DO LEITOR

“O que é morrer de sede em frente ao mar”

Por: Redação | Categoria: Do leitor | 16-08-2017 14:08 | 2774
Foto: Reprodução

Edwaldo Arantes




Hoje, pensando sobre o nosso dia a dia, nossos amigos, nossos amores, nossos papos no boteco ao cair da tarde, nossas esperanças, nossos sonhos; “o sonho que você contou para mim” e tudo que vivemos e sentimos, nossos dias da curva da vida para sempre nas lembranças.
Penso em um país antes, desolado, faminto, depauperado, descrente, molambos ao léu nas esquinas e nos semáforos, indigentes deitados sobre papelões que anunciam a melhor televisão, o computador, um relógio, um sensual sutiã e uma foto da cerveja salvadora de todos os males.
Um país que ficou para trás quando um homem que veio de uma paupérrimo e outrora Estado de nossa Pátria Amada, resolveu tal qual um Robin Hood, um Midas, um São Francisco de Assis, um Elias ou simplesmente, um retirante fugindo da seca, da miséria e da fome, gritar; basta.
Foram tempos e templos para entrar onde só adentravam os abastados, sonhar em voar como um pássaro, ver o mar pela primeira vez, estudar ao lado do filho do algoz, tomar um sorvete, receber um salário, projetar uma família, fazendo jus ao “crescei e multiplicai-vos”.
Hoje, por coincidência, dentro de um táxi soava uma canção, o motorista foi logo abaixando o volume e destruindo o tom, pedi para manter, amo o rádio, detesto a televisão.
Uma música com letra lindíssima, que há tempos não ouvia, me sacudiu dos devaneios, pensei em tanta gente e no Melodia para ser mais recente, era uma melodia com uma voz doce e firme que cantava um verso intrigante, antagônico e catastrófico; “Sabe lá, o que é morrer de sede em frente ao mar...”
Pois é, a Nação caminhava firme sobre as ondas, pés descalços que antes pisavam lamas e esgotos, saltando espumas e brumas, tal qual a “Amarelinha”, na infância distante, correndo porque no final estavam os riachos com águas claras, onde nasciam vidas ávidas de sol e mel e “No espelho do córrego bailam borboletas bêbadas de sol”, licença poética ao Poeta Maior, Carlos Drummond de Andrade.
Hoje, olho e vejo que faraós, fariseus, piratas, bucaneiros, flibusteiros , bandidos, banqueiros, comerciantes e abutres do vil metal e da ganância, do lucro acima da vida e a qualquer custo, jogaram sangue e ódio nas nascentes, nas matas, no canto do sabiá e escureceram as manhãs amareladas sob os raios dourados do verdadeiro ouro, o Sol.
Haverá um tempo que o remorso vai desaguar como uma chuva de larva, flechas, machados e desencantos, muitos sentirão a dor da vergonha por estarem ao lado deles e apoiarem tal genocídio.
Ser escudo de poderosos é a infâmia dos fracos, lotados de ódio sem saber o motivo que sua ignorância provoca.
Falsos profetas, pregadores insanos, pastores engravatados, vociferando mentiras e desavenças, enquanto lavam suas mãos fétidas, sob as torneiras de ouro, com banhos cravejados de diamantes, surrupiados dos incautos escondidos sob o manto de uma desculpa medíocre, denominada “Fé”.
Não pode existir “Fé” na destruição do justo e do bom. Não existe dogma que assalta e cresce sobre os desvalidos, não pode haver justificativa nenhuma que garanta a ruína e o pesadelo dos pobres embalados e massacrados pelos doces sonhos dos tiranos abastados.




EDWALDO ARANTES.- Mineiro de São Sebastião do Paraíso