CHARGE

Professores comentam publica

Por: Redação | Categoria: Arquivo | 08-03-2017 00:00 | 3661
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A contadora, Elisangela Formagio, publicou em sua página em uma rede social uma charge (veja o desenho abaixo) e um comentário a respeito de erros de Português na escrita que percebemos em muitos setores, na internet e no cotidiano. A postagem chamou atenção e propusemos que alguns professores comentassem a respeito.



Elisangela comentou em sua publicação: "Hoje em dia endossa-se falar errado para evitar preconceito linguístico. Aboliu-se o mérito e aprova-se a frase errada para não constranger! Mas se você quer mesmo vencer na vida, a raiz de tudo está na capacidade de se comunicar bem! Não se nivele por baixo, pessoas assim nem são ouvidas, além de serem facilmente manipuladas!",



A secretária municipal de Educação, Maria Ermínia Preto de Oliveira Campos, disse a respeito da charge que considera a leitura uma necessidade. "É por meio da leitura que expandimos nossa consciência, ampliamos nossa visão de mundo e nos tornamos pessoas mais conscientes, críticas, capazes de lidar com situações adversas, distanciando-nos da alienação", argumentou a secretária.



Maria Ermínia alinha seu modo de pensar com o de Elisangela , quando na postagem a contadora diz que as pessoas que não leem "são facilmente manipuladas". A secretária de Educação diz: "Quanto mais o indivíduo estuda, mais se torna "senhor do próprio destino", dono de sua fala e usuário competente de sua língua. Nesse sentido, a charge nos permite várias reflexões. Primeiro, o ignorante desconhece posicionamentos diferentes e, muitas vezes, age de maneira equivocada ou passiva diante da sociedade. Ele não visualiza o que não está claro, pois não interpreta com habilidade".



O Superintendente Regional de Ensino, Alípio Mumic Filho, disse que "a escrita assim como da linguagem oral, não está restrita a uma ampla liberdade, ou seja, de agora em diante, tudo é permitido, desde que se comunique. Existe, como sempre, uma linguagem culta e uma linguagem coloquial. Inicialmente, no período de alfabetização, predomina a liberdade de expressão, no sentido de propiciar à criança que não seja tolhida nas expressões".



A professora de Língua Portuguesa e Redação, Cláudia Zanin, considera a questão em outro ponto de vista. "Qualquer preconceito é abominável, inclusive o linguístico. Infelizmente, ele é construído por razões políticas e alimentado pela escola. Rotular as pessoas pelo nível de escolaridade ou por falar uma determinada variante linguística é o suficiente para determinar o lugar social de qualquer brasileiro. A língua formal, ou oficial, é uma dentre as inúmeras línguas que existem no Brasil, mas é tomada como se fosse a única aceitável. É a língua que se ensina na escola, que está presente nos documentos oficiais, na produção acadêmica, na mídia jornalística e é regulada pelas normas da gramática. O objetivo é apenas manter a unidade linguística no país, nada mais do que isso", explica a professora.



A autora da postagem, Elisangela , justificou sua postagem: "Eu estou chocada com o que ando lendo e com isso, pensei em chamar a atenção, alertar. Algumas pessoas escrevem muito mal. Erros grosseiros, sem cabimento como "eu poço te ajudar?"; "agente estava organizando um evento"; "faiz intrega a domicídio?"; "se alguém solber". Quando vejo que se trata de uma pessoa de idade, simples, que teve pouco acesso ou quase nenhum à educação, é até justificável, mas são jovens", exemplificou.



Alípio diz que "com o tempo e com o desenvolvimento da aprendizagem escolar, o trabalho com as "letras" deve ser aos poucos sistematizado no sentido da expressão mais elaborada, permitindo que a criança, o adolescente e jovem se comuniquem de maneira mais formal. Um exemplo disso é o "internes" que, o adolescente e o jovem dominam, sem intervir na comunicação culta. Assim as linguagens, ao invés de causarem um impeditivo, facilitam a comunicação e, não prejudicam o aprendizado. Normalmente, falam-se das "pérolas do ENEM", que não se constituem em uma verdade absoluta. Basta vermos que, para muitos estudantes, a prova de redação, tem sido um dos garantidores da uma média, que facilita o ingresso no ensino superior", argumenta o superintendente.



Maria Ermínia também valoriza o papel da escola. "É obrigação da escola oferecer condições para que o indivíduo construa conhecimentos, tenha acesso à norma padrão da língua portuguesa, desenvolva sua oralidade, conviva com diversos gêneros textuais (desde histórias em quadrinhos, parlendas, músicas, até charges, notícias, reportagens, artigos científicos, entre outros) e estabeleça relações entre textos, obras distintas e a própria vida", explica a secretária de Educação



 



Preconceito



A charge também aponta a questão do preconceito que muitas vezes é gerado contra aquele que não utiliza a linguagem com base na norma padrão e pode ser visto como um indivíduo sem cultura pela sociedade que o cerca.



A professora Cláudia Zanin pondera sobre essa situação. "A charge alimenta o preconceito ao contrapor dois grupos: os que leem e os que não leem. A palavra "ignorante" vem cercada de violência, representando a maior parte da sociedade. "Saia desse livro" remete ao "desarmamento" de um cidadão, que é tomado como pacífico e detentor de um conhecimento que a maioria não tem. Desconsidera-se, assim, a bagagem cultural de ambos ao priorizar apenas o conhecimento livresco, como se fosse a única maneira de exercer a cidadania. Saber a língua formal é importante, mas ela é só mais uma dentre tantas, nem mais nem menos importante", defende a professora.



A autora do post, Elisangela, argumenta: "Um caso em um grupo na internet, me deixou indignada com tanta barbaridade escrita e chamei à atenção. Mesmo colocando meus argumentos com cuidado, fui recriminada. As pessoas me taxaram de preconceituosa e me acusaram de estar constrangendo pessoas que têm todos os motivos do mundo para escrever como escrevem. Mais: ninguém tem a obrigação de saber escrever! Absurdo, penso. Isto eu li de uma universitária, que defendia que se há como entender, não tem o porquê de exigir, pois houve comunicação", conta.



A secretária Maria Ermínnia também fala de preconceito. Não aprovo o preconceito linguístico. Penso que temos o dever de respeitar as diversas formas de expressão, mesmo não concordando, algumas vezes, com elas. Precisamos estudar as variedades linguísticas com nossos alunos, analisar as diferentes maneiras de nos comunicarmos, explorando, para isso, metodologias apropriadas. O professor, como formador de opinião, não pode, de modo algum, desprezar ou inferiorizar, por exemplo, a variante regional, social ou cultural de que o aluno faz uso. Em vez disso, deve aproveitar os conhecimentos que possuem e utilizá-los de acordo com as necessidades que surgirem em sala de aula e com o planejamento elaborado para cada ano escolar.



 



Muito mais que falar e escrever



Especialistas acreditam que a linguagem é uma identidade individual, social e cultural. De forma velada e cordial, vivemos um "apatheid" linguístico" que define a língua e os espaços sociais aos falantes de acordo com a aproximação ou o afastamento do domínio  do registro formal. A reorganização do espaço de enunciação brasileiro , distinguindo ,de um lado, língua materna de língua oficial e nacional e, de outro, língua escrita de língua coloquial, conseguiria identificar o que vimos buscando há séculos : quem é o povo brasileiro? Sairíamos do processo de busca de identidade nacional para o reconhecimento e valorização da civilização brasileira. Colonizados para sempre ? Ainda não, há uma luz no fim do túnel , ainda tênue, mas é possível visualizar alguns matizes indígenas, africanos, portugueses, amazônicos, nordestinos, baianos, fluminenses, mineiros, sulistas.



Elisangela diz que a modernização da Educação facilitou a propagação dos erros. "A escola não é tão interessante quanto já foi um dia. Hoje temos a tecnologia, temos o Facebook, Instagran, Twiter, Whatsapp. Temos a TV com canais pagos, temos o Netflix. Temos milhares de jogos virtuais em diversas dimensões. Temos um mundo globalizado, de fácil acesso a qualquer lugar. Hoje a meninada só não pode trabalhar, mas tem namoro liberal, com sexo permitido, então, de fato, a escola, os estudos e a leitura, interessam pouco mesmo. Tornou-se desinteressante. Merecemos o melhor para nós mesmos e o conhecimento, a partir de uma linguagem correta e coerente permite isto. Conhecimento nos dá a liberdade de pensar por nós mesmos. Ele evita o constrangimento e não o contrário. Ele nos dá dignidade, nos liberta", finaliza.