O bispo da diocese de Guaxupé, que inclui São Sebastião do Paraíso, Dom Lanza, esteve na cidade na segunda-feira, (13/2), para fazer o lançamento oficial da Campanha da Fraternidade 2017, que tem como tema “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e como lema “Cultivar e guardar a criação”(Gn 2, 15). A divulgação da Campanha foi em encontro na Escola “Clóvis Salgado”.
Dom Lanza esteve acompanhado do diácono Vinícius Pereira Silva, que é também biólogo, por isso vem auxiliando na apresentação da campanha deste ano. Também padre Henrique Neves-ton compareceu ao evento, que será o responsável pelas divulgações em Paraíso.
Dom Lanza falou sobre os povos que também são considerados pela campanha. “A palavra bioma é um palavrão, mas é cada sistema de vida que encontramos. Especialistas dizem que o país tem seis biomas diferentes e em cada um há seus povos; o habitat natural da população ribeirinha, que depende dos rios para sobreviver; os índios; os que vivem dos mangues. Espécies de vida e de gente totalmente diferentes entre si; há muitas dioceses que possuem a Pastoral dos Pescadores, por exemplo. A igreja se coloca em defesa desses povos, dos ribeirinhos; quilombolas e índios. Não podemos esquecer que a terra dos índios é terra de conflitos. Nunca esquecerei que em um encontro da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), um bispo chorou ao contar sobre a violência contras os índios e, consequentemente, as mortes que ele já havia assistido”, contou Dom Lanza.
Ele disse que a Igreja quer levar conhecimento e conscientização de que bioma é vida animal, vegetal e humana. Considerando nascentes, rios, matas, produções agrícolas e outras questões que envolvem a natureza.
Dom Lanza reconhece que este tema mexe com questões econômicas, como por exemplo, as grandes divisas que trazem monoculturas como a da cana de açúcar que existe na região, a soja que acontece em outras regiões do país e a criação de gado em larga escala. “essa questão é muito complicada, principalmente quando discutimos sobre o agronegócio e as grandes empresas do mundo que trabalham com a produção de alimentos. Porém, pior é pensar na exploração das nações mais desenvolvidas sobre aquelas nações que ainda não têm tecnologia igual, que sofrem ao exportar a preços módicos matéria prima e compram manufaturados a preço de ouro. A igreja reconhece que existe exploração desmedida”, relata.
Para o bispo, a questão da cana de açúcar é uma das mais sérias ao se considerar os biomas existentes na região sudeste, uma monocultura que traz consequências desastrosas para a natureza no entorno desse plantio. Outra atividade que Dom Lanza aponta como nociva para os biomas brasileiros é a exploração mineral, em especial em Minas Gerais. “A igreja precisa falar disso, despertar a consciência das pessoas”.
A DIVULGAÇÃO
O padre Henrique explicou que a Campanha da Fraternidade tem início no período da quaresma, quando o cristão adota a conversão. Dentro da igreja, esse é o momento ideal para refletir sobre tema e lema da campanha deste ano, a fim também de que adotem práticas que possam transformar essa realidade. “Afinal, cuidar da natureza é uma grande oração. Não cuidar é colocar o bem mais precioso de Deus, que é a vida, em risco. A proposta é que haja divulgação nas escolas, nas igrejas, nas pequenas comunidades. Temos que considerar o agronegócio, mesmo as pequenas propriedades, caso trabalhem com monocultura por muito tempo, que pode esgotar o solo; orientar nossos produtores de café. Estamos vivendo acima do aquífero Guarani, o maior reservatório de água doce do mundo, então temos que ser responsáveis”, alertou.
Padre Henrique informou que a Campanha também vai incentivar projetos sobre o assunto, por meio de recursos oriundos de coleta de doações dos fiéis de todas as igrejas do Brasil, dos próximos dias 8 e 9 de abril. Sessenta por cento do montante arrecadado ficará nas dioceses para financiar os bons projetos que tenham relação com o tema e com o lema da Campanha. Entidades, escolas, prefeituras e ONGs podem encaminhar seus trabalhos para as dioceses a fim de concorrerem.
A BIOLOGIA
O diácono Vinícius disse que “desastres como o que aconteceu em Mariana, e também, por exemplo, o nível baixíssimo do reservatório de Furnas, como aconteceu há cerca de dois anos, são alertas de Deus, pedidos de socorro da natureza. Temos que entender que a natureza é nossa parceira e não nossa subjulgada ou nossa escrava, nós fazemos parte dela. Na região temos o encontro de dois biomas, a mata Atlântica e a Transição para o Cerrado.
Ele fez um diagnóstico desses dois cenários. “Ao mesmo tempo em que a Mata Atlântica tem grande capacidade de regeneração, é muito depredada também. Isso não ocorrer com o Cerrado, que está igualmente sendo destruído, porém não consegue se regenerar.
O cuidado com esses biomas é urgente, porque senão iremos perdê-los e isso acontece por causa da visão extremamente econômica que a sociedade possui, visando apenas o lucro. Aprendemos com Deus que acima de tudo está a vida, a natureza e os povos. Nossa região já sofre com a plantação de monocultura, com a criação de gado em grandes áreas.
Para se abandonar esse estilo de vida tão financista é preciso a conversão. Por isso, a Campanha da Fraternidade se dá na quaresma, período em que o ser humano se entrega à conversão e que ela possa ser plena e prática. Acreditamos que a igreja tem a capacidade de chegar ao coração das pessoas.