Quinta feira, 5 de julho, fui ao lançamento de mais um livro de Dalila Cruvinel, escritora que considero a melhor poeta de minha cidade. O evento aconteceu no auditório do Colégio Paula Frassinetti, durante a VI Festa do Escritor Paraisense, lindamente (e longamente, seja dita a verdade) conduzida pela Academia Paraisense de Cultura, que convidou-me a fazer alguns solos de guitarra entre os belos números musicais que abrilhantaram a noite.
Antes de encontrar com minha amiga poeta, folheei o livro novo “Ciranda” escrito em parceria com Bernadete Aguiar, outra talentosíssima colega de escrita. Encontrei belos poemas com metáforas incríveis, modernas, poemas curtos e intensos, resumindo, o tipo de coisa que gosto de encontrar.
Fui até Dalila dar aquele abraço e comentar alguma passagem de um poema, algo como “poetas engaiolados montando um quebra-cabeça”. Não pude evitar as costumeiras trocas de elogios, muito menos a pergunta clichê sobre inspiração, no meu bom e velho vernáculo: “Dalila, você é uma poeta foda. De onde tira essas metáforas? PQP...”
Ela, sempre sorrindo, respondeu:
“Bruno, somo poetas. Não sabemos de onde tiramos nossas metáforas, nossos poemas. Jamais saberemos. O que fazemos é atirar pétalas de rosa de um penhasco, esperando ouvir o som da queda de cada uma delas... (silêncio) ... e muitas vezes, não escutamos ruído algum.”
Senti-me como um jovem discípulo de kung fu diante do mestre (o que, nesse caso, não é metáfora alguma).
Não encontrei as palavras certas para continuar aquela conversa, por isso venho hoje agradecer publicamente e, naturalmente, registrar essa bela definição do ofício da poesia, dita de improviso, com toda sabedoria acumulada que Dalila faz questão de compartilhar.
Quantas vezes encontrei-me agarrado às paredes de um despenhadeiro e pude contemplar o balé de alguma pétala perdida lançada ao vento por poetas distantes? E quanta força ganhei para seguir nessa escalada?
Que possamos lançar cada vez mais pétalas.
O terrível som da queda, Dalila, pude ouvir lendo alguns poemas: é uma melodia sem fim, de uma brisa leve que faz com que as rosas dancem uma ciranda no céu. Quem as lança bem o sabe. Quem estiver pelo caminho, que as contemple e ouça.
Bruno Félix, poeta