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Tião Borborema

Por: Redação | Categoria: Cultura | 05-07-2018 14:07 | 3120
Foto: Reprodução

O berrante representava muito mais que timbres, notas musicais para coordenar o gado, ia além das pastagens verdes, percorria a imensidão da saudade. O som do berrante trazia a cultura, o folclore de uma cidade, deixava viva a tradição passada de pai para filho, e permeava os comportamentos de um povo, fazia do som do berrante, a riqueza cultural, valorizava e mantinha a tradição viva de um povo.
E com o tempo, tudo vai mudando, e agora, já não é mais como antes. Algumas coisas se perderam, com a partida, somos obrigados a dar o adeus, pois o trem percorre o espaço do tempo, e deixa a saudade, que some feito fumaça no descompasso dos anos. Saudade é não ser mais visto, é a curva que o trem faz na estrada.
Mas a cultura, não deve ser esquecida, nunca! 
Nas avenidas que cortam as cidades, nos arranha-céus que preenchem e aglomeram de duros concretos, nas metrópoles, com seus barulhos inquietantes. Já não mais podemos escutar a música suave do berrante de Borborema. O adeus fica na lembrança, a saudade, feito neblina de quem deseja ver, o que não se pode retornar.
A cultura vai ficando pouco a pouco, mais pobre com as perdas, com o que antes era enriquecedor. O berrante já não corta mais as estradas. E com a correria do dia a dia, já não temos tempo nem para nós mesmos, nessa vida tão tumultuada. Não há mais alpendres nas novas construções, e agora, o gado vai de caminhão cortando a estrada e os nossos corações. 
Aquele senhor de bombacha, vestido a gaúcho, chapéu de boiadeiro, bota do sul, com lenço no pescoço, já não toca mais a antiga música no berrante. Com tamanho carinho preservava o folclore e a cultura, herança de uma tradição, valores que cultivou com muito amor e respeito por uma longa vida. Pois, aonde ia, Borborema levava o seu companheiro, o berrante, e tinha orgulho, ao ser solicitado, de tocar a música que emocionava o público.
Ivan Maldi é Psicólogo e Membro Efetivo da APC