CRÔNICA HISTÓRICA DE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO:

Matança no Fórum de Passos – Parte 3

Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cidades | 28-06-2017 14:06 | 1655
Foto: Reprodução

 




Após ser obrigado a deixar a cidade de Passos, o jornalista Antônio Celestino atuou certo tempo na imprensa de São Sebastião do Paraíso, também no Sudoeste Mineiro, bem como na vizinha cidade de Guaranésia. Orador e polemista eloquente, suas destemidas ideias são rememoradas em crônicas publicadas no Libello do Povo, jornal paraisense editado pelo jornalista João Borges de Moura, assinadas pelo pseudônimo “João D’Aqui”, na década de 1930. A propósito dos crimes corridos no Fórum de Passos, Antônio Celestino escreveu três pequenos romances, que formavam uma espécie de coletânea sequencial. Em 1917, um desses romances, tendo por título “Turbilhão de Sangue”, foi impresso na Tipografia Amaral, de São Sebastião do Paraíso. Os outros dois foram publicados em tipografias de Guaxupé e Guaranésia. 
Recentemente, essas três pequenas obras de Antônio Celestino foram reeditadas por serem importantes fontes para a pesquisa da história regional, através da qual podemos visualizar o panorama político da época considerada. Celestino era ainda defensor da polêmica separação do Sudoeste Mineiro e sua anexação ao estado de São Paulo, defendendo uma espécie de acerto de contas com a história das antigas fronteiras esboçadas pela Coroa Portuguesa, ainda no século XVIII, quando os limites da Capitania de Minas parecia ser toda a extensão do Rio Grande e não apenas a parte inferior do Triângulo Mineiro. 
Foi com essa bandeira separatista que Antônio Celestino lançou em São Sebastião do Paraíso, na segunda década do século XX, o jornal intitulado “A nova Aurora”. Essa ideia em nada agravada aos políticos situacionistas do Partido Republicano Mineiro, pois caso se concretizasse os mesmos perderiam parte expressiva de suas bases eleitorais da região. É provável que o referido jornal separatista tenha tido curta duração, pois na mesma época, o combativo jornalista figura como editor do “Nova Era”, semanário impresso em São Sebastião do Paraíso, de propriedade do coronel José Honório Vieira.
Outra fonte sobre o caso da Matança do Fórum é o romance de Mario Palmé-rio, Chapadão do Bugre, publicado na década de 1960, adaptado para televisão na minissérie da Rede Bandeirantes, em 1988. A linguagem da obra literária traduziu com ricos detalhes a história ocorrida, apenas mudando os nomes dos personagens, mas mantendo de modo fiel a realidade dos fatos. O que foi confirmado com as diferentes memórias preservadas na cidade, sendo a obra objeto de várias considerações elogiosas. A esse respeito, transcrevemos a seguir uma das cenas mais fortes da obra literária, com a linguagem criativa de Mário Palmério:
“Foi quando o Coronel Ludgero Alves viu então, debaixo da porta, infiltran-do-se pela fresta rente ao assoalho, a coisa começava a escorrer sobre as tábuas - larga e grossa, e vermelha bicazinha... Sangue! - o velho, de instantâneo, tudo percebeu: o Americão, o Calixtrato!... Num arranco inesperado para trás, conseguiu esgueirar-se por entre o sargento e a sentinela, e tropegar rumo à escadaria: - tão matando a gente! tão matando! – o Coronel Ludgero disparou a gritar que nem um alucinado. Mas não conseguiu alcançar nem o fim do primeiro lance da escada, lento de pernas, idoso demais para vencer os degraus estreitos e quase a pique. Alcançado pela linda pontaria do Sargento Hermenegildo, caiu por ali mesmo, picado pela rajada seca dos terríveis tiros curtos, de aço, de pistola mauser.” (Mário Palmério. Chapadão do Bugre, 1965)