CRÔNICA HISTÓRICA DE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO:

Guarda Nacional nos idos de 1893

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cidades | 06-06-2017 21:06 | 1120
Foto: Reprodução

A extinta Guarda Nacional foi uma instituição política e paramilitar que existiu por quase um século, criada nos momentos incertos de transição do regime colonial para consolidação da Independência do Brasil. Estava vinculada ao Ministério da Justiça, motivo inicial de conflitos e divergências com os militares vinculados ao Ministério da Guerra. Mais precisamente, foi organizada no contexto da Abdicação de D. Pedro I, ocorrida em 7 de abril de 1831, quando o Imperador abriu mão do trono, em favor do seu filho Pedro de Alcântara, futuro D. Pedro II. 
O evento marcou o final do Primeiro Reinado e início do Período Regencial (1831 - 1840). Nessa quadra histórica, parte das tropas existentes no Brasil permaneceu fiel à Coroa Portuguesa, ameaçando não apoiar a consolidação da Independência. Houve então um acirrado combate e perseguição aos portugueses que não aceitavam o rompimento dos vínculos com os poderes reais, muitos deles foram obrigados então a deixar as principais cidades, onde estavam instalados os quarteis, para se embrenharem pelos interiores e sertões, buscando novas condições de trabalho e vida. 
A Guarda Nacional exerceu assim um papel de grande relevância no momento inicial da constituição da identidade nacional, participando da defesa armada contra os insurgentes, membros do antigo exército português. Posteriormente, ficou na história a heroica atuação de seus batalhões na Guerra do Paraguai (1865 - 1870). Entretanto, após a Proclamação da República, suas honrosas funções militares começaram a entrar em conflito com a atuação profissional dos militares vinculados ao Ministério da Guerra.
Tendo uma extensa organização dispersa nos mais diversos rincões do interior, reunindo sempre as lideranças regionais mais abastadas, a Guarda Nacional passou a ser muito mais uma instituição política do que militar. Diretamente vinculada aos poderes do governo central, somente os cidadãos mais abastados podiam pagar as elevadas taxas ministeriais cobradas para receber as patentes. Do passado glorioso dos primeiros tempos, a corporação funcionou para manter o poder político da Primeira República, quando os seus "coroneis" indicavam seus fiéis mandatários para os cargos eletivos, quando não havia ainda o voto secreto, cultivando práticas nem sempre republicanas. Em 1918, a organização passou a ser subordinada ao Ministério da Guerra e, quatro anos depois, foi desmobilizada no plano abstrato da legislação. Entretanto, suas redes hierárquicas e práticas do mandonismo continuaram funcionando até 1930.
A história da Guarda Nacional tem assim estreitas relações com a história política do final do século XIX e início do século seguinte. O fragmento destacado nesta crônica, diz respeito notícia publicada no jornal O Paiz, do Rio de Janeiro, de 8 de novembro de 1893, registando doação de três contos de reis, proveniente da Guarda Nacional da comarca de São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, cujos participantes coletaram recursos financeiros enviados ao Rio de Janeiro, como o propósito de contribuir na manutenção de um hospital mantido pelo comando central da organização. 
A subscrição foi iniciada por iniciativa do major Aprígio de Araújo Serra, filho do coronel e comandante superior Francisco Adolpho de Araújo Serra, que encabeçou a lista dos doadores com a quantia de 200 mil reis. O mesmo valor foi doado pelo então tenente-coronel Herculano Cândido de Mello e Souza. Também figuram na lista os doadores: majores José Honório Vieira, Américo Benício de Paiva, Affonso Pedrário, Carlos Jacob Ferreira de Menezes, seguidos por uma dezena de outros conhecidos nomes da sociedade paraisense daqueles tempos e da história escrita de nossos dias.