS’, que aprenderam a contestar com a ditadura militar e que, agora, protestavam contra os desmandos dos políticos. Como aqueles jovens da década de 1960 envelheceram, os que sobreviveram constituem, hoje, uma porcentagem significativa da população, uma verdadeira explosão na faixa etária, que podemos chamar de geração ‘OLD BOOMERS’.
VIRGILIO PEDRO RIGONATTI - Escritor. Autor de ‘CRAVO VERMELHO’ www.lereprazer.com.br