Ciclistas na calçada, problema continua sem solução

Por: Redação | Categoria: Arquivo | 17-11-2002 00:00 | 43396
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Na última década vem aumentando consideravelmente o número de ciclistas que invadem a calçada e pegam "carona" nas traseiras de carros e caminhões. Tal comportamento deste grupo, vem desagradando a maior parte da população paraisense, que espera por mudanças. Procurados pela redação do Jornal do Sudoeste, representantes da Guarda Municipal, da Câmara dos Vereadores e da Prefeitura comentam o problema e apontam erros e soluções.
Para a comandante da Guarda Feminina Municipal, Norma da Silva Machado, falta respeito dos ciclistas para com a população. "Nós falamos, pedimos, mas alguns fingem que não ouvem, outros dão respostas mal-educadas, mas a maioria desce da calçada e sobe dois metros a frente," afirma.
Entre as possíveis soluções para o problema, Machado aponta a conscientização a partir da quinta série do ensino fundamental, abrangendo até o último ano do ensino médio, além da aplicação de multas. "É só mexendo no bolso que os ciclistas irão sentir e realmente mudar de modos. Parece que essa maneira de andar, desrespeitando quem está nas calçadas, vem da formação familiar, da consciência. Em outras cidades, como Mogi Mirim, eles até descem da bicicleta quando chegam na praça," exemplifica. 
Afirmando que a única medida que as guardas podem tomar é insistir na conscientização, a comandante reitera que faz o possível. "Entre 1988 e 1990, nós apreendíamos as bicicletas, mas com a gestão municipal 93/96, houve a paralisação deste serviço, e desde então, nenhum prefeito demonstrou interesse em continuar com esse trabalho. Este ano, já enviamos uma solicitação para a Prefeitura, pedindo que fossem colocadas correntes ou grandes vasos de plantas nas entradas da Praça da Matriz, o que impediria a passagem de carros pelo calçadão, mas até hoje não obtivemos resposta," comunica.
Machado salienta ainda que falta conscientização familiar e escolar. Sobre isso, a vice-diretora da Escola Municipal Campos do Amaral, Marilourdes Cristina de Oliveira Barbosa, afirma que é feito um grande trabalho de conscientização com os alunos de primeira a quarta série. "A dificuldade maior é com os adultos, não tanto com as crianças. Particularmente, acho que elas entendem mais do que os adultos, principalmente os jovens. Os adolescentes se arriscam mais, sabem que está errado e mesmo assim sobem nas calçadas com suas bicicletas, já os menores quase não agem assim e estamos sempre ensinando a importância da cidadania para elas," opina. 
Sobre isso, o vereador Antônio Pavan Capatti (Tito), afirma não acreditar. "Acho que as crianças que foram bem conscientizadas de primeira a quarta série não esquecem o que aprenderam quando passam para a quinta", ressalta. Para Capatti, os motivos para essa confusão no trânsito paraisense é a falta de formação cultural.
O vereador aponta que a solução mais viável para os problemas de trânsito ocasionados pelos ciclistas que invadem passeios e não respeitam sinalizações, seria o emplacamento do meio de transporte, que seriam fiscalizados pela Guarda Municipal em parceria com a Polícia Militar, através de um convênio firmado com a Prefeitura. "Desta forma, tudo se tornaria mais seguro e prático, ao invés de apreender bicicletas, que a propósito, nem teriam espaço para ser armazenadas, mas eu acho que atualmente a solução seria aumentar o efetivo para fiscalização" opina.
Porém, há algumas razões que expõe para esse convênio não funcionar na cidade. "Primeiramente, seria necessário um maior contigente de oficiais, uma sede para esse grupo responsável, além de toda a burocracia da execução da lei, que inclui tempo para conscientização e principalmente a falta de recursos financeiros da gestão municipal para esse projeto," observa o vereador, presidente da Câmara Municipal.

Lei regulamenta emplacamento 

No município de São Sebastião do Paraíso há a lei de número 2486 de 03/04/97 que dispõe sobre emplacamento obrigatório de bicicletas e ciclomotores além de outras providências visando a harmonia no trânsito da cidade. "Essa lei foi um projeto do vereador Arley Preto Gomes, intitulada José Quezquez devido a sugestão para o emplacamento de bicicleta que ele mandou à Câmara através de uma carta. Nós temos casos na cidade, de pessoas que foram atropeladas por uma bicicleta na calçada e ficaram paraplégicas. Um dos pontos mais importantes dessa lei, seria o repasse do dinheiro arrecadado com as multas para o Fundo Municipal da Criança e Adolescente, que é viabilizado pelo Conselho Tutelar," explica a vereadora Maria Aparecida Pimenta (Cida).
Pelo projeto, as bicicletas seguiriam mão e contramão, como os carros. "Não haveria aquele problema do carro estar virando e dar de frente com uma bicicleta, e o motorista do carro ser culpado. Acho que a maior dificuldade para estar executando essa lei que foi sancionada na minha gestão depois de sofrer vetos do prefeito da época, seria o desgaste que traria para a imagem da prefeita, já que grande parte da população ainda não está conscientizada sobre a importância dessa lei," salienta. 
"Uma mãe por exemplo, ficaria magoada com a Prefeitura, ao ver o filho obrigado a pagar uma multa por ter subido na calçada de bicicleta, ao invés de repreender o filho e ficar contente por ele não ter machucado ninguém," exemplifica.
Para a vereadora, depois que a lei estiver sendo executada, a população irá perceber que é para seu próprio bem. "A administração precisa colocá-la em prática, porque trará mais confiança para os pedestres e ciclistas," comenta. Cida acrescenta ainda que não é muito difícil aplicar um projeto como esse, "basta apenas ter coragem, paciência e realizar um trabalho de conscientização", arremata.
Segundo o secretário especial da Prefeitura, Antônio Carlos Arantes, a questão é mais de cunho financeiro e cultural "A Prefeitura tem que cuidar desta questão das bicicletas, enquanto o estado cuida da parte dos carros. Mas, não existe essa cultura no Brasil. Então não é tão simples assim, precisa haver uma discussão muito ampla na comunidade. 
Conforme afirma Arantes, é mais fácil conscientizar do que aplicar multas. "Você conhece uma cidade que tem bicicleta emplacada? É muito mais uma questão de educação, de conscientizar a população. Vale a pena voltar a discussão da questão porque o problema é sério, mas também temos problemas financeiros e nós já temos um custo muito grande com pessoal," concluiu.
Elezângela de Oliveira