Conheço muito pouco o jornalista Thiago Roque. Cara de menino atrás de uma barba negra cerrada e uns óculos enormes. Escondendo de que? Querendo parecer mais velho? Por quê?
Ele é editor-chefe na empresa A Cidade ON Ribeirão Preto, teve outros empregos importantes, estudou Jornalismo na Unesp. Mantém um relacionamento sério com a linda jornalista Cléo Soares. E gosta de gatos, característica que enriquece seu caráter, atesta bom gosto e grande sensibilidade. Thiago é da pequena cidade de Descalvado.
Quero, no entanto, falar sobre o Thiago Roque, o cronista. Não perco, em A Cidade, um texto seu, por suas características muito especiais. A Crônica é um gênero literário aparentemente simples: mais leve que o Conto, preferência por temas do dia a dia. Isto, teoricamente. Aos poucos a Crônica cresceu tematicamente, alargou seus horizontes.
Surgiram grandes cronistas brasileiros e, inclusive, os mais famosos romancistas, poetas, acabaram aderindo ao gênero, como Machado de Assis, Clarisse Lispector e Cecília Meireles. Alguns cronistas brasileiros ficaram famosíssimos, como Rubem Braga, João do Rio e Nelson Rodrigues.
Mas, o que me encanta especialmente, nas crônicas de Thiago Roque? É a ousadia e o desnudamento. Sua coragem lembra-me o estilo de Carpinejar, que já ganhou vários Jabutis, com suas crônicas. Ambos escrevem como se estivessem em um divã de analista, abrem seu coração, sem reserva, sem máscaras, sem falso pudor.
Thiago Roque, diante de sua futura crônica, sobre qualquer tema, diz o que pensa; muitas vezes dá a impressão que quer ir sempre além do comum, do já dito. Ousa. Jamais retrata suas grandes qualidades; ao contrário, procura seus possíveis defeitos, fragilidades do ser humano.
A franqueza, ousadia, lucidez e bom senso podem ser sentidos, por exemplo, na sua excelente crônica "Se nada dar certo" (06/06/2017) diante de um posicionamento equivocado, de uma escola elitista, do sul do país, menosprezando profissões "de menor escalão, como faxineiras, ambulantes, atendentes de supermercado, mecânicos, churrasqueiros".
Em uma visão mais humanista e mais ampla, Thiago critica esta visão vesga, lembrando a supervalorização dos Cursos Superiores, das especializações modernas. O grande profissional depende de qualidades muito mais sérias do ser humano: sua integridade, caráter, seriedade.
Não se pode ver o mundo por um microscópio, ou um local onde apenas se realçam criaturas de grande porte. A cosmovisão mais próxima de nossa realidade é algo complexo que lembra uma sinfonia, onde a falta de uma nota, uma pausa, podem destruir sua perfeição.
Assim, é preciso ter olhos sempre atentos, diante de posicionamentos dúbios, análises vesgas que empobrecem a realidade. Diante de possível cegueira, felizmente há olhos proféticos, como os de Thiago Roque, que nos alertam como faróis de sabedoria.
(*) Ely Vieitez Lisboa é escritora
E-mail: elyvieitez@uol.com.br