CRÔNICA - Joel Cintra Borges

O despertar da águia

Por: Joel Cintra Borges | Categoria: Cultura | 10-09-2017 22:09 | 1263
Foto: Reprodução

Um filhote de águia caiu do ninho que ficava no alto de uma montanha. Veio rolando pela terra e pelas pedras até cair bem nos pés de um homem que passava por ali. Ele pegou o filhote, limpou-o, observando que não estava machucado. Apenas uns pequenos arranhões.
Como era difícil devolvê-lo aos cuidados de sua mãe, a pessoa resolveu colocá-lo junto com os pintinhos de uma galinha.
—  Essa aguiazinha vai acabar virando galinha! - Murmurou.
E parecia que sua ideia não estava errada, porque a águia foi crescendo ao lado dos franguinhos, aprendeu a ciscar como eles, atendendo ao chamado do fazendeiro quando ele trazia milho. Até voava baixo, aquele vôo rasteiro típico das galinhas.
Até que um dia um naturalista passou por lá e estranhou aquela águia bonita entre as galinhas. O dono da fazenda, seu amigo, lhe assegurou, no entanto, que ela já tinha se tornado galinha: mesmo modo de andar, de comer, de dormir, até aquele vôo curto...
O naturalista pegou a águia, alisou suas grandes asas e lhe falou baixinho no ouvido:
—  Você é uma águia, voe! - E jogou-a para o alto. Mas, para seu desencanto, ela caiu ao chão e correu para onde estavam seus irmãos de criação.
No outro dia, bem de manhã, ele pegou a águia de novo, cobriu sua cabeça com uma venda de couro e subiu com ela até um penhasco bem alto. Chegou lá em cima bem na hora em que o Sol começava a nascer, lançando seus primeiros raios em direção à Terra.
Bem devagar ele tirou a venda da cabeça da águia. Ela olhou para o Sol, para a planície lá em baixo, girou o pescoço, dando-se conta da imensidão de tudo. Abriu uma daquelas poderosas asas de quase um metro, como que testando sua força. Depois abriu a outra, verificando que seus músculos eram muito fortes. E voou. Sem medo, soltou-se do braço do naturalista e foi para longe, para o alto, como que atendendo ao chamado do Sol. E nunca mais voltou! 
Será que somos águias ou galinhas? Será que temos coragem, força e persistência para grandes vôos na direção do sol dos nossos sonhos, ou nos acomodaremos ciscando a terra e comendo o milho fácil de cada dia?