Onze presos participaram de oitivas na tarde de ontem segunda-feira, (23/1), no Fórum de São Sebastião do Paraíso. Eles chegaram cercados de muita segurança, escoltados pelo Grupo de Escolta Tática Prisional (Getap), com auxílio da Polícia Militar. Para audiência estava previsto a oitiva de um total de 32 detentos que participaram de uma “conferência” de julgamento de um preso que acabou sendo espancado na cela 1, fato ocorrido em 2013.
Foram ouvidos quatro detentos que vieram da Penitenciária “Nelson Hungria”, em Contagem, um de Conceição das Alagoas (MG). Os demais presos que foram ouvidos são oriundos do Presídio de Paraíso.
O estopim do caso foi o desentendimento e agressão de um preso em 2013 no presídio de São Sebastião do Paraíso que gerou inquérito policial conduzido pelo delegado Tiago Bordini no qual se apurou a participação de membros de organizações criminosas, que foi notícia do Jornal do Sudoeste em agosto de 2015, quando o inquérito foi remetido à justiça.
Uma das providências solicitadas pelo delegado na época dos fatos foi quebra de sigilo telefônico de diversos suspeitos. Esse monitoramento possibilitou à Polícia Civil antever uma agressão que ocorreria no presídio local.
Mais que isso, foi constatado a ousadia de diversos presos que fizeram via aparelho de telefone celular uma “conferência”, abrangendo pelo menos 27 participantes, em várias localidades, para “julgar” o detento Christian Rodrigo Ferreira, o Nariga, naquela época, recluso na cela número 1 do presídio em Paraíso. Alguns envolvidos já estavam presos por outros crimes, outros tiveram mandados de prisão expedidos naquela ocasião.
Nariga foi transferido, provavelmente para a sua própria segurança, e nenhum dos envolvidos desconfiam onde ele pode estar preso.
A audiência nesta segunda (23/1) começou às 13h e algumas testemunhas foram dispensadas
Entenda o caso
Christian Rodrigo Ferreira, o Nariga, em junho de 2013, teria usado um chuço, que é um instrumento perfurante feito de maneira rudimentar pelos próprios presos, para ferir outro preso.
De acordo com a matéria do JS publicada na ocasião, os outros presidiários disseram que a agressão “teria tirado a ‘pseudo tranquilidade’” deles em relação aos agentes penitenciários, e levou integrantes de organização criminosa ao julgamento de Nariga.
“Conforme o monitoramento da PC, por celular, além de presidiários em Paraíso, participaram da ‘conferência’, membros que ocupam diversos ‘cargos’ na organização, não apenas em Minas, mas no Estado de São Paulo’”.
O Jornal publicou que: “No ‘julgamento’ de Nariga foram ouvidos 27 participantes, dentre eles, de Ribeirão Preto (SP), Unaí, Conceição das Alagoas, Belo Horizonte, representantes de Cássia, Pratápolis, no entanto, a decisão da ‘pena’ que lhe seria aplicada foi definida entre 11 líderes. Algumas punições foram sugeridas, por exemplo, que ele também recebesse cinco ‘chuçadas’, ou ‘uma surra sem atingir o rosto e o órgão genital’. Obedecendo a ordem dada pelos ‘disciplinas’, Nariga foi agredido ‘de forma generalizada’ por presos no interior da cela 1, acompanhado ao vivo e na íntegra por aparelho celular”.
O delegado Tiago Bordini ressaltou na data que informou com antecedência a Diretoria de Inteligência do Presídio, sobre a interceptação da “conferência”, para que fossem tomadas providências, a fim de ser evitada a agressão a Nariga.
Na época, junho de 2013, Nariga passou por avaliação médica, não sendo constatadas lesões, apesar das agressões confirmadas em narrativas e também registradas em áudios dos telefones interceptados. Além de presos que se encontravam na cela 1, foram ouvidos agentes penitenciários que trabalharam no dia dos fatos.
“Ficou cabalmente demonstrada a existência de uma organização criminosa da qual fazem parte diversos detentos, inclusive de presídios de outros estados da Federação. Estes indivíduos merecem ser punidos exemplarmente, já que tentam não só praticar crimes, mas formarem uma organização paraestatal”, disse o delegado Tiago Bordini na ocasião.
O inquérito policial foi concluído em abril de 2014, e encaminhado à justiça. À época foram expedidos mandados de prisão para envolvidos que se encontravam em liberdade. Agora, parte deles está sendo ouvida.