CRÔNICA - Joel Cintra Borges

Pastores nômades da Índia

Por: Joel Cintra Borges | Categoria: Cultura | 23-07-2017 10:07 | 2234
Foto: Reprodução

Em uma rodovia da Índia (não me lembro perto de qual cidade) nosso ônibus passou por uma grande quantidade de pessoas, em velhos carros, tratores, motocicletas, mas, a grande maioria a pé. Eles tocavam algumas dezenas de vacas com chifres muito grandes, dando a impressão de serem da raça Guzerá, que é um gado natural de uma região chamada Gujarat, na costa oriental da Índia. Em tempos mais antigos eles estariam montados em cavalos, ou camelos. Hoje, já aderiram aos carros e motos!
Havia mulheres e crianças, homens velhos e novos, e até umas moças muito bonitas, com aqueles vestidos coloridos e compridos, muitas pulseiras e brincos. O povo indiano, de uma forma geral, tem cor amorenada, mas estes tinham tez mais escura, como se fossem tostados pelo sol.
Eram pastores nômades e seminômades que habitavam os oásis das regiões desérticas da Índia, dedicando-se à criação de vacas, ovelhas e cabras, e também à agricultura. Mas, sua característica principal é que não tinham moradia fixa. Dormiam em tendas, as quais eram trocadas de lugar com grande facilidade, conforme iam encontrando terras melhores e mais abundância de água.
O que mais me chamou atenção naquela multidão de pessoas, que caminhavam no calor e no sol ardente, foi a ideia de liberdade. Elas estavam deixando para trás a civilização, para entrar em dunas de areia, onde não havia eletricidade, internet e nem supermercados. Iam ter que usar candeias, lamparinas, ou velas. Não teriam o conforto de água encanada e muito menos chuveiros quentes!
Mas, não caminhavam tristes e nem cabisbaixos. Riam, conversavam, tudo parecia muito natural para eles. Tal povo, tais costumes! O deserto, que para nós dava uma impressão de inferno, por causa do sol ardente, do total desconforto, da falta de recursos no caso de uma doença, para eles era o lar. Era onde se sentiam em casa, longe dos olhos de estranhos e em total contato com a natureza, seja na própria terra com suas poucas plantas, seja debaixo do manto das estrelas, porque certamente se vê melhor o céu na escuridão do deserto.
Tinham sua língua, suas leis, sua religião, seus hábitos, seus amores. E a felicidade? Cada um a constrói com a argila e a habilidade que tem. Independente do lugar onde está.