Lendo sobre a sonda americana Urano prospectando e enviando informações do planeta Júpiter a uma distância de mais de 600 milhões de Km, tudo controlado, calculado e processado por computadores, lembrei-me da aventura espacial em seu princípio, desde o lançamento do primeiro Spu-tnik soviético até a descida de Neil Armstrong e seu companheiro Aldrin em solo lunar
Nos primórdios da navegação espacial, os computadores eram de pequena capacidade, mesmo por ocasião da missão da Apolo XI, a primeira a descer na lua com seres humanos. Qualquer smartphone tem capacidade de processamento e armazenamento muito maior do que as máquinas daquela época. O astronauta John Glenn, o primeiro americano a ser lançado em órbita terrestre, confiou mais nos cálculos feitos à mão por uma especialista em matemática do que os feitos pelos rudimentares computadores da, então, recém-criada empresa IBM.
Foi uma aventura admirável e de grande risco a conquista espacial, com tantos modestos, comparados com os de hoje, instrumentos disponíveis aos intrépidos conquistadores soviéticos e americanos.]
Mesmo em condições difíceis e incertas, os astronautas e cientistas dos centros espaciais tinham conhecimentos e informações suficientes para saber aonde iriam e o que poderiam encontrar e enfrentar. Isso me faz traçar um paralelo com as conquistas das grandes navegações marítimas do final do século XV e do começo do século XVI pelos portugueses e espanhóis, além do destemido genovês Cristóvão Colombo.
Os estudiosos daquela época não tinham como comprovar as teorias sobre nosso planeta, sua forma e extensão. Sabiam das terras e das civilizações situadas a leste do continente Europeu, contatos que faziam por via terrestre em longas viagens.
O formato redondo da Terra era apenas uma teoria. O que se pensava, então, era que o planeta seria plano e que, se navegassem por aquela imensidão de água do Oceano Atlântico, chegariam a uma enorme cachoeira, que seria o limite do planeta.
Sabemos que o visionário Colombo acreditava na teoria da esfericidade da Terra e que, se navegassem em direção oeste, chegaria às Índias. Pensamento correto, mas o que ninguém imaginava era que no meio do caminho havia um imenso continente, habitado e com uma enorme riqueza.
A conquista das terras deste Novo Mundo teve episódios de grandes aventuras, não só pelas condições de locomoção, feitas sobre umas "cascas de nozes" frágeis pela imensidão e força do oceano, bem como pelas condições adversas e desconhecidas do interior daquelas terras. Não tinham sondas não tripuladas para mapear e fazer o reconhecimento da área.
Aventura fantástica enfrentou o espanhol Francisco Pizarro em 1532, no Oceano Pacífico, nas costas do que é hoje o Peru. Tomando ciência que a região era rica em prata e ouro, aprisionou um grupo de indígenas. Com ameaças e torturas, obteve a informação de que o imperador Inca estava com seus exércitos acantona-dos em uma região denominada Cajamarca. Obrigando os nativos a conduzi-lo até a localidade, alcançou o sítio em um final de dia e ele e seu grupo ficaram estarrecidos com o que depararam. O exército do imperador inca Ataualpa se distribuía pelas encostas dos morros ao redor do vale, tomando toda a área. As fogueiras acesas pelos grupos de guerreiros eram tantas, que, à noite, pareciam as estrelas do céu. Estimaram que Ataualpa contasse com um exército de cerca de oitenta mil soldados. A questão era que os homens de Pizarro somavam 168 soldados. Uma desproporção gigantesca.
Sem poder recuar, pois demonstrariam medo, encorajando os índios guias aprisionados a enfrentá-los e matá-los, o comandante resolveu enfrentar aquele poderosíssimo exército.
Pizarro armou uma estratégia dispondo sua infantaria em dois grupos, uma de cada lado da praça do vilarejo onde se daria o encontro para se conhecerem que o comandante havia proposto ao Imperador Inca. Da mesma forma, dividiu sua cavalaria em dois grupos, um em cada lado do logradouro.
Os espanhóis não conseguiram dormir, pelo pânico do que aconteceria ao amanhecer: a expectativa é que seriam trucidados, pois seriam 476 incas para cada um.
Aos primeiros sinais do dia, o exército inca começou a se locomover, como em ondas: avançavam, paravam enquanto os grupos de traz se erguiam e tomavam posição. Lentamente caminhavam, paravam e aguardavam, recomeçando em seguida o avanço. Levaram algumas horas para alcançar a praça, e mesmo assim, muitos ainda aguardavam nos morros para chegar sua vez de levantar e avançar.
Ataualpa vinha sentado em um enorme liteira transportada nas costas de vários fortes guerreiros.
Quando o Imperador Inca alcançou as proximidades da praça, com destemor, coragem e valentia - mesmo porque não tinha alternativa - Pizarro ordenou o ataque da cavalaria pegando de surpresa os primeiros batalhões incas.
Os indígenas nunca tinham vistos cavalos. Atônitos não sabiam como combater esse estranho monstro. Paralisados, foram presa fácil para os cavaleiros e a infantaria que atacou em seguida. Os espanhóis empunhavam espadas, facas e facões de aço, material desconhecido pelos índios, que se protegiam com armadura de couro, que resistia às armas de madeiras dos inimigos, mas que eram vulneráveis ao aço. Menos proteções tinham contra as armas de fogo empunhadas pelos atacantes, armamento que nem de longe supunham que existia. As armas incas, de madeiras e pedras, encontravam resistência nos escudos e roupas de aço dos espanhóis.
Sem reação, os batalhões que protegiam o imperador foram sendo massacrados deixando caminho livre para os espanhóis alcançarem a liteira imperial. Facilmente Pizarro e seus homens dominaram Ataualpa. Preso o imperador, os oficiais incas ficaram sem saber o que fazer e não esboçaram nenhum ataque.
Pizarro impôs condição para libertar o imperador: exigiu ouro e prata em grande quantidade. Durante oito meses, manteve Ataualpa em cativeiro, enquanto aguardava chegar reforço de navios espanhóis e os incas juntarem o resgate: cerca de oitenta metros cúbicos de ouro, talvez o maior resgate exigido da história. Mesmo com os navios carregados, Pizarro matou o imperador Inca.
Claro que os astronautas tiveram extrema coragem para a conquista do espaço, alguns, inclusive, morreram na empreitada, mas a extrema ousadia dos portugueses e espanhóis, que se lançaram ao desconhecido com destemor, é para ser sempre lembrado.
* Virgilio Pedro Rigonatti, Escritor, www.lereprazer.com.br rigonatti_pedro@terra.com.br autor do livro “MARIA CLARA a filha do coronel” que se encontra à venda nas livrarias Supertog, Estação do Livro e Livraria Beca