O episódio de violência ocorrido no ano de 1909, no qual foram mortos dois líderes políticos da cidade de Passos, no Sudoeste Mineiro, ilustra o desafio de articular memórias e fontes diversas para retornar ao passado histórico. Além dos textos escritos por Antônio Celestino e do romance realista do escritor Mário Palmério, vários outros documentos sobre o caso foram preservados em acervos e arquivos históricos, públicos e particulares. Além de depoimentos colhidos de pessoas que guardaram algumas lembranças sobre o triste episódio, incluindo familiares das vítimas, bem como recorrendo a um conjunto expressivos de fontes, o professor Antonio Theodoro Grilo reconstituiu a história com os rigores da pesquisa científica.
O trabalho acadêmico do ilustre historiador passense resultou na defesa da tese de doutorado, intitulada “Tocaia no Fórum: Violência e Modernidade”, em 2009, na Universidade Estadual Júlio Mesquita Filho, de Franca. O transcurso de um século entre o calor dos acontecimentos e a defesa da tese revela um aspecto fundamental da pesquisa que consiste em tratar os fatos históricos sem a indevida influência das diferentes paixões que dividem os homens e suas instituições. A leitura da obra traduz esse sentimento ao leitor e segundo nosso entendimento permite um consistente retorno ao passado histórico do Sudoeste Mineiro, sobretudo, pelo caminho metodológico adotado pelo autor, na parte em que articula depoimentos e vários documentos.
Outro aspecto importante do trabalho consiste em recolocar a violência como tema seríssimo de pesquisa, fenômeno social que nem sempre recebeu o devido tratamento, como enfatizou Eric Hobsbawm, considerado um dos maiores historiadores do século XX. É mais do que oportuno recolocar o tema porque a violência estava presente no tempo do coronelismo, que predominou nas primeiras décadas do período republicano, bem como encontra-se transfigurada em suas diferentes formas, nos casos de corrupção política e econômica que tanto assolam o Brasil dos nossos dias, atingindo principalmente as classes sociais menos favorecidas.
Consiste entender que, nas primeiras décadas do período republicano, nas diferentes regiões do Brasil, o coronelismo funcionou através do seu braço armado por matadores profissionais. Fenômeno esse que acompanhou parte das relações políticas da Primeira República, quando reinou a política do café com leite, que consistia em alternar na presidência da República, políticos mineiros e paulistas.
No mesmo local do antigo prédio no qual ocorreram os crimes de 1909, que não existe mais, foi construído outro onde está instalado o atual Memorial do Fórum e o Departamento de Cultura da cidade de Passos. Que o retorno ao passado pelo viés da história escrita, sobretudo, balizada por trabalhos do mérito como a tese do professor Antônio Grilo, permita que possamos melhor entender os equívocos das sociedades pretéritas e, assim, melhor contribuir na resolução dos vários problemas sociais que ainda persistem na sociedade dos nossos dias.