Esta crônica focaliza momentos iniciais da industrialização da região de Ribeirão Preto, São Paulo, com implicações no sudoeste mineiro e particularmente no município de São Sebastião do Paraíso. O importante polo cafeeiro, fortalecido pelas relações entre mineiros e paulistas, estava dando os primeiros passos rumo à diversificação das fontes de riqueza econômica. A expressiva produção de café, abençoada pela ótica da velha política dos coronéis, financiou parte das primeiras indústrias do interior paulista. Este é o caso da Companhia Eletro Metalúrgica Brasileira, inaugurada em 1922, em Ribeirão Preto, cujos principais acionistas eram grandes cafeicultores.
Organizada na forma de sociedade anônima, por uma centena de acionistas, o projeto consistia em implantar uma grande indústria siderúrgica, prevendo o funcionamento integrado de três etapas especializadas, incluindo a fabricação de ferro gusa, a sua transformação em aço e a produção de lâminas para fornecer a outras indústrias. Entre os principais acionistas estavam a Empresa Força e Luz de Ribeirão Preto, outras empesas paulistas e mais abastados fazendeiros cafeicultores, que após a conquista honrada da riqueza com o famoso “ouro verde”, pretendiam ascender vôo mais alto no campo industrial. Foi uma época de grande entusiasmo gestada ainda no início da última década da República Velha. Sinal desse momento ficou registrado, para sua inserção na história, em um artigo escrito por Assis Chateaubriand, publicado no Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro, em de 15 de abril de 1922.
Para abastecer os fornos de transformação do ferro gusa em aço, estava previsto que a matéria-prima viria de jazidas dos municípios de Jacuí, Passos e São Sebastião do Paraíso. Houve então valorização especulativa no preço de propriedades agrícolas, existentes no entorno do Morro do Ferro e atual município de Itaú de Minas. Antigos proprietários foram enganados com falsas promessas de atravessadores. A memória coletiva regional confirma esse momento de euforia, em que as terras no entorno do Morro do Ferro foram valorizadas, no mesmo ritmo em que apareceram especuladores e propositores de negócios nada republicanos. Os novos industriais, com raízes profundas na cultura agrícola, compraram várias glebas ao longo da estrada de ferro da Mogiana, destinadas ao plantio de eucaliptos, cuja produção seria usada na fabricação de carvão e escórias de madeira para abastecer os altos fornos da grande indústria.
Para construir o prédio industrial, com 250 metros de comprimento, em Ribeirão Preto, foi contratada uma empresa internacional. Todas as estimativas foram sonhadas com excessiva euforia e certo desprezo ou mesmo desconhecimento da importância das bases mais objetivas das áreas científicas e tecnológicas. Não foram realizados estudos mais aprofundados para estimar, com maior rigor e precisão, o efetivo potencial das jazidas supostamente existentes nas cercanias do importante polo cafeeiro. Na fase inicial de produção, tudo aconteceu como os diretores tinham planejado.
Mas, em 1929, com a grande crise financeira mundial, os problemas começaram a surgir. Máquinas e equipamentos importados tiveram o custo elevado. A produção das jazidas não estava alcançando o volume esperado. Transportar a matéria-prima de Goiás ou de outras regiões do País, era inviável em termos econômicos. Vieram os momentos mais difíceis e inesperados. Em 1930, com o início da longa Era Vargas, a política dos coronéis sofreu o primeiro grande golpe. As vendas da empresa entraram em retração. Veio o pedido de concordata e, depois, a falência. Ficou a história.