CRÔNICA HISTÓRICA DE SÃO SEBASTIÃO DO PARAÍSO:

Poeta Ary de Lima na imprensa paraisense

– parte 1 –
Por: Luiz Carlos Pais | Categoria: Cidades | 27-09-2017 09:09 | 3673
Foto: Reprodução

 




A história escrita torna-se possível a partir da recuperação e socialização de fontes que possam proporcionar diferentes leituras, em função das escolhas e dos caminhos seguidos pelas pessoas e instituições. É com esse propósito que transcrevemos um artigo do ilustre poeta e professor paraisense Ary de Lima, publicado no número 10 do jornal O Cruzeiro do Sul, em 30 de janeiro de 1944. O ilustre poeta era um dos redatores do semanário, lançado em novembro do ano anterior, sob a direção de João Borges de Moura, sendo também redatora a jovem Conceição Borges (Sãozinha). O País estava atravessando a fase mais truculenta da Era Var-gas, chamada de Estado Novo, regime ditatorial que havia tentado acabar com a impressa livre, impondo a censura prévia, controlar os partidos e confiscar a liberdade de expressão. 
Para piorar, a Segunda Guerra Mundial que estava em curso. A crise econômica trouxe desemprego sem precedentes, custo de vida elevado e a fome atingia parte da população. Foi nesse quadro que o referido jornal publicou em manchete: “O preço astronômico de tudo leva para fora da cidade centenas de famílias que buscam regiões mais prósperas”. Estava em curso um êxodo regional de centenas jovens e famílias, que buscavam outras regiões, onde ainda havia esperança de trabalho. É o caso, por exemplo, do Norte do Paraná, onde as grandes cidades da atualidade ainda eram pequenas vilas empoeiradas, mas estavam vivendo a euforia de dias melhores, com a abertura de novas frentes agrícolas. Nos anos seguintes, o próprio Ary de Lima resolveu deixar a terra natal para refazer a vida em Maringá, onde foi membro atuante da cultura, ingressou na política como vereador e foi eleito deputado federal, na década de 1960.
No final de janeiro de 1944, Ary de Lima e João Borges de Moura acabavam de retornar de uma viagem ao Rio de Janeiro, onde foram batalhar o registro de O Cruzeiro do Sul junto aos órgãos federais de fiscalização e controle da imprensa. A crônica intitulada “Cântico da Ressureição”, cuja primeira parte reproduzimos abaixo, retrata esse momento em que o autor expressa sua alegria por dias melhores para o povo paraisense e ressalta a importância exercida pela imprensa livre para a conquista social da democracia. 
“Imperecíveis serão para todo o sempre as grandes provas de apreço e amizade que recebemos na Capital Federal, quando de nossa ausência desta cidade, legitimamente representando um povo digno e honrado, que nos confiou as suas queixas e sua redenção. Se deixámos para atrás a imprensa falha, viciada e opilada, constituída de colecionados de máximas e de jornalistas sem recursos que escrevem transcrevendo interesses de vazios de ideal, encontramos à nossa frente os mais respeitáveis nomes da imprensa carioca, que tanto orgulham o jornalismo brasileiro. (continua....)