O trabalho de mestrado realizado por Ronaldo Elias de Mello Júnior, cientista de Alimentos da UFLa (Universidade Federal de Lavras) acaba de ser aprovado pela instituição e se tornou obra literária. Ele desenvolveu pesquisa sobre desidratação osmótica de figo verde em vários municípios do Sudoeste de Minas. Detalhe que chama atenção neste projeto é que parte da coleta de informações foi realizada em propriedades rurais de São Sebastião do Paraíso, em um trabalho desenvolvido em parceria entre a Prefeitura, através da Sedeagro (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Agropecuário) e a universidade.
Os contatos com representantes da Prefeitura ocorreram em 2012 e foram desenvolvendo até o início da pesquisa em 2014. Foram pelo menos dois anos intensos de trabalho e a tese defendida no curso de Mestrado por Ronaldo Elias foi aprovada. “O contato inicial meu foi feito através de telefonema da Espanha, para a Prefeitura. Em contato com o Marco Aurélio, da Sedeagro iniciamos a pesquisa”, conta o professor Jefferson Luiz Gomes, pesquisador do Departamento de Ciência dos Alimentos, da UFLa). Ele explica que esteve em Paraíso por várias vezes para a coleta de material, como ocorreu na terça-feira desta semana onde foram obtidas amostras do figo para a segunda etapa da pesquisa, agora já na fase do curso para Doutorado de Ronaldo.
Conforme o professor Jeferson, a Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) costuma financiar projetos que têm como polo produtos de Minas Gerais. “Aqui no Sudoeste de Minas produz-se muito figo e a excelente receptividade que tivemos aqui em Paraíso, através da Secretaria de Agricultura nos possibilitou formarmos esta parceria que resultou neste trabalho de pesquisa”.
O município possui mais de 100 hectares de área plantada de onde é feita a produção de aproximadamente 960 toneladas de figo por ano. O convênio celebrado entre as partes teve ainda a parceria da Fapemig que investiu mais de R$ 102 mil na pesquisa.
Para o cientista Ronaldo a pesquisa foi um trabalho árduo por ser algo praticamente inédito no país. “Aqui no Brasil não tínhamos parâmetros para a produção de figo desidratado e de início fizemos vários testes. Estivemos aqui em Paraíso onde conhecemos a linha de produção de uma indústria, tentamos utilizar parte do processo deles, colocamos em nosso laboratório, mas não deu certo”, conta. Foram necessárias novas adequações e foi montado um verdadeiro quebra cabeças até serem definidos os rumos. “Depois de certa insistência conseguimos chegar a produto pré-concluído e depois ao produto final”, relata o pesquisador.
Ronaldo explica que o resultado final atendeu as expectativas, principalmente em relação ao uso do figo maduro. “Quanto ao figo verde estamos com expectativas para serem atendidas, e esperamos suprir com a segunda etapa da pesquisa que será realizada no trabalho de Doutorado”, acrescenta. Ele ressalta que de forma geral o uso de produtos desidratados vem crescendo no Brasil. “Quem busca alimentação de qualidade, por questões de saúde, pessoas que vão à academia estão com esta demanda”. A maior parte do que é consumido no país é importado da Turquia e por isso o custo acaba sendo elevado. “Se conseguirmos um produto nacional com características similares ou mesmo diferente que atenda aos padrões dos consumidores teremos um grande mercado para atender”, completa.
A secretária municipal de Meio Ambiente, Yara Borges enfatiza que este trabalho em parceria entre o município e as entidades envolvida traz resultados muito positivos. “Traz conhecimento através das universidades e tudo isso agrega valor ao nosso trabalho, por oferecer novas oportunidades aos produtores rurais. Outro aspecto positivo é que divulga o nosso município lá fora em um trabalho tão importante”, acrescenta. Neste sentido o mestrando lembra que o lançamento de sua obra também foi feita no Japão.
Já o professor Jefferson Gomes destaca a importância do trabalho de pesquisa. “A iniciativa é apresentar um produto novo, feito aqui no Brasil, para a sociedade. Por outro lado ganhamos na formação de recursos humanos, com mão de obra qualificada isto beneficia toda a cadeia produtiva que vai das instituições como a UFLa, a Fapemig, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e outros órgãos importantes que atuam neste campo, pois, a pesquisa ajuda a melhorar a qualidade de vida da população.
De acordo com Marco Aurélio Alves de Paula, chefe de Departamento na Sedeagro, o produtor se sente valorizado com este tipo de trabalho. “A produção na ponta da linha, dentro da porteira, é muito importante. Se a pesquisa é essencial, a produção é fundamental e são dois elos que se completam para aperfeiçoar produtos e valorizar os nossos produtores, agregando valor e melhora a renda no campo, além de proporcionar melhor qualidade de vida”, descreve. Durante as várias etapas da pesquisa Marco Aurélio acompanhou os pesquisadores nas propriedades.
Ele finaliza dizendo que outras oportunidades de pesquisa poderão surgir dentro desta parceria. “Já estamos observando outros produtos, e ate o final do mês a Sedeagro firmará com a UFLa novo convênio para a realização de pesquisa com outras frutas produzidas na nossa região”, conclui Marco.
Pesquisadores visitaram lavouras em Paraíso
Há cerca de três anos que o professor Jefferson Luiz Gomes, pesquisador do Departamento de Ciência dos Alimentos, da UFLa (Universidade Federal de Lavras) e o mestrando Ronaldo Elias de Mello Júnior estiveram em São Sebastião do Paraíso para uma visita técnica. Em companhia de Marco Aurélio Alves de Paula, na época assessor de Programas Agropecuários, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Agropecuário (Sedeagro) eles visitaram e conheceram algumas lavouras de figo na zona rural do município.
A Sedeagro se envolveu intensamente no projeto que visa a produção de alimentos saudáveis. Na época a iniciativa era apresentada como uma proposta que virá beneficiar o setor com o desenvolvimento de uma técnica que dará maior durabilidade à matéria-prima existente em Paraíso e na região.
Eles estiveram na propriedade do produtor de figo Hélio Marcos Romualdo Santos, na região da Queimada Velha. A lavoura estava em fase de colheita e os pesquisadores puderam conhecer as amostras da produção. Jefferson e Ronaldo também tiveram a oportunidade de conhecer a Indústria Tozzi instalada na mesma região do município que é grande produtora de figo em conserva.
Os visitantes acompanharam o processo de produção e detalhes sobre o fruto de maior e menor porte. Da primeira propriedade eles receberam 1.500 frutos que foram levados para avaliação. Posteriormente também foram levadas várias amostras da matéria prima industrializada no município. O material foi utilizado em vários experimentos da pesquisa para se obter o figo desidratado.
Um dos desafios enfrentados foi vencer a dificuldade em armazenar o produto no período do pós-colheita. Uma das propostas apresentadas na época era desenvolver o figo seco que tivesse uma maior durabilidade. Uma das alternativas foi utilizar figo cozido e guardá-lo em conserva. A iniciativa era fazer com que o figo desidratado e que ocupa menos espaço se tornasse em um produto mais refinado e de valor agregado.
A Prefeitura de Paraíso através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Agropecuário pretende proporcionar desenvolvimento para a atividade e melhorar a renda dos produtores que são de origem familiar. O município possui cerca de 100 hectares de área plantada de onde é feita a produção de quase mil toneladas de figo por ano. É um projeto desenvolvido em parceria com a UFLA, Associação dos Produtores Rurais da Queimada Velha, por intermédio da Sedeagro.
O convênio celebrado entre as partes tem ainda a parceria da Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) que realizou investimentos na pesquisa na ordem de R$ 103.950,00 no projeto que foi desenvolvido entre os anos de 2013 até o ano passado quando a tese foi apresentada e aprovada na universidade.
Figo e os benefícios para a saúde
A pesquisa realizada em São Sebastião do Paraíso e outros municípios da região é que deu origem ao livro intitulado “Desidratação Osmótica de Figo Verde Cultivado no Sudoeste de Minas Gerais”. Segundo a pesquisa a desidratação osmótica assistida por pulso de vácuo é um processo eficiente para obtenção de alimentos parcialmente desidratados. Devido ao seu elevado teor de umidade os figos precisam ser conservados de alguma maneira. O trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da concentração da solução de sacarose e de sua temperatura (31,6 e 48,4 °C) assim como, o tempo de pulso de vácuo aplicado na incorporação de matéria seca e redução do teor de água. A desidratação osmótica foi realizada por 300 minutos com proporção amostra/solução de 1:10 (m/m).
No resumo da obra defendida em tese na universidade, o mestrando Ronaldo Elias de Mello Júnior fez um relato onde descreveu que a secagem destaca-se como um método eficiente de conservação. “A partir de sua aplicação torna-se possível a obtenção de alimentos menos susceptíveis à contaminação microbiologica por meio da redução do teor de umidade e da atividade de água”, anuncia. Esta redução minimiza os gastos com transporte, embalagem e armazenamento, devido à redução consideravel do volume dos alimentos.
O figo seco é altamente nutritivo e uma rica fonte de fibra dietética, potássio, proteínas, minerais (ferro, fósforo, magnésio, cobre e zinco) e vitaminas (riboflavina e vitamina B6). O figo é conhecido pelo seu caráter curativo desde há muitos séculos. Dentre as principais propriedades do figo, destacam-se o seu caráter nutritivo, tônico, laxante, diurético, expectorante e tópico emoliente. Está indicado o seu uso interno para casos de astenia física e nervosa em crianças, adolescentes, convalescentes, desportistas, mulheres grávidas, irritações gastrintestinais, obstipação intestinal, estados febris, transtornos menstruais e inflamações pulmonares e urinárias.
O figo é de fácil digestão e laxante, devido ao seu elevado número de sementes e ao seu teor em fibra. Um par de figos diários faz mais pela manutenção da saúde da flora intestinal que qualquer outro alimento ou produto farmacêutico. O efeito diurético do figo deve-se ao elevado teor em potássio que o torna num alimento alcalinizante. Ele apresenta o valor de pH mais básico de todos os alimentos. Por isso, é muito adequado para neutralizar alimentos ácidos, como a carne, massas elaboradas com farinhas refinadas e os doces.