(Matéria publicada pelo Jornal do Sudoeste na edição de 07/04/2012)
A família Colombaroli, de São Sebastião do Paraíso, guarda com carinho uma recordação da época da 2ª Guerra Mundial. Emoldurada e pendurada na sala de estar da casa onde viveu o casal José e Neiva Scarano Colombarolli, está a publicação da carta enviada ao Jornal Cruzeiro do Sul, pelo então expedicionário brasileiro José Colombaroli, em resposta a carta da jornalista Sãosinha, Conceição Borges Ferreira. A jovem, com cerca de 15 anos na época, escrevera cartas aos expedicionários conterrâneos, a pedido de seu pai, jornalista João Borges de Moura, diretor proprietário do jornal.
Sãosinha recorda que não conhecia os “pracinhas”, mas que escreveu para José Colombaroli, Geraldo Giubilei, Pedro Braghini e Célio Curti. Mandava notícias de Paraíso, perguntava sobre a guerra e como estavam os soldados brasileiros.
Lembra-se de receber uma carta resposta de Célio Curti, onde ele dizia estar escrevendo em cima do violão, às duas da madrugada, ouvindo o som de tiros.
A publicação do Jornal Cruzeiro do Sul estava entre os objetos do acervo de José Colombarolli. São objetos históricos, cartas de topografia, insígnias militares, que foram herdadas por seu neto Bruno, após seu falecimento, em 1999.
Para manter a memória do pai e avô, quando reencontrada, a carta foi emoldurada pela família.
O advogado Marcos Colombarolli, filho de José, afirma que se emociona ao reler a carta. Ressalta o trecho: “(...) estamos em paz. O terrível inimigo da humanidade foi derrotado”.
Marcos lembra-se das histórias contadas pelo pai. Recorda que as emoções despertadas pelas lembranças da guerra eram muitos fortes.
Durante a 2ª Guerra Mundial, a Força Expedicionária Brasileira foi enviada para lutar na Itália. José foi convocado em 1943, com 23 anos de idade, quando morava em Amparo (SP), onde trabalhava e estudava Belas Artes. Nesta cidade, desenvolveu seu talento para a pintura.
Participou da preparação para a guerra, por cerca de um ano, em um regimento do Exército Brasileiro, em Caçapava (SP). Em 1944, desembarcou em Nápoles, Itália, com um grupo de soldados brasileiros, que foi integrado ao 5 Exército Americano. Sofreram muito, pois além das terríveis batalhas, o inverno foi rigoroso e o exército brasileiro não estava preparado para o frio. Porém, enfrentando todas as dificuldades, conquistaram pontos estratégicos para derrotar os alemães.
José Colombarolli esteve presente em todas as batalhas, integrando a Infantaria, que seguia à frente do grupo, demarcando o melhor caminho a ser seguido. Por ter estudado Desenho, sabia muito sobre topografia.
Marcos recorda-se que o pai contava muitas histórias sobre a guerra. Algumas tristes, outras pitorescas. “Meu pai foi um homem maravilhoso. Teve uma participação muito grande na sociedade paraisense, como intelectual. Além de pintor, conhecia muito de literatura, falava várias línguas. Apesar de ser uma pessoa humilde, era um grande intelectual, convidado para dar palestras em várias cidades. Foi uma pessoa divina, deixou uma história tão boa, um nome na cidade dele. Todos os momentos difíceis da guerra contribuíram para que ele fosse essa pessoa que foi: tão doce, um artista, um poeta”, observa, com saudades.
José Colombarolli foi vereador em São Sebastião do Paraíso, e, posteriormente funcionário estadual na Secretaria de Estado da Fazenda. Faleceu em 1999.
Transcrição da carta (mantendo a ortografia original)
Notícia do Front
“Carta, em resposta, de um Expedicionário Paraisense”
Nossa Redatora Secretaria Conceição Borges recebeu do digno conterraneo cabo José Colom-barolli, Expedicionário Brasileiro, em resposta, a seguinte carta:
Itália, 16 de Maio de 1945.
Presada conterranea Sãosinha:
É com grande prazer que passo a responder sua presada missiva de 16 – 4 45 a qual trouxe-me notícias de nossa terra. Fiquei muito contente.
Uma carta, uma lembrança de nossa cidade, é um conforto espiritual e um prazer indefinivel para nós soldados brasileiros que ha quasi um ano estamos do lado de cá do mar, no velho continente Europeu defendendo e elevando o nome de nossa Patria – o Brasil! Como você já sabe a guerra aqui na Europa já terminou, estamos em paz. O terrível inimigo da humanidade foi derrotado.
Nós o conhecemos bastante, estamos cançados de ver as atrocidades por eles praticadas neste paiz. A 16 de Julho do ano passado, era uma linda manhã cheia de sol, estávamos desembarcando no sul da Itália, no primeiro transporte de tropas brasileiras no porto de Napoles. Um mez depois entravamos para o “front”. Subimos avançamos incorporados ao 5 º Exercito.
(...) dias de gloria para todos e as Nações Unidas, chegamos ao norte da Itália onde cessaram as operações de guerra. Estavam vencidos os ultimos redutos nazistas.
Sinto me muito contente por ter cumprido com o meu dever e ser tão feliz como fui diante dos perigos e sacrifícios que o dever proporcionava. Agora estamos aguardando o nosso breve regresso para levar as glorias que conquistamos aqui nos campos de batalha para a nossa Pátria.