Fila dupla e disputa por vagas travam ruas de Paraíso

Falta de pontos para carga, descarga e embarque empurra motoristas ao improviso e congestiona áreas centrais e de grande movimento
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Nos horários de pico, quem circula por São Sebastião do Paraíso enfrenta um cenário que virou rotina: buzinas, pressa e carros parados “só um minutinho” fora da vaga. É o que os agentes de trânsito chamam de fila dupla — quando o motorista estaciona ao lado de outro veículo, ocupando parte da pista apenas para embarcar ou descarregar alguém. O problema, cada vez mais frequente em ruas e avenidas de grande fluxo, reflete a falta de locais apropriados para paradas rápidas e pontos de carga e descarga.

Entregadores relatam que, sem vagas específicas, precisam estacionar longe e caminhar longas distâncias com volumes pesados. “Tem dia que a gente anda quase duas quadras pra deixar uma encomenda. É cansativo, e a rua fica travada porque não tem onde parar direito”, comenta um entregador que trabalha no centro.

Comerciantes também sentem o impacto. Muitos reclamam que as entregas chegam com atraso e que os caminhões acabam parando na frente das lojas, bloqueando a passagem de carros e pedestres. “A gente precisa receber mercadoria, mas não tem um ponto certo. Fica tudo no improviso”, conta uma lojista.

Outro problema é o comportamento de motoristas de caminhões e caminhonetes que estacionam em qualquer lugar para descarregar mercadorias, especialmente em portas de mercados e comércios de bairro. “Eles param de qualquer jeito, mesmo em local proibido, e acabam atrapalhando todo mundo. Às vezes tomam metade da via, você tem que ir pro outro lado da rua pra desviar”, reclama um morador. Além de causar transtornos, essas manobras comprometem a visibilidade dos cruzamentos e aumentam o risco de acidentes.

Há ainda situações de comerciantes que tentam “reservar” vagas em frente aos próprios estabelecimentos, colocando cones, caixas ou outros objetos para impedir que outros motoristas estacionem. A prática, irregular, gera atrito e acirra a disputa por espaço. “Tem loja que trata a vaga como se fosse particular. E aí quem precisa parar por um minuto, não consegue”, relatou outro morador.

A ausência de sinalização específica e a obstrução de vagas comuns por veículos estacionados o dia todo completam o quadro. Com isso, o trânsito perde fluidez, motoristas se irritam e pedestres circulam entre manobras e buzinas.

Diante desse cenário, tramita na Câmara Municipal um projeto de lei do vereador Juliano Carlos Reis (Biju) que busca organizar as paradas de curta duração em todo o perímetro urbano. A proposta — atualmente em análise na Comissão de Finanças, Justiça e Legislação — prevê a criação de pontos exclusivos e sinalizados para carga e descarga, embarque e desembarque do transporte público, táxis, aplicativos, transporte escolar e fretado, além de paradas rápidas para serviços de entrega.

O texto também determina a realização de um inventário viário para mapear e corrigir pontos irregulares, restaurar os existentes e criar novos onde houver segurança e viabilidade. A regulamentação — com horários, tempo máximo e regras de uso — ficará a cargo do Executivo, que poderá ouvir as categorias envolvidas antes de definir os locais.

De acordo com a justificativa, o objetivo é dar fluidez ao tráfego, garantir segurança aos pedestres e valorizar o trabalho de quem mantém a cidade em movimento, evitando o improviso que transforma ruas em pistas de obstáculos.

“A ausência de faixas exclusivas empurra o sistema para o improviso. Ao separar funções — entregar, embarcar, desembarcar e estacionar —, o município diminui conflitos e valoriza quem trabalha nas ruas”, destaca o texto.