Desde 2013, quando da descoberta das primeiras falcatruas nos contratos da Petrobras, foi iniciada uma campanha feroz contra o governo de então. O que deveria ser simplesmente um caso de polícia, com a prisão de corrompidos e corruptores e o sequestro de bens adquiridos com o fruto da propina, foi conduzido única e exclusivamente para a derrubada do governo legitimamente eleito. Isto tudo com uma união de forças há muito não vista, pelo menos no período democrático, com o uso da empresa de mídia dominante no pais, partidos políticos, algumas organizações civis, uma parcela da sociedade e uma completa manipulação da opinião pública, já dividida pela campanha política que viria em 2014. Após a eleição o grupo perdedor, uma parte da sociedade que estava distante do poder há um bom tempo, se aproveitando da divisão clara provocada pela polarização eleitoral, achou que era o momento de derrubar o governo. O comportamento naqueles dias beirava a histeria. Mas, com a denúncia há algum tempo do Site Wikeliaks, o mesmo que publicou os documentos do governo norte-americano, de que os EEUU receberam informações confidenciais do Brasil, repassadas por políticos que hoje determinam os destinos do Brasil, os fatos foram ficando mais claros.
Vejamos então; no final do governo Itamar Franco a inflação foi contida em patamares aceitáveis e mantida assim nos governos que o sucederam, em 2005 o país quita suas dívidas com o FMI, em 2006 aumenta a pressão por um assento permanente na ONU, em 2007 é descoberto o presal e o marco regulatório exige a participação em primeiro lugar de empresas nacionais em variados percentuais, em 2009 é realizada a primeira reunião dos Brics, união de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que tem um pib de 17 trilhões de dólares, 42% da população mundial e um potencial bélico imenso. Em 2010 o Brasil juntamente com a Turquia propõe ao Irã um acordo para renegociar o programa nuclear daquele país, prontamente aceito pelos Iranianos e logo vetado pelos EEUU, que posteriormente impuseram um acordo até pior do que o negociado anteriormente. Em 2014 o Brasil fecha a negociação para compra de aviões de caça para as forças armadas com a Suécia; lembrando que aquele país aceitou prontamente repassar a tecnologia, o que os outros vendedores se negaram, entre outros movimentos de menor impacto.
O Brasil estava começando a ter relevância no cenário mundial e determinar seus próprios destinos, o que definitivamente não interessava ao “deus” mercado e seria impensável para os EEUU, o Brasil sair de sua área de influência. Aproveitando o desejo de uma parte da sociedade bastante preconceituosa e outra que estava alijada dos recursos governamentais desde as privatizações, utilizando discursos muitas vezes toscos, foi fácil manipular a opinião pública e os políticos desonestos para derrubar o governo.
Tão logo o governo foi derrubado, começou a correria para limitar gastos sociais em geral e em saúde e educação, impor aos cidadãos uma legislação trabalhista e previdenciária predatória, com o único intuito de retirar benefícios do trabalhador e diminuir custos aos empresários. Isto tudo para baratear os produtos das empresas nacionais e multinacionais que por aqui operam; e com custos menores elas enfrentarem a concorrência, principalmente chinesa. Aliado a isto a venda de ativos nacionais sem nenhum controle, inclusive na área de energia, área vital para qualquer país.
É difícil compreendermos como um caso de bandidos encastelados em empresas estatais e privadas, juntamente com os seus protetores com foro privilegiado, que deveriam ser simplesmente presos, fosse causa bastante para interromper a democracia no país. Em regime democrático sério, o povo elege e o povo retira do poder.
Era evidente que a corrupção era somente um escopo para a quebra do regime institucional. O assustador disto tudo é que o grupo que assumiu o poder não inspira nenhuma confiança e tem gente comprovadamente envolvida em corrupção, e esta mesma sociedade que vestiu amarelo, gritou, esperneou e acusou está inerte. Ela não consegue se mover, será por medo, vergonha, incompetência mesmo ou se para ela bastava tirar o governo eleito? Se a alternativa é a última, pobre Brasil. As promessas fantasiosas de melhoria da economia e criação de empregos foram simplesmente esquecidas. A preocupação é salvar a própria pele. Isto tudo com certeza faz parte de um script bem elaborado. Uma pergunta só. Somos livres?
JOÃO BATISTA MIÃO.
São Sebastião do Paraíso.