Aos 16 anos, Rafaela Reis estreia na literatura com livro de poesia

Lançamento de “Poemas Eternos, Almas Imortais” ocorreu em uma cafeteria de Paraíso; obra reúne poemas e textos reflexivos
Foto: Divulgação
Exemplares de Poemas Eternos, Almas Imortais e pintura de Aline Betito, feita com tinta à base de café

A poeta paraisense Rafaela Reis, de 16 anos, lançou o livro Poemas Eternos, Almas Imortais, sua estreia na literatura. O lançamento ocorreu no Nau Café, no Shopping Galeria, no centro de São Sebastião do Paraíso. A obra reúne poemas autorais em que a jovem reflete sobre sentimentos, tempo e o próprio ato de escrever.

Um dos eixos do livro é a dualidade entre o que passa e o que permanece, ideia que, segundo Rafaela, está tanto no conteúdo quanto no conceito visual da publicação. “O fato da capa representar a eternidade e da contracapa representar o efêmero foi uma jogada que eu queria”, afirmou. Ela explicou que a imagem dos rostos também dialoga com termos recorrentes em sua escrita: “O rosto da capa é feliz e o da contracapa é um rosto triste, que eu represento o êxtase e a melancolia”.

Na abertura do livro, a autora convida o leitor a “olhar para dentro”. Para Rafaela, a leitura é uma experiência em que o texto do autor encontra a vida de quem lê. “Eu escrevo sobre o que eu sinto, mas quem lê interpreta pelo viés dele, pelas vivências dele”, disse. Segundo ela, essa troca é parte do objetivo da obra, que busca estimular reflexão e identificação. “Por mais que seja sobre o autor, precisa ser sobre o leitor, precisa ser sobre quem está lendo”, afirmou.

Rafaela conta que escreve desde criança e que, com o tempo, a escrita deixou de ser apenas expressão para se tornar também um modo de compreender a própria experiência. “Quanto mais você escreve, mais você tende a reparar nas coisas”, afirmou. Ela diz que sua poesia se volta menos à descrição física e mais ao que chama de “existência invisível”, ligada a emoções, visões e interpretações. A autora resume o lugar da escrita em sua vida de forma direta: “Se eu for proibida de escrever, eu morro. A palavra pra mim é sinônimo de sangue nas veias”.

Ela também descreve a poesia como ferramenta para organizar sentimentos. “A minha cabeça acaba suportando um nó de sentimentos e, quando eu vou escrevendo, eles vão se desembaraçando”, relatou. Segundo a poeta, o processo transforma a “confusão” em experiência compreendida. Ela afirmou ainda que, quando passa períodos sem escrever, sente reflexos físicos, como dor de cabeça e tontura.

Poemas Eternos, Almas Imortais é dividido em cinco capítulos: “O Poeta”, um segundo capítulo dedicado à poesia, “A Inspiração”, “A Saudade” e “A Carne”. Rafaela explica que a organização foi construída a partir dos temas centrais do livro e do momento em que cada texto foi escrito. “Cada poema foi concebido em um momento específico da minha vida, refletindo experiências que se alinhavam ao tema”, afirmou, acrescentando que a estrutura reflete vivências e, principalmente, estados emocionais.

No capítulo “O Poeta”, ela apresenta sua trajetória e sua visão sobre a escrita, com experiências que, segundo disse, a “moldaram e lapidaram como escritora”. No segundo capítulo, dedicado à poesia, o olhar se volta para a forma como observa o mundo e as relações humanas, com temas como “a alma, as pessoas, as relações humanas, a noite, os astros”. Em “A Inspiração”, Rafaela propõe interpretações que, segundo ela, não precisam ser recebidas de forma passiva: “O leitor pode concordar ou discordar”, afirmou, destacando a importância de feedbacks para ampliar a experiência literária. Em “A Saudade”, ela aborda a ausência e a passagem, relacionando o tema ao tempo. Já em “A Carne”, apresenta versos curtos e mais íntimos. “É o capítulo em que me exponho mais ao leitor”, disse, ao explicar que são registros de momentos em que a escrita fluía com dificuldade.

A seleção dos poemas, segundo Rafaela, foi uma das etapas mais longas antes da publicação. Ela estima ter mais de 600 poemas escritos e afirma que levou cerca de quatro a cinco meses apenas escolhendo o que entraria no livro. “Eu pegava pra ler e pensar: ‘Será que se encaixa no que eu quero passar?’”, relatou. Alguns textos ficaram de fora por não combinarem com a proposta e outros por serem pessoais demais.

Além do conteúdo, a autora também relata o aprendizado com as etapas técnicas de publicação. Ela conta que o processo foi facilitado por fazer parte da Alpas 21, uma academia de escritores do Rio Grande do Sul, e que publicou pela Editora Gaia. Segundo a poeta, o acompanhamento de profissionais da área ajudou a compreender etapas como revisão e diagramação, e o diálogo com o diagramador foi importante para tirar dúvidas ao longo do caminho.

A capa do livro foi produzida a partir de pinturas da pintora Aline Betito, de Itamogi, que trabalha com tinta à base de café. Rafaela conta que as obras foram cedidas para compor o projeto gráfico da publicação.

Após o lançamento e o contato com leitores, Rafaela afirma que a publicação não tornou sua escrita “mecânica”, como temia inicialmente. “Ampliou a minha sensibilidade poética, porque me mostrou que já não era mais algo só meu”, afirmou. Ao definir o que vem depois do primeiro livro, resumiu: “É uma necessidade inevitável” e “um caminho” que pretende seguir.