O duplo homicídio que comoveu a população paraisense no último domingo, teve desfecho oficial apresentado pela Polícia na manhã de quarta-feira, 30. O lavrador Alexandre José Nascimento, 24 (conhecido por "Touro") e a menor F.D.L. 16, foram apontados como os autores dos disparos que mataram o bioquímico Maiky Bandeira Kobanauwa,23, e Rosely Aparecida Fernandes, 34, balconista. Os acusados foram mostrados à imprensa em uma sala da 48ª DRSP, quando os delegados em entrevista coletiva, anunciaram a prisão e revelaram detalhes sobre a elucidação do caso. Touro e a menor F. se mostraram frios em relação ao caso. Em alguns momentos da entrevista, esboçaram rir.
O crime foi registrado por volta das 7:30 horas do domingo, 28, quando Maiky e Rosely, solteiros, foram encontrados mortos dentro de um veículo Gol, placa BVA 6670 de São Sebastião do Paraíso, numa estrada de terra, próximo a BR-265 - Paraíso Ribeirão Preto.
O assassinato estarreceu a população paraisense, e o fato acabou gerando muitas versões, embora o delegado Osmar Patti Magalhães tenha concluído tratar-se de latrocínio (matar para roubar). Um dos motivos que gerou especulações foi o fato de familiares de Rosely terem informado que a balconista vinha sendo ameaçada de morte. Alguns bilhetes teriam sido mostrados a vizinhos dela. Os acusados embora tenham assumido a autoria, não esclareceram bem o motivo da execução do casal.
Maiky na noite de sábado, madrugada de domingo, esteve numa festa na região do Posto do Sol, rodovia BR-491, ligação Paraíso-Monte Santo de Minas. Estava em companhia de um tio, e ao retornar teria dado carona para Rosely e sua prima, a menor N.G. Depois deixar o tio e N.G. em seus destinos, Maiky e Rosely ficaram sozinhos. O local que foram encontrados não ficou bem definido. Touro disse apenas que "foi próximo à Praça da Abadia".
O sepultamento do bioquímico e da balconista ocorreu segunda-feira, 29, enquanto a Polícia movimentava os primeiros passos e ações de investigação. A partir de uma denúncia anônima, recebida pelo telefone 147, na manhã de terça-feira, menos de 48 horas de ocorrido o crime, a Polícia tinha identificado os autores do duplo homicídio. Os acusados foram encontrados em uma fazenda no município de Altinópolis -SP, quando apanhavam café.
FORÇA TAREFA
No primeiro pronunciamento sobre o duplo assassinato, o delegado regional Rogério Assis de Mello Franco Araújo frisou que todos os esforços seriam empregados para desvendar a autoria do crime, e dar uma resposta a população, que tem se assustado com a crescente onda de violência e crimes desta natureza. "Vamos remontar todos as partes deste caso e ouvir testemunhas e a partir do laudo pericial poderemos ter conclusões em breve", anunciou otimista e confiante em sua equipe.
Uma informação tida como de grande importância, passada por telefone, explicou à Polícia que e uma pessoa fora vista chegando em sua residência, tendo a roupa suja de sangue.
Do veículo de Maiky desapareceram a frente de um toca CD, uma caixa de som, amplificador, 200 CDs, um celular, cartão de crédito da vítima. Sua carteira foi localizada próximo ao veículo, onde também se encontrou os documentos rasgados. Um dos vidros da janela do carro estava quebrado. Isso reforça para o delegado Osmar Patti a versão de que Touro e a menor, mataram para roubar. Eles negaram, mas não deixaram claro outro motivo. As respostas conforme constam no inquérito policial, são vistas como "meias-verdades".
A polícia observou que os disparos foram efetuados à queima-roupa. Touro disse que matou Maiky com um tiro e, depois passou a arma para F.. que fez três disparos contra Rosely.
A versão de Touro
Alexandre e F.D em depoimento disseram que passaram parte da noite e madrugada bebendo em um bar na rua Dr. Placidino Brigagão, logo depois da avenida Angelo Calafiori, indo em direção à Lagoinha. Touro afirma que ele e F.. estiveram em um hotel e depois, a pé, teriam subido pela avenda Angelo Calafiori.
Em local que descreve como próximo da Igreja da Abadia, teriam abordado o veículo estacionado. Touro afirma que até então não tinha percebido que F. estava armada. Segundo ele, o revólver utilizado era dela. Essa versão, no entanto, caiu por terra, conforme explica o delegado Osmar Patti. "A arma era mesmo do Touro", argumenta.
Outro ponto considerado obscuro se refere ao desfecho do crime. No inquérito Touro afirmou que F. reconheceu Rosely e disse que queria apenas assustá-la para vingar uma "bronca" anterior.
No entanto, em sua ficha policial, ficou constatado que Touro "gosta muito de aparelhos de som e cds". Nesse caso, trabalha-se com a hipótese de que vendo o carro parado, ele teria decidido quebrar o vidro, conforme quebrou para furtar e por causa dos vidros escuros do veículo não teria percebido a presença do casal no seu interior. Por serem reconhecidos, aí sim, teriam determinado que Maiky e Rosely passassem para o banco de trás, e sob ameaça do revólver Touro tomou a direção e F. seguiu a seu lado em direção a BR 265.
Disse que um pneu teria furado ainda na área urbana, mas somente ao entrar na estrada vicinal decidiu trocá-lo. Ao retornar ao carro Maiky teria reagido. Nesse momento, conforme disse ao delegado Patti, foi quando, então, tomou o a arma da menor que ficara vigiando o casal refém, e fez dois disparos no bioquímico.
Contou que em seguida, a menor F.. também teria executado a mulher, com três tiros , por ela terem lhes reconhecido.
A Polícia acredita que a dupla tentou ocultar o corpo mas não conseguiu. O veículo foi encontrado por um produtor rural, caído em um mataburro.
Os objetos desaparecidos do interior do veículo até o fechamento desta edição, ainda não haviam sido localizados.
Os acusados, depois do crime disseram que voltaram para casa, tomaram um banho e em seguida se dirigiram para Altinópolis, onde se hospedaram na casa de um tio de Touro.
Foram localizados na manhã de terça-feira,30, quando trabalhavam na colheita de café. Depois de localizados, Alexandre e a menor foram levados ao local do crime. O objetivo era localizar as chaves do veículo e o aparelho celular de Maiky, que estavam desaparecidos.
Quanto ao revólver Taurus, calibre 32, em seu depoimento a princípio chegou dizer que desconhecia o paradeiro, no entanto, depois Touro resolveu entregar arma que foi encontrada pelos policiais.
Alexandre "Touro" e a F.D.L. pouco esclarecem na coletiva
Em concorrida entrevista coletiva na sede da 48ª DRSP, o delegado Rogério Assis de Mello Franco Araújo destacou que "infelizmente houve mais um crime em Paraíso, mas que não poderia ficar sem resposta". O regional reforçou o empenho do efetivo e elogiou a atuação das equipes no trabalho de averiguação das informações que foram trilhadas. "Pelos resultados quase que imediatos, quero parabenizá-los (os policiais) e dizer que a Delegacia Regional foi criada para cumprir seu propósito e objetivo de atuar em favor dos reclames da população".
Em seguida, Rogério Araújo apresentou Alexandre "Touro" e a menor N.D.L, acusados da autoria do duplo homicídio.
Os dois foram presos no município de Altinópolis-SP e recambiados a São Sebastião do Paraíso na terça-feira, 30 quando prestaram depoimento na delegacia ao delegado Osmar Patti, do setor de Crime contra a Vida.
Questionados por repórteres, Touro e F.. pouco esclareceram sobre o crime. À quase todas as perguntas foram enfáticos e irônicos em dizer que nada tinham a declarar. Toda a história levantada pela polícia foi recapitulada, embora em nenhum momento Alexandre assumiu diretamente a autoria do crime durante a entrevista.
A menor seguiu o mesmo caminho e postura. Disse apenas que comprou arma em Ribeirão Preto, SP. Falou que estava arrependida.. Depois sem maiores detalhes, deixou que lhe fosse atribuída a acusação e por alguns instantes mostrou-se assustada, para em seguida rir diante de um questionamento da reportagem.
Crime assumido
Alexandre e a menor F.D. foram frios nas poucas palavras que disseram. O acusado negou que faça uso de droga e informou ter passagem pela polícia. O fato foi confirmado pelo delegado Marcus Roberto Piedade. "Já estávamos de olho nele". Há suspeitas de que Touro tenha promovido derrame de notas falsas em Paraíso. Segundo informações em Altinópolis - está sendo processado por esse motivo. Consta ainda que foi preso por furto de moto e também lhe é atribuído o furto de um automóvel há alguns meses..
Por sua vez, a menor confirmou ter "bronca" da vítima Rosely). Entretanto não revelou o motivo. Questionada acrescentou, que "tem muita gente na cidade que não gosta de mim, pelo meu jeito de ser e por isto ando armada para me defender".
Na saída da Delegacia, por três vezes proferiu: "matei, matei e matei mesmo". A fala foi captada pelo celular do repórter Ademir Santos que fazia cobertura ao vivo para emissora de rádio Ouro Verde.
O delegado Osmar Patti Magalhães lamentou a situação "terrível de segurança pela qual passa o País". Tranqüilo, acentuou que a apresentação dos acusados é de fato uma resposta imediata do trabalho da polícia e que cabe agora a justiça aplicar a lei. "A prisão preventiva dos acusados foi pedida sob acusação de latrocínio", explicou. A pena para quem foi condenado neste tipo de crime varia de 20 a 30 anos de reclusão. A menor ficará sob custódia por 45 dias, e a expectativa é que venha a ser internada em uma casa de recuperação.
Para a Polícia, seu comportamento tem desvios de personalidade e F... precisa ser tratada para recuperar a conduta. Uma terceira pessoa está sendo investigada, mas a participação não ficou evidenciada, uma vez que os acusados assumiram a autoria do crime. Há informação de que o carro em que estava Maiky e Rosely foi seguido durante o trajeto quando voltavam da festa. Este fato, aliado com as possíveis ameaças que estariam recebendo a vítima, abrem uma linha de raciocínio de que a execução possa ter sido encomendada. Entretanto, sem outras provas, a Polícia espera ter concluído as investigações sobre o duplo homicídio.
Além dos militares que fizeram a ocorrência, atuaram no caso os civis: Hideraldo, José Augusto, Tiãozinho, Mauro, Rodney, José Maria, Juliano, Régis (de Cássia), e escrivão Ricardo, comandados pelo delegado Osmar Patti. Também participou da operação, o delegado Dermeval de Castro Patti, com supervisão do regional Rogério Araújo.