mabicego@hotmail.com
Há um ano, o Rio de Janeiro era uma cidade à flor da pele. Na véspera da abertura da Olimpíada, explodia em dúvidas e expectativas. Agora, passada a euforia, já são 365 dias de convívio com a herança dos Jogos. O legado está à vista. Com a Linha 4 do metrô, corredores de ônibus e VLT, a mobilidade urbana melhorou. O Centro e a Zona Portuária não são mais os mesmos, a começar por um boulevard que virou o xodó de cariocas e visitantes.
A rede hoteleira dobrou sua oferta de quartos. E as instalações esportivas ficaram prontas a tempo. Mas quase nada escapa de um porém, de uma nuvem que deixa um horizonte turvo para o futuro. Algumas das incertezas que pairam vêm de longa data, outras são inesperadas, e muitas acabaram ampliadas pelo efeito dominó da crise federal e fluminense.
De todos os compromissos olímpicos, o legado ambiental foi o que mais ficou nas promessas. Dos nove projetos da área presentes no Plano de Políticas Públicas — documento que reúne todas as obras de legado que deveriam ter sido concluídas até os Jogos —, somente as 17 ecobarreiras construídas para reter o lixo que chega à Baía de Guanabara foram mantidas, de forma plena, um ano após os Jogos. O restante das obras de saneamento e de recuperação das lagoas da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá ficou pela metade. Nem mesmo os ecobarcos sobreviveram após os Jogos. As onze embarcações usadas para ajudar na retirada do lixo flutuante saíram totalmente de operação no mês passado, em meio à crise financeira do estado.
O pior é que as instalações onde ocorreram os jogos também estão se degradando a olhos vistos. Saques, incêndio causado por balão, mau uso, abandono. Do campo de golfe ao velódromo, tudo vai de mal a pior, como a cidade, o estado, o País. Nada se salvará nesse ritmo.
Exemplo de desperdício, de motivo de roubos e desvios, de crime que ficará sem punição, a Olimpíada será lembrada futuramente como algo bacana que poderia ter dado certo, mas ficou abandonada, à beira do caminho.
Como o próprio Brasil.