Natural de São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, Olga Pedrário nasceu nos primeiros anos do século XX e deixou seu nome na história da música clássica no Brasil. Ainda menina, foi estudar em um colégio católico interno da capital paulista. Era filha do médico Dr. Affonso Pedrá-rio, que fixou residência na cidade, na última década do século XIX, para exercer o cargo de coletor federal, ao invés de exercitar a Medicina. Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1880, Affonso Pedrário defendeu tese de graduação na qual estudou um tipo particular de pneumonia, naquele tempo chamada de fibrinosa, conforme consta em revista especializada publicada em 1881.
Bem relacionado junto aos poderes políticos e ministeriais dos últimos anos da monarquia, Affonso Pedrário foi convidado para ocupar cargo público federal na distante e tão próxima São Sebastião do Paraíso. Era um homem de ampla cultura, apreciador das artes, músico e compositor erudito que soube acompanhar o despertar da vocação de sua pequena filha Olga para o mundo da música. Ao prepará-la para o desafio de se matricular no rigoroso colégio interno, prometeu-lhe um presente que seria dado no próximo natal, do qual ela jamais esqueceria para o resto de sua vida. Amante da música, o pai mandou vir da Alemanha um piano da melhor marca, que acompanhou grande parte da trajetória de vida artística de Olga Pedrário, deixando seu nome na história da música clássica brasileira, ao lado de renomados compositores.
Ao seguir os padrões sociais da primeira metade do século XX, a presença de Olga Pedrário tornou-se menos frequente nos palcos de música clássica e erudita, após o seu casamento com o jornalista Antônio de Souza e Silva, que também tinha relações familiares em Paraíso, um dos diretores da revista O Malho, no Rio de Janeiro, uma empresa organizada como sociedade anônima, que também publicava as revistas: Tico-Tico, Ilustração Brasileira, Cinearte, O Malho, entre outras.
Na virada para o século XX e por mais de uma década, Affonso Pedrário, como era comum na época, acumulava os cargos de coletor federal, estadual e municipal, como consta em documentos oficiais de recolhimento de impostos. Para exercer esses cargos era preciso ter um avalista suficientemente abastado, com amplos poderes políticos, pois a atividade consistia em recolher os impostos, em dinheiro vivo, guarda-lo em seu domínio particular e repassar para os devidos cofres públicos, com o desconto de uma porcentagem que recebia pelo serviço. Um cargo de grande confiança e respaldo político, exercido quando não havia casa bancária na cidade.
O cargo de coletor federal, em particular, foi ocupado por Affonso Pedrário, até por volta de 1905, quando ele foi substituído por Pedro Marinho, conforme documentos que tive acesso para analisar. Esse novo coletor que fixou residência e constituiu grande família na cidade, passou então a exercer o cargo na esfera federal, enquanto Pedrário continuou, por certo tempo, trabalhando como coletor estadual e municipal. Nos anos seguintes, é provável que o Dr. Affonso Pedrário tenha retornado ao Rio de Janeiro, pois seu nome figura em relatório de uma longa viagem aos distantes sertões do Mato Grosso, como médico da equipe do famoso sertanista, Marechal Cândido Mariano Rondon, quando estavam sendo construídas as linhas telegráficas região.