A intoxicação de cães e gatos por venenos para matar ratos – os raticidas, infelizmente é um atendimento muito comum em clínicas veterinárias para pequenos animais. Muito curiosos, tanto cães quanto gatos podem achar as iscas com o veneno, ingeri-las e sofrer com os efeitos fortíssimos desses produtos, inclusive levando à morte (na maioria dos casos).
Os venenos usados para matar ratos são vários. Citarei alguns dos principais princípios ativos usados, juntamente com as respectivas causas no organismo de cães e gatos que ingerem o produto:
• Brometalina: leva à edema cerebral. Provoca ataxia, paresia ou paralisia dos membros posteriores, depressão, tremores e convulsões. O início dos sintomas pode aparecer entre horas até 15 dias após a ingestão.
• Colecalciferol: Provoca Hipervitaminose D, levando à insuficiência renal. Provoca vômito com ou sem sangue, anorexia (falta de apetite), letargia. Sintomas têm início dentro de 24 horas.
• Cumarina e Indanediona (Warfarina, Pindona, Bromadolina, Brodifacum, Difacinona): são antagonistas da vitamina K, provocando coagulopatia adquirida. Os sinais clínicos variam de acordo com a localização da hemorragia, podendo ter desde um simples hematoma até dispnéia (dificuldade para respirar) e morte.
• Estricnina: age antagonizando o neurotransmissor inibidor glicina. O paciente que ingerir estricnina irá apresentar nervosismo, pouca flexibilidade, rigidez, convulsões (espontâneas ou induzidas por estimulação), midríase, falência respiratória, coma e morte.
• Fosfeto de Zinco: no pH ácido do estômago libera gás fosfina, levando à irritação gastrointestinal e asfixia, com consequente óbito.
• Organofosforados: o exemplo mais famoso é o “chumbinho”. Agem no sistema nervoso, ocasionando sinais clínicos como tremores musculares, convulsões e óbito.
• Monofluoroacetato de Sódio: Também conhecido como “mão branca”. É o mais cruel de todos. Ainda não se sabe completamente seu modo de ação, tão pouco há antídoto para seu tratamento. O paciente intoxicado apresenta nervosismo, tremores musculares, ataxia, convulsões e morte. Esse produto é proibido em vários países, inclusive no Brasil.
O diagnóstico definitivo (caso ninguém tenha visto o bichinho ingerir o produto) para toxicose por raticida requer laboratório e patologista especializados e na maioria das vezes não há tempo suficiente para tais exames.
O tratamento depende do tipo de veneno usado, o que em algumas oportunidades não é possível saber. A internação do paciente o mais rápido quanto possível pode ser a diferença entre a vida e a morte, nesses casos. A terapia usada é a tentativa de neutralizar a ação do veneno e dar suporte à vida do paciente.
* ROGÉRIO CALÇADO MARTINS
– médico-veterinário – CRMV/MG 5492
* Especialista em Clínica e Cirurgia Geral de Pequenos Animais (Pós-graduação “lato sensu”)
* Membro da ANCLIVEPA (Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais)
* Consultor Técnico do Site www.saude animal.com.br
* Proprietário da Clínica Veterinária VETERICÃO (São Sebastião do Paraíso/MG)