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Tentativa de assalto ao trem pagador
Por: Redação | Categoria: Arquivo | 05-03-2017 00:00 | 1560
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Entre as histórias pitorescas de São Sebastião do Paraíso, no sudoeste mineiro, do início do século XX, está a tentativa de assalto a um trem transportador de malotes com dinheiro da Estrada de Ferro São Paulo e Minas. Traços dessa história podem ser recolhidos no Correio Paulistano, de São Paulo, em 25 de agosto de 1919. Cumpre relembrar que, 40 anos depois, o mundo tomou conhecimento de um dos crimes mais audaciosos da Europa, ocorrido no início da década de 1960, quando foi assaltado um trem pagador que também transportava malotes de dinheiro da Escócia para Londres. Entre os participantes desse assalto estava o lendário Ronald Biggs, um dos poucos que conseguiu escapar da polícia, ao se refugiar no Brasil.



Mas, a história relatada nesta crônica ocorreu, bem mais próximo, e foi divulgada na imprensa nacional a partir de notícia redigida por um correspondente de Ribeirão Preto, com a seguinte manchete: “Salteadores preparam um ataque a um trem de pagamento”. A Estrada de Ferro São Paulo e Minas tinha sede em São Simão, na região de Ribeirão Preto (SP). Seus trilhos foram estendidos até Paraíso, num trajeto de 136 quilômetros, quando a exportação de café estava em seus melhores momentos.



A estação local da referida empresa ferroviária foi inaugurada em 16 de maio de 1911 e, três anos depois, a cidade começou a ser servida também pela Companhia de Estrada de Ferro Mogiana, cuja estação foi inaugurada em setembro de 1914. Houve um acirrado clima de concorrência entre as duas empresas. Para fazer o pagamento de seus funcionários, a empresa sediada em São Simão, retirava o dinheiro no cofre de um abonado banqueiro da cidade, transportando as malas em um trem especial. Em cada estação, parava para pagar os empregados. Essa rotina chegou aos ouvidos de malfeitores, alguns deles identificados nominalmente, pelo condutor do trem.



A tentativa de assalto ocorreu cerca de 10 quilômetros da cidade. Os trilhos foram obstruídos com uma grande pilha de dormentes colocados pelo bando, todos armados com carabinas e com seus cavalos parados nas proximidades. Entretanto, nada ocorreu com pretendiam os malfeitores, porque eles nem chegaram a ver a cor do dinheiro. O esperto maquinista percebeu alguns sinais estranhos nas imediações, ao perceber um movimento anormal e avistar cavaleiros armados e, de longe, a pilha de madeira sobre os trilhos. De imediato, ele parou o trem e iniciou uma habilidosa manobra de retorno à estação de Paraíso, evitando a consumação do assalto.



Assim que o trem chegou à estação, o corrido foi relatado e o superintendente, que telegrafou para o chefe da polícia de Belo Horizonte, pedindo as providências. No próprio telegrama enviado à polícia, o nome do chefe do bando foi claramente indicado e publicado no jornal. O fato de recorrer ao chefe de polícia do estado se deu após ter solicitado providências à polícia local, que não dispunha de condições para empreender buscas na região de mata, para tentar prender o chefe do bando e seus comparsas.



Nesse sentido, “em nome do decoro nacional”, foram pedidas providências à autoridade policial na capital mineira, anunciado que o tráfego somente seria restabelecido após o oferecimento de garantias à empresa paulista.



Outros episódios análogos já teriam ocorrido, conforme afirmou o chefe da estação, quando passageiros eram roubados, em pequenas estações desprovidas de proteção policial.