Se havia uma certeza em Mônaco depois de Lewis Hamilton se classificar apenas em 14º no sábado, com a primeira fila formada por Kimi Raikkonen (pole) e Sebastian Vettel (2º), era de que em algum momento da corrida a Ferrari inverteria as posições de seus pilotos.
Raikkonen liderou até a 34ª volta quando foi chamado para a troca de pneus. Vettel assumiu a ponta e permaneceu na pista por mais cinco voltas, andou rápido, pulverizou os cronômetros, parou na 39ª e, bingo(!), voltou em primeiro.
Era fundamental para a Ferrari que o alemão vencesse a corrida, mas ao invés daquelas ordens bizarras de outrora para que fulano deixasse beltrano passar, desta vez a escuderia ofereceu a Vettel a melhor estratégia, mas para que desse certo, Vettel teria também que fazer a sua parte. Em Mônaco fazia todo o sentido priorizar o líder de um campeonato disputado palmo a palmo com Hamilton, da Mercedes. E Vettel teve méritos com uma pilotagem no limite, sem cometer nenhum erro para tirar proveito dos problemas de Hamilton e ampliar de 6 para 25 pontos a vantagem no campeonato.
Apesar de a manobra causar certa polêmica, é preciso que se leve em conta a diferença de performance entre Vettel e Raikkonen até aqui: Antes da corrida o alemão liderava o campeonato com 104 pontos contra 98 de Hamilton, tinha duas vitórias e três 2º lugares. Raikkonen (4º colocado) somava 49 pontos e tinha apenas um 3º como melhor resultado. Uma diferença de 55 pontos entre eles. Olhando por esse lado, não fazia mesmo sentido a Ferrari permitir que Vettel deixasse de somar sete pontos a mais pela vitória ficando atrás de Raikkonen na corrida. Num campeonato apertado como o desse ano em que o campeão só deverá ser conhecido no final da temporada, a Ferrari agiu certo. É um título Mundial que a Ferrari não vence desde 2007 que está em jogo, e não apenas uma corrida. E esta é uma situação diferente de outras duas em que, aí, sim, houve exagero com Rubens Barrichello, em 2002, e com Felipe Massa, em 2010.
Falando assim pode até parecer “pachequismo” de minha parte, mas foram situações bem distintas da de domingo passado. Em 2002, na Áustria, que ficou conhecido como a “marmelada de Zeltweg”, em que Barrichello só foi tirar o pé na linha de chegada, cumprindo ordens para deixar Schumacher passar, também era a sexta etapa do Mundial. Schumacher tinha como principal rival, Juan Pablo Montoya, da Williams, com 23 pontos. O alemão somava 44 pontos. Entre eles, Barrichello com 6. O detalhe vem agora: A Ferrari tinha um carro infinitamente superior ao da Williams, tanto que Schumacher carimbou o título na 11ª de 18 corridas, somou 144 pontos contra apenas 50 de Montoya (3º). Barrichello ficou com o vice com 77 pontos. Ou seja, Schumacher tinha um carro muito superior contra um adversário (Montoya) com equipamento bastante inferior. Bem diferente da disputa apertada que Vettel trava com Hamilton.
No GP da Alemanha de 2010, 11ª etapa, que ficou famoso com o “Fernando is faster than you” (Fernando está mais rápido que você), como ordem para Felipe Massa abrir caminho para Alonso vencer, Hamilton liderava o campeonato com 145. Alonso era apenas o 5º com 98 e Massa o 6º com 67. Embora o espanhol terminasse o ano como vice-campeão, havia por trás daquela real chance de Massa vencer, o fator psicológico. Felipe voltava do grave acidente na Hungria, em 2009, e vencer em Hockenheim significava resgatar sua autoconfiança. E a famigerada ordem trouxe sérias consequências na autoestima do piloto e no conceito de muitos fãs. Massa só conseguiu dar a volta por cima quatro anos mais tarde, quando foi para a Williams.
BRAVO, ALONSO, BRAVO!
Fernando Alonso fez uma corridaça em Indianápolis. Cumpriu o que se esperava dele até o motor quebrar na 180ª de 200 voltas. Andou o tempo todo entre os 5 primeiros, liderou 27 voltas e era real as chances de vencer as 500 Milhas. “O plano (vencer) não foi completado”, disse o piloto que prometeu voltar a Indianápolis. A vitória foi de Takuma Sato, o primeiro japonês a triunfar numa das principais corridas do planeta, com Helio Castroneves em 2º, num dia em que o grande vencedor, se assim pode-se dizer, foi Scott Dixon que nasceu de novo ao escapar ileso de um pavoroso acidente.