Como Drummond sentiu
Eu também sinto todas as coisas desse mundo
Sonho todos os sonhos
Que não puderam ser sonhados
Vislumbro todas as cores
Que ainda não puderam ser vistas
Sofro todas as dores já sentidas
Do homem que se compadeceu Bandeira
Porque revirava o lixo
Também dele me compadeço
Pois sei que ele me toca
E que há um certo ranço no que sinto
Naquele bicho de olhar vazio.
Ainda posso ver esperança
Naquela sua pele suja
Reconheço a verdade de nosso mundo cruel
Soberano para uns, mas tão sombrio para tantos
Num sentimento que somente duas mãos
Não são capazes de suportar
Uma profunda tristeza sobre mim se abate
Desânimo
Vergonha
Compaixão...
No lixão das histórias dos sacos rasgados,
Dos muitos gritos sofridos,
Da ignorância injusta de uma sociedade alheia
Somos nós mais podres
Que os restos recolhidos
Somos nós mais pobres
Que aqueles por nós esquecidos...
(Michelle Aparecida Pereira Lopes. IN: Antologia Poesia Agora - Edição Outono 2018. p. 99)